O poeta argumenta que a cultura brasileira ''deve acompanhar o desenvolvimento industrial e econômico'' de seu país (Ralph Orlowski/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 26 de abril de 2012 às 21h38.
Bogotá - O poeta brasileiro Affonso Romano de Sant''Anna, em entrevista à Agência Efe, admitiu nesta quinta-feira que lê poetas bons e ruins, já que estes últimos também ''podem nos ensinar como não escrever poesia''.
Romano é um dos quase 50 escritores, poetas e dramaturgos brasileiros que participam da Feira Internacional do Livro de Bogotá (Filbo), onde o Brasil aparece como o convidado de honra deste ano.
O autor de ''Poemas Para a Amiga'', ''O Corpo Exige'' e ''Como se Faz Literatura'' e de ensaios como ''Sobre a atual vergonha de ser Brasileiro'', Romano defendeu que a poesia, boa e má, está em toda a parte.
''Não há cultura sem poesia'', afirmou o poeta brasileiro, que ressaltou que ''até mesmo os iletrados e analfabetos possuem poesia''. Segundo Romano, ''há multiplicação de poetas e poesia por todas as partes'', o que significa que esta arte é uma ''função da mente humana'' e tão importante como ''um bem material''.
Em seu caso, refletiu: ''Não sei exatamente se sou ensaísta ou jornalista (...) poderia dizer que basicamente sou um poeta e sabe que a poesia está na base de tudo o que faz'', inclusive ''nos ensaios da administração pública''.
O autor de ''Morte do amor'' e ''Fascinação'' recomendou aos poetas jovens o desafio de ''descobrir qual é sua verdadeira voz''.
''Um artista quando começa cantar imita a voz de outro artista mais famoso. A tendência de um escritor e de um artista é imitar a escritura de um mestre. Isto é muito fácil. Um pode fazer paráfrases, outro pode fazer paródia, mas o mais difícil é saber qual é ''sua verdadeira voz''''.
Segundo o poeta, esse é ''um exercício literário e também existencial'', já que permite configurar ''sua maneira de ver o mundo'' e emitir ''uma mensagem muito própria e particular''.
Romano lembrou que fez um projeto na Biblioteca Nacional para ''criar uma biblioteca em cada cidade brasileira'' e considerou que ''esse é um sonho de poeta''.
O poeta argumentou que a cultura brasileira ''deve acompanhar o desenvolvimento industrial e econômico'' de seu país.
''A tendência natural dos brasileiros é estar envolvidos em si mesmos. Mas, é necessário iniciar uma política cultural para que as pessoas saiam do país e tenham um diálogo maior com a América Latina e com a Europa'', indicou o poeta, nascido em 1937, em Belo Horizonte.
Desta forma, Romano sugeriu ''aproveitar uma metáfora que os espanhóis criaram e que também é uma realidade urbanística: ''a ideia de uma praça maior'', de entendimento entre Brasil, seus países vizinhos e Europa.
Sobre o atual panorama político, Romano assinalou sem titubear que ''é o mundo ao revés'', ressaltando que ''há uma coisa historicamente muito significativa''.
''No Brasil, a presidente é uma ex-guerrilheira; no Uruguai, um ex-guerrilheiro; na Argentina, a senhora Kirchner e seu marido foram ''montoneiros'', e no Chile, a senhora Bachelet é filha de um general exilado e ela mesma foi exilada'', afirmou o poeta.
''No Paraguai'', prosseguiu, ''há um padre; na Bolívia, um dirigente cocaleiro; na Venezuela, uma aberração: um general de esquerda, e nos Estados Unidos, um negro. Se uma pessoa que morreu há 30 anos ressuscitasse hoje não entenderia nada (...) Esse é o mundo ao revés'', explicou o poeta.
Do ponto de vista antropológico, o poeta brasileiro disse à agência Efe que não tem ''nenhuma dúvida que os homens têm à guerra como amante. ''Os homens amam a guerra'', afirmou Romano, que ainda falou sobre sua teoria da violência como condição humana.
''A guerra é presente na história da humanidade desde os gregos, antes dos gregos e até hoje, com um país militarizado como os Estados Unidos, que é um país muito desenvolvido e que tem o Exército mais potente. A guerra infelizmente pertence ao DNA do ser humano'', assegurou.
''Este Senhor que fez as coisas e que se chama Deus cometeu alguns equívocos quando fez o ser humano. Os homens são um perigo'', ressaltou o poeta que acrescentou: ''os homens são uma ameaça de si mesmos. Os homens são uma tragédia e temos que corrigir esse DNA''.