Abaporu: quadro símbolo do Movimento Antropofágico está estimado em cerca de 40 milhões de dólares e é uma das obras-primas de Tarsila do Amaral (Wikiart/Reprodução)
AFP
Publicado em 7 de junho de 2019 às 14h54.
No ano de 1995, o empresário e colecionador de arte Eduardo Constantini não hesitou em desembolsar US$ 1,3 milhão — um recorde para a época — para arrematar "Abaporu", um ícone do modernismo, considerado a maior obra de arte do Brasil.
Hoje ele garante que nunca venderá o quadro, símbolo do Movimento Antropofágico, estimado em cerca de 40 milhões de dólares, peça mais significativa do Museu de Arte Latino-americana de Buenos Aires (Malba), fundado por ele em 2001, em meio ao colapso da economia da Argentina.
O colecionador de 72 anos está acostumado a pagar milhões pelas obras-primas que deseja integrar ao acervo do Malba, para o qual doou todas as obras, cerca de 300, que tinha na época de sua fundação, bem como à coleção particular que reiniciou dois anos depois.
Por telefone, não hesitou em oferecer um lance de US$ 3,13 milhões por uma das peças mais importantes da artista espanhola-mexicana Remedios Varo e arrematou a joia do último leilão de arte latino-americano na Christie's de Nova York.
Hoje, o Malba, com cerca de 800 obras, "sem sombra de dúvida tem a melhor coleção de arte latino-americana em exibição, comparável talvez ao Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA)", diz Costantini à AFP em uma longa entrevista em seu hotel nova-iorquino.
Para ele, colecionar é uma paixão há 40 anos, e foi o que lhe deu "a possibilidade de criar o Malba, de dar uma dimensão social pública a um projeto pessoal", reflete o bem-sucedido empresário, que foi corretor da bolsa, banqueiro, executivo financeiro e hoje desenvolve grandes projetos imobiliários na Argentina, Uruguai e Miami.
Desde que entrou para o mundo da arte, na casa dos 20 anos, ao comprar dois quadros em parcelas em uma galeria, Costantini, que segundo a Forbes tem um patrimônio de 1,2 bilhão de dólares, sempre está à espreita das obras superlativas dos melhores artistas da região, como "Simpatía (La rabia del gato)", que integrará a exposição sobre Remedios Varo que o Malba prepara para março de 2020.
Em 1995, este filho de um imigrante italiano que chegou a Buenos Aires no começo do século 20 pagou um recorde de 3,2 milhões de dólares por "Autorretrato con chango y loro" (1942) da mexicana Frida Kahlo.
Mas o dinheiro não deu para comprar o espetacular "Baile de Tehuantepec" (1928), do compatriota e companheiro de Frida, Diego Rivera, ambos de propriedade da IBM e arrematados pela Phillips.
Ficou com um nó na garganta e quando a tela ressurgiu 21 anos depois, em 2016, pagou por ela o que nunca ninguém tinha desembolsado por uma obra de arte latino-americana, "pouco mais de 16 milhões" de dólares. O recorde anterior de Rivera, de 1995, era de pouco mais de 3 milhões de dólares.
Agora, Frida e Diego "estão juntos, o casamento feliz no Malba", diz, sorrindo.
Ele conta ter batido recordes seguidos por obras dos brasileiros Tarsila do Amaral e Emiliano Di Cavalcanti, do uruguaio Joaquín Torres García e da mexicana Frida Kahlo.
Mas esclarece que os recordes se devem a pinturas excepcionais, que "demonstram a qualidade da obra que o Malba tem".
O recorde atual por uma tela latino-americana é do MoMA, que segundo Costantini pagou em fevereiro 18 milhões de dólares a um colecionador privado por "A lua" (1928), de Tarsila do Amaral, um investimento "de enorme importância".
Consultado pela AFP, o MoMA disse que não revela o preço de suas aquisições.
Costantini destaca que as obras latino-americanas têm cada vez mais visibilidade em grandes museus, e descreve de memória as salas do MoMA, onde "A lua" está ao lado de "La persistencia de la memoria", de Dalí, um grande Picasso, e obras de Frida, Lygia Clark e Alejandro Otero.
Ele comemora que museus europeus, como a Tate Modern de Londres, o Reina Sofía de Madri e o Pompidou de Paris tenham programas de aquisições de arte latino-americana, e acredita que o valor das obras da região continuará crescendo.