Tempestade (Halle Berry) e Wolverine (Hugh Jackman) em X-Men: O Confronto Final (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 7 de junho de 2016 às 21h09.
No dia 10 de setembro de 1963, o primeiro gibi dos X-Men, lançado pela Marvel Comics, chegava às bancas. Logo na capa, ele dizia: "Os super-heróis mais estranhos de todos!"
Criados por Stan Lee e Jack Kirby (1917-1994), os mutantes de fato não eram personagens comuns.
Assim como outros criados naquela época, como Quarteto Fantástico, Homem-Aranha e Vingadores, os X-Men se diferenciavam dos super-heróis de outros gibis por apresentarem falhas e inseguranças. Tocava em temas como alienação e autoaceitação.
Os Estados Unidos, naquele momento histórico, viviam com força a questão dos direitos civis. O Professor Xavier chegou apresentando características semelhantes às de Martin Luther King Jr., enquanto Magneto era mais parecido com Malcolm X – ambos os ativistas estavam envolvidos na luta contra o racismo, mas com pontos de vista distintos sobre objetivos e métodos.
"X-Men fala sobre encontrar alívio entre outros marginalizados", explica em entrevista ao HuffPost Brasil o jornalista Sean Howe, autor do livro Marvel Comics: A História Secreta (Editora LeYa, 2013).
"Diferente dos Vingadores e do Quarteto Fantástico, e certamente da Liga da Justiça, este não era um grupo amado pelo público. X-Men foi, possivelmente, o primeiro quadrinho de super-heróis sobre identidade política."
Mesmo refletindo muitas das ansiedades de seu tempo, o título da Marvel derrapou nas vendas. "Não foi até 1975, com a chegada de novos personagens – Wolverine, Colossus, Tempestade e Noturno – que o gibi se tornou um sucesso", diz o jornalista.
O conteúdo, entretanto, permaneceu o mesmo. Em 1982, chegava às bancas mais um clássico: Deus Ama, o Homem Mata. Na graphic novel escrita por Chris Claremont e com arte de Brent Anderson, o televangelista de histórico militar William Stryker persegue mutantes, acusando-os publicamente de serem criaturas odiadas por Deus; capangas de Stryker chegam a assassinar alguns.
Os X-Men e Magneto deixam as diferenças ideológicas de lado para se unirem e impedir o genocídio.
Deus Ama, o Homem Mata inspirou o filme X-Men 2 (2003).
"Estão explícitos na história os paralelos entre o preconceito contra os mutantes e a homofobia e o racismo da vida real", conta Howe. "Muito disso foi reciclado nos filmes."
Apesar de toda opressão e falta de direitos, os x-men, dotados de todas as suas diversidades – sexual, cultural, étnica e por aí vai – decidiram proteger aqueles que mais os odeiam.
Abaixo, alguns exemplos de representações do preconceito contra minorias da vida real no icônico quadrinho:
1 - Tempestade
Considerada uma das primeiras super-heroínas negras, Ororo Munroe é descendente de quenianos. Cresceu praticando roubos no Cairo, onde se tornou líder de uma gangue de outros jovens ladrões. Após ser recrutada pelo Professor Xavier para se juntar aos X-Men, tornou-se uma das principais líderes do grupo e professoras da escola dirigida pelo telepata careca. Sua primeira aparição foi em 1975.
2 - Magneto
O principal antagonista dos X-Men é um judeu sobrevivente do Holocausto. Ele viu sua família ser assassinada no campo de concentração de Auschwitz, onde sobreviveu devido ao surgimento de seus superpoderes – manipulação de magnetismo e criação de campos magnéticos. Para garantir que mutantes não tenham um destino semelhante ao dos judeus nas mãos dos nazistas, Magneto adotou uma filosofia radical de sobrevivência e imposição. Ele crê que os mutantes são uma raça superior aos humanos e não há espaço para ambos no mundo. Para Magneto e a Irmandade dos Mutantes, grupo liderado por ele, os humanos devem dar espaço aos "homo superior" na posição de espécie dominante.
3 - Estrela Polar
O canadense Jean-Paul Beaubier é considerado um dos primeiros super-heróis assumidamente gay dos quadrinhos. Ele saiu do armário em 1992. Vinte anos depois, Estrela Polar protagonizou o primeiro casamento gay dos quadrinhos mainstream. Ele se casou com um humano negro. Outros personagens LGBT de X-Men são Mística, Homem de Gelo e Anole, por exemplo.
4 - Professor Xavier
O líder dos X-Men é o telepata mais poderoso do mundo, além de um dos cientistas mais brilhantes. Xavier acredita que mutantes e humanos podem conviver em paz – é isso o que ele ensina em sua escola, o Instituto Xavier para Jovens Superdotados. Lá, ele ajuda mutantes a controlarem seus poderes e os treina para se tornarem X-Men. Xavier perdeu os movimentos nas pernas quando uma rocha caiu sobre ele, jogada pelo alienígena Lúcifer. Desde então, ele usa uma cadeira de rodas para se locomover, ou uma cadeira flutuante, conhecida nos quadrinhos como "hovercraft".
5 - Noturno
A aparência do teletransportador Kurt Wagner com certeza nunca o ajudou: ele é azul, peludo, tem orelhas pontudas e uma cauda com ponta de flecha. Noturno foi atração de circo por anos antes de se tornar um x-man. Quando a mutante Kitty Pryde se junta ao grupo de mutantes, ela se assusta com a aparência de Noturno e precisa de um tempo até se adaptar a ela. Kurt é católico devoto e um dos personagens mais icônicos e amados dos quadrinhos.
Na imagem, o televangelista William Stryker diz, apontando para o herói: "Humano?! Você ousa chamar aquela coisa de -- humano?!?" É uma cena da história Deus Ama, o Homem Mata.
6 - Colossus
Um vírus chamado "Legado" se espalha entre mutantes e se torna uma verdadeira praga, matando centenas deles. O x-man Colossus tornou-se o principal ícone das histórias relacionadas ao vírus, pois ele morreu para impedir que o Legado se espalhasse ainda mais, injetando em si mesmo uma cura criada pelo Fera. Muitos fãs de X-Men veem o Legado como uma metáfora do HIV, um vírus que também atingiu fortemente uma minoria – os gays – e afeta a produção de células saudáveis para o corpo. Como todo bom x-man, Colossus ressuscitou depois. Além disso, vale dizer que ele é gay no universo paralelo Ultimate, no qual Noturno é homofóbico e faz vários comentários intolerantes sobre o colega.
7 - Morlocks
Os Morlocks são uma comunidade de mutantes que vivem nos esgotos das cidades de Nova York, Nova Jersey e Connecticut. Eles preferem viver escondidos pois se sentem marginalizados em relação aos outros mutantes, por terem deformidades e aparência medonha. Os Morlocks usam este nome em uma referência às criaturas de mesmo nome no livro A Máquina do Tempo (1895), clássico da ficção científica escrito por H.G. Wells.
8 - Vampira
A habilidade de Vampira é absorver, por meio de contato direto com a pele, memórias, características, conhecimentos, força física e poderes de outras pessoas ou mutantes. Por causa disso, ela usa roupas longas e luvas, para impedir seu contato com quem está por perto. Vampira acha que seu superpoder é uma maldição. Ela só conseguiu controlá-lo com a ajuda do Professor Xavier, após descobrir que sua mutação não evoluiu além do estágio em que se manifestou. O Professor retirou da mente de Vampira as barreiras que a impediam de controlar seus poderes.
9 - Miragem
Quando os poderes psíquicos de Dani Moonstar se manifestaram, involuntariamente, ela criava ilusões de medos e desejos das outras pessoas. Isso fez com que colegas de seu povo indígena, os Cheyenne, se afastassem dela, com exceção de seus pais. Posteriormente, ela se juntou ao grupo Novos Mutantes no Instituto Xavier e se tornou uma das poucas representantes dos indígenas nos gibis dos mutantes – com Apache, Pássaro Trovejante e Forge, também um cheyenne.