Zuenir Ventura: "eu estou vivendo um momento que ainda não caiu a ficha", disse (Tomaz Silva/Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 30 de outubro de 2014 às 22h32.
Rio de Janeiro - “A ficha ainda não caiu”, disse à Agência Brasil o mais novo imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL), Zuenir Ventura, após ser eleito com 35 votos, em primeiro escrutínio para suceder o poeta e romancista Ariano Suassuna, na Cadeira 32.
“É um privilégio, é uma emoção ser consagrado pelos pares. Eu estou vivendo um momento que ainda não caiu a ficha. Estou meio no ar, dando entrevista e abraçando amigos. Eu acho que a minha ficha vai cair amanhã”, completou.
Zuenir falou ainda que ao ser informado pelo presidente da ABL, que tinha sido eleito, foi como se recebesse uma notícia inesperada.
“E aí foi uma emoção enorme, misturada com alegria, com felicidade. Não me lembro de ter vivido assim tantas emoções positivas juntas na vida profissional. Foi muito legal”.
Para ele, receber 35 dos 37 votos, os outros foram dados para os poetas Thiago de Mello e Olga Savary, representa uma grande responsabilidade por ter a confiança dos acadêmicos e por suceder Ariano Suassuna
.“Eu ofereci a vitória a Zélia, a mulher dele, que foi uma pessoa importantíssima na vida dele. O Ariano em uma entrevista ao jornalista Gerson Camarotti, que era muito amigo dele e meu, disse que há muito tempo não votava, mas que ia votar em mim e que estava muito entusiasmado com a minha candidatura. Nessa noite, ele foi internado e morreu. Claro que eu preferia que ele estivesse aqui e não contando esta história agora. Então, imagina a minha emoção de sucedê-lo, a cadeira dele”, disse.
O novo imortal pretende aproximar a academia da sociedade, por se tratar de um centro cultural com muitas atividades, como palestras abertas ao público.
“Acho que posso contribuir nessa orientação de tornar a academia, cada vez mais, uma instituição da sociedade. Nesse sentido é que espero dar a minha contribuição”, ressaltou acrescentando que a eleição ocorreu no momento certo.
O filho de Zuenir, Mauro Ventura, também jornalista e escritor, disse que ficou emocionado com a eleição do pai.
“Como filho, você tem o reconhecimento porque conhece ele. Mas ver o reconhecimento de fora, dos pares dele, das pessoas que trabalham nessa área terem esse reconhecimento igual ao que você tem, é muito bonito. E ele é muito humilde. Fico muito orgulhoso, e o número de votos foi muito expressivo”, disse.
Mauro contou ainda que o namoro entre o pai e academia era antigo, mas ainda não tinha terminado em casamento.
“Finalmente o noivo subiu ao altar e terminou bem. Já podia ter acontecido antes, mas aconteceu em um bom momento. A votação expressa isso. Veio em um momento perfeito”, ressaltou.
A comemoração foi no apartamento de Gilse e Mauro Campos, um casal de amigos de longa data, na Praia do Flamengo, na zona sul do Rio.
Gilse disse que a festa não poderia ser em outro lugar, afinal, foi ali também que Zuenir recebeu os amigos para o aniversário de 80 anos e as famílias passam o réveillon juntos há 20 anos. Gilse disse ainda que o amigo foi também seu professor no curso de jornalismo.
O deputado Miro Teixeira (PROS), que também trabalhou com Zuenir na revista IstoÉ, disse que os livros de Zuenir mostram a preocupação dele de estar conectado com os fatos da população.
“O Zuenir é um exemplo de jornalista. Trabalha com a verdade, não teme qualquer abordagem de qualquer assunto e absolutamente destemido. Como ele tem o compromisso com a verdade, não teme nada. Isso é muito do jornalista. Você tem a sua excelência o fato, e tem que descrevê-lo bem para os leitores sem se preocupar com quem vai gostar, qual autoridade não vai gostar. É o fato e sempre foi assim. Ele tem história marcante no jornalismo e esse reconhecimento é muito justo”, completou.
Para o antropólogo e cientista político, Luiz Eduardo Soares, Zuenir é a encarnação da democracia no que ela tem de melhor. “Vai ser um momento de vitalidade e de renovação da academia, além de uma homenagem mais do que merecida”, disse.
A atriz Patrícia Pilar também concorda que Zuenir vai provocar discussões interessantes na ABL, e vai aproximar a entidade do público.
“Ele é um cronista interessantérrimo e que percebeu a realidade que a gente vive hoje, da cidade partida. Vai trazer um refresco nas opiniões. Ele fala de uma maneira que todo mundo entende e ao mesmo tempo muito lúcido. Essa mistura é leve e é boa para gente. Essa leveza une e agrega, é o que eu espero”.
Na avaliação da acadêmica Rosiska Darcy de Oliveira, o novo colega é um grande brasileiro e cidadão, e representa um enriquecimento para os integrantes da academia.
“Um acadêmico com o perfil como o dele representa um ar fresco que circula. Representa ideias novas. Ele sempre foi um condutor de ideias novas. Um homem de posições admiráveis. E ainda diria que representa a entrada de um amigo muito querido, que foi o meu primeiro chefe como jornalista na revista Visão e por quem tenho um afeto há muitos anos”.
O cineasta Zelito Viana disse que estava feliz pelo amigo. Quando o poeta e escritor Ferreira Gullar foi eleito no dia 9 deste mês, Zelito disse à Agência Brasil que Zuenir também deveria ser eleito e foi o que acabou ocorrendo.
“A academia está melhorando. Os meus amigos estão entrando. Daqui a pouco sou eu. Pode ser, mas eu não sou candidato não”, acrescentou sorrindo.
De acordo com Zelito, o amigo é uma pessoa ímpar, superagradável.
“Eu digo sempre que ele é do conjunto dos santos. Tem gente que nasceu santo. Zuenir é uma unanimidade. Ele vai arejar a academia. Vai ser muito bom. Eu estou animado e satisfeito com isso, com Evaldo [Cabral de Mello eleito para a cadeira que era ocupada por João Ubaldo Ribeiro], com Gullar, com Zuenir. Pena que na vaga de gente como João Ubaldo e Ariano Suassuna. Pena que não está todo mundo junto na academia”, disse.