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A arte da foice e do martelo sobrevive ao esquecimento

A mesma estética comunista que durante décadas dominou o panorama artístico da Bulgária sobrevive agora resgatada em um museu público do país


	Soldado observa show, com a foice e o martelo ao fundo: cartazes e retratos que museu exibe são exemplos claros da propaganda comunista
 (Feng Li/Getty Images)

Soldado observa show, com a foice e o martelo ao fundo: cartazes e retratos que museu exibe são exemplos claros da propaganda comunista (Feng Li/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 28 de outubro de 2013 às 09h49.

Sófia - A mesma estética comunista que durante décadas dominou o panorama artístico da Bulgária, com suas imagens de camponeses felizes, suas estrelas vermelhas e seus bustos de Lênin, sobrevive agora resgatada em um museu público de Sófia.

"Um lugar onde se recolhem, protegem e mostram obras do período entre 1944 e 1989. Do ponto de vista histórico, nenhum elemento é político", comentou à Agência Efe a diretora do Museu de Arte Socialista, Bisera Yosifova.

Esta galeria foi inaugurada há dois anos como uma filial da Galeria Nacional de Pintura, de cujos porões a própria Yosifova pôde resgatar muitos exemplares abandonados da arte socialista.

Um enorme estrela vermelha de 2,5 metros de diâmetro e 1.200 quilos recebe o visitante no parque que rodeia o museu.

Cópia da estrela que ainda hoje coroa o Kremlin, brilhou até 1989 sobre a Casa do Partido Comunista em pleno centro de Sófia, até que foi arrancada e transferida para fora da cidade poucos dias depois da queda do regime.

No parque que abre esta viagem ao passado descansam agora um busto do revolucionário Ernesto Che Guevara e oito estátuas de Lênin de diferentes tamanhos.

Essas esculturas são algumas das 79 de operários, guerrilheiros e líderes comunistas que o parque abriga, todas elas usadas de diferentes partes do país, salvas de acabar como ferro-velho de cobre e bronze, um fim que sofreram outras muitas esculturas quando caiu a ditadura comunista.

No interior do museu, o camarada Josef Stalin, líder da União Soviética até 1953, domina uma das salas de exposições. Aparece representado em todas as formas e poses: como um gigante dominador, como um mensageiro da paz, votando em uma urna, recebendo flores de crianças ou como chefe militar sorridente.


Os cartazes e retratos que este museu exibe são exemplos claros da propaganda comunista: cenas de operários felizes ou camponeses que sorriem ao camarada soviético que lhes explica como melhorar o cultivo do trigo.

Agricultores com tratores e uma mensagem que lembra que arando no outono a primavera trará uma boa colheita, ou uma imagem fabril com o pedido patriótico mais repetido da época: cumprir o plano quinqüenal de produção em apenas quatro anos.

Mensagens de uma pedagogia infantil, destinados, segundo Yosifova, para que até os analfabetos as entendessem.

"Alguns dos cartazes são obras de grandes pintores búlgaros obrigados a dar sua contribuição a este gênero, às vezes ridículo. Alguns acreditavam nesta filosofia, para outros era uma fonte de renda ou uma forma de demonstrar sua fidelidade à pátria", declarou Yosifova.

As obras não procedem só da Bulgária. Cartazes poloneses, albaneses, húngaros, chineses, norte-coreanos e de outros países irmãos no socialismo também podem ser vistos nas paredes do museu.

Entre os visitantes se destacam os jovens, que não conheceram a vida na Bulgária comunista.

"Têm grande interesse em conhecer de alguma maneira aquele tempo. E os mais velhos chegam para lembrar essa época de sua vida. Mas a maioria são estrangeiros, que nunca tiveram tal sistema de governo e têm muita curiosidade", afirmou Yosifova.

Segundo sua diretora, o museu tenta contextualizar esta arte lembrando que aconteceu em uma época determinada, em circunstâncias muito distintas às atuais e com uma noção estética diferente.

Além disso, lembra a máxima de que quem esquece a história corre o risco de cometer os erros do passado.

Embora a abertura do museu tenha levantado tênues críticas por parte dos partidos de direitas, o assunto não chegou nem sequer a ser debatido no Parlamento do país.

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