Apesar de ganhar honras iniciais de críticos influentes, os especialistas dizem que o fracasso de "A Hora Mais Escura" pode ter tanto a ver com o seu estilo quanto com o acalorado debate que provocou (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 22 de fevereiro de 2013 às 13h03.
Los Angeles - Há apenas três meses, "A Hora Mais Escura" parecia um forte candidato para o maior prêmio da indústria do cinema.
Mas quando o Oscar de Melhor Filme for entregue no domingo, o suspense sobre a caçada de uma década e a morte de Osama bin Laden em 2011 pelos EUA não deve ter seu nome gravado na estatueta de ouro cobiçada.
Depois de uma campanha feroz sobre a representação de tortura do filme, que começou em Washington e se estendeu a grupos de direitos humanos, "A Hora Mais Escura" passou de favorito a azarão no Oscar.
Apesar de ganhar honras iniciais de críticos influentes em Nova York, Washington, Boston e Chicago, os especialistas dizem que o fracasso de "A Hora Mais Escura" em ganhar fôlego em Hollywood pode ter tanto a ver com o seu estilo quanto com o acalorado debate que provocou.
"Normalmente, você precisa de algum tipo de elemento que agrada a multidão para ter a chance de ganhar o Oscar de melhor filme, e é isso que (o drama dos reféns no Irã) 'Argo' tem. Ele tem um grande aspecto emocional empolgante que 'A Hora Mais Escura' não tem", disse à Dave Karger, correspondente-chefe do Fandango.com, à Reuters.
"Grosseiramente imprecisso?"
Os primeiros sinais de problemas de "A Hora Mais Escura" vieram em meados de dezembro, quando os senadores norte-americanos Dianne Feinstein, John McCain e Carl Levin enviaram uma carta ao estúdio de cinema Sony Pictures.
Eles chamaram o filme de "grosseiramente impreciso e enganoso" por sugerir que tortura ajudou os Estados Unidos a rastrear o líder da Al Qaeda até um complexo no Paquistão.
Os senadores citaram registros de inteligência divulgados em abril de 2012, que mostraram que isso não era o caso e disseram que o filme "tem o potencial de influenciar a opinião pública norte-americana de uma forma perturbadora e enganosa".
A diretora Kathryn Bigelow e o roteirista Mark Boal afirmaram várias vezes que o filme mostra uma variedade de métodos de inteligência, e nem todos produziram resultados.
Três semanas mais tarde, Bigelow foi omitida da lista de indicados ao Oscar de melhor diretor, escolhida por cerca de 5.800 profissionais da indústria do cinema que compõem a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas.
Bigelow foi apenas uma dos quatro grandes diretores a serem ignorados, e "A Hora Mais Escura" recebeu cinco indicações ao Oscar, incluindo de melhor filme. Mas o crítico de cinema do Los Angeles Times Kenneth Turan estava entre aqueles que apontaram o dedo para Washington.
"Resume-se as nomeações (ao Oscar) deste ano como uma vitória do poder de bullying do Senado dos Estados Unidos e uma derrota desmerecida para Kathryn Bigelow", escreveu Turan em janeiro.
Vítimas dos ataques de 11 de setembro de 2001, ordenados por Bin Laden, expressaram o seu apoio, assim como o Secretário de Defesa dos EUA de saída, Leon Panetta, que chamou de "um grande filme".
Steve Elzer, porta-voz da Columbia Pictures, unidade da Sony Pictures por trás do filme, disse que o estúdio estava muito orgulhoso do filme, dizendo que havia gerado "um debate nacional incrível".
Apesar do furor e de pequenos protestos de ativistas de direitos humanos em algumas cerimônias de premiação, "A Hora Mais Escura" ganhou ótimas críticas e arrecadou mais de 100 milhões de dólares nas bilheterias do mundo todo, a maior parte na América do Norte.