'Cinema as a service': Marcelo Galvão quer mudar a forma como os filmes arrecadam investimento (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter de POP
Publicado em 19 de fevereiro de 2025 às 10h39.
Última atualização em 19 de fevereiro de 2025 às 13h47.
Quem vai ao cinema no fim de semana e assiste ao filme da vez talvez não saiba o tamanho do investimento necessário para que um roteiro chegue às telonas. O orçamento de um blockbuster passa a marca dos US$ 100 milhões com frequência, e o resto da indústria cinematográfica fora de Hollywood patina na arrecadação de fundos.
Mas essa é uma dor que Marcelo Galvão, cineasta brasileiro, quer resolver para tirar seu próximo projeto do papel.
Diretor de "Colegas" (2012), comédia brasileira com arrecadação de US$ 852 mil em bilheteria, e outros sucessos — "O Matador" (2017), primeiro original Netflix brasileiro, e "A Despedida" (2014) entre eles —, Galvão tem feito barulho "na gringa" em busca de investimentos para custear seus filmes. Com a prévia experiência nos Estados Unidos que adquiriu no lançamento de "Forth Grade" (2021), protagonizado por William Baldwin, Ben Begley, Boti Bliss e Teri Polo, ele criou um modelo de negócios que visa a experiência do investidor nos bastidores do filme como principal atrativo.
A ideia é que o investimento seja totalmente recuperado em até 18 meses, acrescidos de uma taxa de lucro acima do CDI. Só depois que o valor for pago o resto da produção começa a lucrar com o projeto.
O primeiro a apostar no negócio foi Giordano Biagi, que atuou como sócio do cineasta brasileiro, foi creditado como produtor executivo e financiou a maior parte do longa americano, filmado em oito dias. O orçamento de "Fourth Grade"foi 90% financiado por Biangi. Entre outras experiências, ele participou da primeira exibição do filme no Festival de Cinema de Cannes.
"Minha ideia principal para financiar o próximo projeto é criar uma experiência na qual o investidor possa fazer parte dos bastidores, que participe de todas as etapas ali dentro, já com um roteiro fechado que tem pouca margem para dar errado", contou Galvão à EXAME Casual. "É uma maneira de tirar o projeto do papel, porque é difícil você procurar investidor a partir do momento que você não é um nome conhecido ainda. Lá fora, você não tem as leis [de incentivo], não tem edital, não tem nada para poder te dar suporte. Então, você tem que convencer um cara."
Entre as várias maneiras de chamar atenção dos investidores, conta o cineasta, está a escolha do elenco. "Muitas vezes você convence através de um 'A-list actor', um Brad Pitt, por exemplo. A partir daí, as portas se abrem. Mas até você fazer o Brad Pitt ler o seu o roteiro é difícil demais e já envolve um dinheiro que muitas vezes ainda não existe. Na ideia que vendo, além de tudo, o investidor já sai com retorno financeiro garantido."
O próximo projeto de Galvão é um thriller de ação e suspense, sobre uma família afrodescendente que procura refúgio em uma fazenda isolada durante uma tempestade. Eles de repente precisam seguir regras estranhas para sobreviver — até perceberem que sair dali não é mais uma opção. O filme terá produção feita no Brasil — uma forma de reduzir os custos, ainda que, no fim, o longa seja norte-americano. A atriz de maior destaque pode ser Kathleen Turner (Corpos Ardentes), ainda sem confirmação.
Para colocar a experiência em prática mais uma vez, o cineasta pretende vender o "Wolf Experience", "a possibilidade de fazer parte de um longa-metragem americano rodado no Brasil de maneira única e exclusiva" em troca do financiamento parcial da produção cinematográfica.
"Nesse pacote, a ideia é vender um acesso ilimitado ao set de filmagem, com um fotógrafo profissional que vai registrar a experiência para esse investidor. O contato com o elenco será exclusivo, essa pessoa participará de todos os eventos de divulgação do filme, terá contato com tecnologia de ponta e até aparecer no filme como figurante, se ele assim desejar", complementa Galvão.
O nome do financiador aparece nos créditos como "produtor executivo", assim como em todos os materiais de marketing e promoção. No fim do processo, Galvão entregará ainda um livro de arte personalizado, em capa dura, assinado pelos atores e diretor, com as fotos do investidor no set de filmagem e em demais momentos de bastidores.
"O retorno financeiro também é garantido, porque antes de qualquer lucro dos produtores, a primeira receita gerada nos cinemas, no streaming ou em qualquer outra venda é utilizada para devolver o investimento, isso acrescido de uma taxa de lucro que é superior ao CDI. É quase como dizer que a experiência sai de graça, porque o resto dos produtores só ganha depois disso", explica o cineasta. O tempo de retorno estimado é de 18 meses.
No caso deste projeto, Marcelo Galvão procura um ou cinco investidores. Se o investimento for único e vindo de uma só pessoa, o projeto sai pelo valor de US$ 750 mil. Se for dividido, cada pessoa investe US$ 150 mil. Para interessados, o e-mail de Galvão é: wolf@wolfinapack.com.