Cinema Alex Theater, em Glendale Califónia: cinemas esperam por reabertura (Kate Warren/The New York Times)
Guilherme Dearo
Publicado em 18 de maio de 2020 às 07h00.
Última atualização em 18 de maio de 2020 às 07h00.
Los Angeles – Elas sobreviveram à Grande Depressão, quando os ingressos custavam dez centavos. Nem terremotos nem desenvolvedores gananciosos foram capazes de derrubá-las. Ao longo das décadas, suportaram a ascensão do videocassete e a indignidade de exibir "Cats".
Mas a pandemia do coronavírus – até agora – provou ser mais forte que as salas de cinema restantes de Los Angeles, onde pelo menos uma delas, o Chinese Theater, de 93 anos, com suas colunas vermelhas imponentes e seu chamativo pagode de cobre, é um símbolo global de Hollywood.
Todos os cinemas estão fechados há mais de um mês, com apenas palpites (junho? julho? agosto?) sobre quando os projetores poderão começar a funcionar de novo.
Hollywood ainda acredita na magia de ver filmes no escuro com estranhos. "A experiência comum faz parte de quem somos como seres humanos. É primitivo. E as pessoas vão sair dessa apreciando mais tudo isso. Tenho certeza", disse Thomas E. Rothman, presidente da divisão de filmes da Sony.
Veremos.
Enquanto isso, os cinemas vintage de Los Angeles – monumentos ao romantismo dos filmes – aguardam seu destino em silêncio. Alguns são sobreviventes de crises passadas, tendo se voltado para a música ao vivo para pagar as contas quando não conseguiam isso com filmes. Outros parecem frágeis, acabrunhados em face da ameaça invisível. Há também os desafiadores: Venha! Tente me prejudicar.
Um vagabundo (Charlie Chaplin) se apaixonou por uma florista cega (Virginia Cherrill) na noite em que o Los Angeles Theater foi inaugurado em 1931. Sediar a estreia de "Luzes da Cidade" foi apropriado para a sala, projetada para exalar sofisticação: arquitetura barroca francesa, lobby espelhado lembrando Versalhes, luzes de neon azuis no piso. O cinema, como o Orpheum lá perto, que tem uma fachada Beaux-Arts, ainda exibe filmes ocasionalmente, mas se tornou principalmente um local de shows.
Construído em 1963 – quando os proprietários de salas de cinema temiam que estas se tornassem irrelevantes por causa da televisão –, o Cinerama Dome, de 800 lugares, tem uma tela curva de 26 metros de comprimento, o suficiente para preencher sua visão periférica. A sala, na Sunset Boulevard, o coração de Hollywood, é geralmente uma loucura. Oferece estreias com tapete vermelho e é especializada em grandes sucessos.
O pobre Wiltern teve uma vida mais difícil. Foi aberto aos cinéfilos em 1931 como Warner Bros. Western Theater, e passou seus primeiros anos como um cartão-postal de Hollywood: Clark Gable e Joan Crawford chegando para estreias, luzes dos holofotes cortando o céu. Mas seus novos proprietários – que mudaram seu nome para Wiltern, por causa das ruas em que se localiza (Wilshire e Western, no que é hoje Koreatown) – não conseguiram manter sua fachada verde-azul e o ornamentado interior Art Déco.
Ele quase foi demolido duas vezes na década de 1970, reformado na de 1980 e agora apresenta shows de bandas de indie rock.
O extinto Crest – o Majestic Crest, como era formalmente chamado – assombra Westwood Village, quase como uma cena de um filme noir. Não está vivo, mas também não está completamente morto. Parece esperar alguém voltar no tempo. A Universidade da Califórnia, em Los Angeles, comprou o Crest, de 79 anos, em 2018 com financiamento de Susan Bay Nimoy, em homenagem ao seu marido, o ator Leonard Nimoy, que morreu em 2015. A universidade espera reabrir a sala em 2022 como espaço de artes cênicas.
Ao longo da famosa Sunset Strip, a marquise do clube de música Roxy pegou emprestada uma ideia do cinema. "Touch-A, Touch-A, Touch Me", como Susan Sarandon canta em "The Rocky Horror Picture Show" (1975), foi reescrita para a era do coronavírus.
Trabalhos semelhantes nas marquises de outros cinemas incluem "Contatos Imediatos de Nenhum Grau" e "Vamos Precisar de um Barco mMaior".
Quentin Tarantino comprou o Beverly em 2007 para salvá-lo da demolição. Desde então, o cinema de 225 lugares se tornou um centro essencial para os cinéfilos, exibindo clássicos – "O Último Chá do General Yen", com Barbara Stanwyck, de 1933, passou recentemente – e novos lançamentos ocasionais. "Era Uma Vez em... Hollywood", de Tarantino, teve 55 exibições consecutivas com ingressos esgotados em meados do ano passado.
Outras máquinas do tempo na área incluem o Fairfax, de 163 lugares, que reabriu em dezembro depois de ficar dois anos fechado; anteriormente, exibia filmes mudos, e seus assentos eram sofás.
Filmes e documentários estrangeiros são especialidades no Music Hall, que trocou de mãos no ano passado. Foi inaugurado em 1937.
Também sentimos sua falta. A carreira de décadas da sala Hayworth como cinema terminou em 1985, quando exibia clássicos. "A exibição de filmes antigos na televisão me matou", disse o dono na época, Tom Cooper, ao "Los Angeles Times". Com o nome de Rita Hayworth, o local sediou uma igreja evangélica por um tempo. Mais recentemente, virou clube de comédia.
Assim, temos a grande dama dos cinemas de Los Angeles, a sala TCL Chinese Theater Imax (para usar seu nome formal, decididamente pouco glamoroso, nascido de um negócio de marca). Os turistas normalmente entopem seu pátio, onde as impressões das mãos de lendas de Hollywood são preservadas em concreto.
O Chinese, de 932 lugares, que abriu em 1927 com "Rei dos Reis", de Cecil B. DeMille, continua sendo o principal local de estreias de Hollywood. É onde os fãs de "Star Wars" acampam durante a noite toda vez que um novo episódio chega. É onde modelos de biquíni dançavam em cima dos carros mostrando a chegada de "Velozes & Furiosos 7".
É onde, por mais de nove décadas, os filmes entretêm, educam e inspiram. E onde, algum dia, farão isso novamente.