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A Copa do Mundo de futebol feminino que ninguém sabe que aconteceu

O documentário “A Copa 1971”, produzido pela tenista Serena Williams, na Netflix, mostra a luta histórica das mulheres pelo direito de jogar futebol

Cena do documentário Copa 71: história pouca conhecida até agora (Netflix/Divulgação)

Cena do documentário Copa 71: história pouca conhecida até agora (Netflix/Divulgação)

Ivan Padilla
Ivan Padilla

Editor de Casual e Especiais

Publicado em 25 de maio de 2024 às 08h00.

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A jogadora americana de futebol Brandi Chastain, duas vezes campeã do mundo, aparece vendo imagens de um jogo em um iPad. “O que é isso, um jogo de futebol masculino”, pergunta. Depois ela percebe que se trata de uma partida entre mulheres. Até que a narração informa que se trata de cenas da primeira Copa do Mundo feminina, realizada em 1971.

“Como eu nunca soube disso? Isso me deixa muito feliz. Mas ao mesmo tempo furiosa. Estou sem palavras”, diz Chastain, consternada. A ex-jogadora considerava, assim como a grande maioria das pessoas, homens e mulheres, que a primeira Copa do Mundo de futebol feminino havia acontecido duas décadas depois, em 1991.

Dessa forma começa o documentário “A Copa de 1971”, uma produção das tenistas Venus e Serena Williams. O filme acaba de entrar na programação da Netflix. “Ninguém sabe que esse Mundial aconteceu. Essas imagens ficaram escondidas por quase 50 anos. E por que isso? Porque em campo estavam mulheres jogando”, narra Serena Williams.

A proibição do futebol para as mulheres

Mais do que a inexplicável história de uma Copa do Mundo que ninguém sabe que aconteceu, nem mesmo no meio do esporte, o documentário da Netflix escancara o preconceito contra as mulheres no futebol ao longo de mais de um século.

Até o início do século 20, o futebol era um esporte praticado por todos. Só na Inglaterra havia quase 100 times de mulheres. Até que nos anos 1920 começaram a ser publicados artigos pouco científicos em revistas científicas dizendo que o futebol, representava um perigo para a saúde das mulheres, por terem ovários e útero.

As federações de diversos países começaram então a proibir as mulheres de jogar. Inclusive no Brasil. Em 1941, o decreto-lei nº 3.199, instituído por Getúlio Vargas, proibiu a prática de esportes considerados "incompatíveis com a natureza feminina", incluindo o futebol. Essa proibição foi mantida até 1979, quando foi finalmente revogada.

Apoio de empresários e da mídia do México

As atletas que participaram daquela primeira Copa do Mundo foram revolucionárias. Nos anos 1960 e 1970, elas jogavam futebol nas escolas e em campos abandonados, na lama enquanto os meninos corriam nos gramados, escondidos dos pais e dos professores.

O documentário mostra o depoimento de jogadoras de seleções como Argentina, Dinamarca e Inglaterra. O Mundial feminino só saiu por interesses empresariais. Em 1970 havia sido realizada a Copa do Mundo do México, a primeira a ser transmitida em cores, um sucesso em todos os sentidos.

Os estádios construídos e reformados então ficaram sem uso, como costuma acontecer. Grupos de empresas e de mídia começaram a pensar em algum evento que pudesse movimentar novamente o mercado mexicano. Um campeonato entre mulheres passou a ser considerado uma opção.

Na Itália, a Martini Rosso havia acabado de realizar um torneio de futebol feminino. A marca de vermute se interessou então em patrocinar o Mundial, um empurrão definitivo para a realização do evento. Algumas federações incipientes foram convidadas a participar.

O documentário é riquíssimo em boas imagens de jogos. O que aconteceu então, em campo e fora dos gramados, no entanto, não é assunto para esta resenha. Assistam ao filme. É uma produção impecável e necessária. E com cenas de primorosas jogadas.

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