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Abertura dos arquivos do Vaticano ajudará esclarecer antiga controvérsia

O papa Pio XII colaborou mesmo com os nazistas durante a Segunda Guerra?

Arquivos do Vaticano: documentos secretos foram mostrados à imprensa antes de abertura nesta segunda-feira (Guglielmo Mangiapane/Reuters)

Arquivos do Vaticano: documentos secretos foram mostrados à imprensa antes de abertura nesta segunda-feira (Guglielmo Mangiapane/Reuters)

Victor Sena

Victor Sena

Publicado em 2 de março de 2020 às 07h27.

Última atualização em 2 de março de 2020 às 07h31.

São Paulo — O Vaticano enfim permitirá a revelação sobre um período bastante delicado de sua história: a relação da Santa Sé com o regime nazista durante a Segunda Guerra Mundial. Nesta segunda-feira, 2, os arquivos do pontificado de Pio XII (1939-1958) serão finalmente abertos para consulta.

A decisão de liberar os documentos havia sido anunciada pelo papa Francisco no começo do ano passado. Cerca de 200 especialistas já se registraram para analisar 16 milhões de páginas de encíclicas, decretos e correspondências pessoais e diplomáticas. Todo esse inventário foi organizado durante 14 anos por arquivistas do Vaticano.

Pio XII é acusado de fazer vista grossa ao extermínio de seis milhões de judeus no Holocausto. Sobre esse trágico período, o Vaticano já publicou uma vasta documentação há 40 anos, em 11 volumes compilados. De acordo com historiadores, no entanto, faltam peças, especialmente respostas do papa.

"Quando o papa recebe um documento sobre os campos de concentração (informação revelada nos volumes compilados), não temos a resposta. Ou ela não existe ou está no Vaticano", disse o historiador alemão Hubert Wolf à AFP.

Wolf será um dos especialistas dedicados ao estudo dos documentos agora liberados, juntamente com uma equipe formada por seis assistentes. Ele está bastante animado com as revelações que podem vir de documentos relativos a uma "secretaria privada" do papa e as notas escritas por 70 embaixadores do Vaticano no exterior, além de pedidos de ajuda de organizações judaicas e mensagens trocadas com o então presidente dos Estados Unidos, Franklin Roosevelt.

O italiano Eugenio Pacelli, o Pio XII, viveu na Alemanha entre 1917 e 1929 como embaixador da Santa Sé, até voltar a Roma como braço direito de seu antecessor, Pio XI, e mais tarde ser eleito papa. Os arquivos já mostraram que o pontífice recebeu alertas sobre o extermínio de judeus na Europa. Para Wolf e outros historiadores, interessa saber em que momento ele teve essa informação.

Defensores alegam que Pio XII ajudou a esconder entre 4 mil e 6 mil judeus em conventos, mosteiros e até em Castel Gandolfo, a residência de verão dos papas. Em 24 de dezembro de 1942, durante sua mensagem de Natal, ele também teria mencionado "centenas de milhares de pessoas que, sem nenhuma culpa, e às vezes pelo único motivo de sua nacionalidade ou raça, são condenadas à morte ou ao extermínio progressivo". Mas não citou as palavras “nazista” ou “judeu”. Em breve saberemos a razão.

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