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12 erros comuns que novatos na relojoaria cometem

Acreditar que um movimento faz um relógio é um deles

Existem muitas pessoas que se assustam ao ficar sabendo que existem muitos relógios que custam muito mais caro que um Rolex (WatchTime Brasil/Divulgação)

Existem muitas pessoas que se assustam ao ficar sabendo que existem muitos relógios que custam muito mais caro que um Rolex (WatchTime Brasil/Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 29 de setembro de 2016 às 16h25.

Última atualização em 7 de maio de 2019 às 08h56.

São Paulo - Considerado uma voz de liderança no universo dos relógios, Benjamin Clymer já foi citado pelo jornal New York Times como “Sumo Sacerdote da relojoaria” em 2013. Ele é fundador e editor executivo do site Hodinkee, um dos principais veículos de relojoaria do mundo. Clymer escreveu, recentemente, para seu site uma matéria que elenca 12 erros comuns que novatos no universo da relojoaria cometem, “alguns deles vindos de alguém que também os cometeu”, diz ele. Nos orientamos na lista dele e criamos a nossa própria versão em português:

1. Acreditar que um movimento faz um relógio

Vamos ser claros sobre uma coisa: um movimento é vital para qualquer relógio, mas ele não faz um relógio. Considere muitos dos calibres Lemania, Valjoux 72 ou 7750. Considere ETA 2892, ou Peseux 260. Eles são usados há décadas em relógios das mais diversas faixas de preço. Não seja pego pelo jogo de comparação de movimentos que muitos fãs de relojoaria gostam de brincar. Há muito mais em um relógio do que apenas o calibre e entusiastas olham tão atentamente à construção de caixas, design do mostrador e acabamentos exteriores quanto às características de um movimento (sem mencionar o acabamento do calibre) para determinar a qualidade de qualquer relógio. Movimentos importam. Mas outras coisas também.

2. Não respeitar Rolex o suficiente

Tendo a entender que há algo de picos e vales no entendimento real de um entusiasta e sua apreciação por Rolex. Quando você não sabe nada sobre relógios – como você não sabe de qualquer outra coisa do mundo lá fora – você acredita que a Rolex é a melhor relojoaria do mundo. Existem muitas pessoas que se assustam ao ficar sabendo que existem muitos e muitos relógios que custam muito mais caro que um Rolex. Daí, quando você vai ainda mais a fundo, você começa a aprender de Omega, Jaeger-LeCoultre, IWC e, depois, Patek Philippe, A. Lange & Söhne, Vacheron Constantin… É neste momento que as pessoas começam a olhar para a Rolex e exaltar os benefícios dos acabamentos à mão, da raridade, das edições limitadas.

Depois de serem bombardeados algumas vezes com alguns relógios exorbitantes, o tempo consumido para manutenções e as muitas revisões necessárias (ou o baixíssimo valor de revenda), as pessoas começam a pensar que “a Rolex não é tão ruim assim”. E aí que elas acertam: Rolexes estão entre os mais precisos e com menos complicações do mundo todo. E muitos esquecem que Rolex é Rolex por uma razão e que a marca foi pioneira em muitos quesitos do universo relojoeiro. Sim, a marca é uma gigante, está em todos os lugares e não é o que muitos chamam de “alta relojoaria”. Mas você não pode culpar a marca por fazer um relógio de altíssimo acabamento e qualidade que vende muito bem, pode? Queríamos nós sermos tão sortudos assim.

3. Acreditar que um relógio caro ou muitas complicações estão diretamente relacionados à qualidade (ou te dão o direito de se gabar)

Esta é óbvia, não? Nem tanto. Existe um equívoco entre novos fãs de relógio ao dizer que um relógio caro é um bom relógio – e que quanto mais, melhor. Uma visão mais iluminada da relojoaria é onde o equilíbrio é respeitado e a ingenuidade toma o lugar do excesso. Por exemplo, a ideia de que uma grande complicação é tão interessante quanto a tolerância do proprietário pagar a conta dos serviços – e muitos dos maiores colecionadores do mundo se retiram com certa frequência deste universo das complicações mais rápido do que você imagina. Além disso, a tendência que as relojoarias têm em anunciar a quantidade de partes que um mecanismo é elaborado gera uma queda em quem gosta. Até a gente perceber que são muitos componentes de um mecanismo para produzir um mesmo resultado. Grandes complicações – com exceção de algumas opções – são nada mais do que projetos muito interessantes e assim devem ser tratados. Colecionadores experientes são muito mais impressionáveis por relógios elegantes e de perfil fino, que realizam suas atividades necessárias de maneira sagaz, do que aqueles que colocam mais e mais peças em uma caixa robusta apenas para se gabar. E o preço? Bem, sabemos como é feito, não é um passe de mágica. Supere impressionar pessoas pelo número de complicações de um relógio e o preço pago por ele, que você será muito mais feliz. Poucas pessoas se interessam pelo preço de seu relógio.

4. Não ter (ou nunca ter tido) um Omega Speedmaster

Como é possível se considerar um fã de relojoaria e não ter um Speedmaster? Não digo que você precisa mantê-lo, mas qualquer pessoa que realmente ame relógios (e que tenha condições) deve a si mesmo ter um relógio de corda manual com função cronógrafo de um Speedmaster em algum momento de suas vidas. Pode não ser para todo mundo, mas é basicamente um relógio que satisfaz qualquer um.

5. Se confundir entre um calendário simples e um calendário anual

Benjamin Clymer se lembra de pessoas importantes – dois jornalistas veteranos de relojoaria, alguns blogueiros, muitos vendedores, diversos colecionadores e até mesmo um expert da indústria relojoeira suíça que trabalha em uma casa de leilões – que confundem calendário anual com um calendário comum. Sejamos claros: o calendário anual foi inventado pela Patek Philippe em 1996. Ele não existia antes disso. Ponto. Isto significa que qualquer relógio com calendário antes disso, se não é um calendário perpétuo, são calendários convencionais que requerem que o usuário avance suas datas em fevereiro, abril, junho, setembro e novembro. Um calendário anual requer avanço apenas no mês de fevereiro. Leve isso a sério, senão você parecerá um bobo na frente de verdadeiros experts da relojoaria.

6. Pressupor que qualquer pessoa que gaste mais do que você em um relógio compra por investimento e nunca vestirá o relógio

Clymer diz que vê isso com muita frequência na sessão de comentários de Hodinkee, ou mesmo em contas do Instagram, encontros de colecionadores e também em fóruns especializados na internet: qualquer um que compre relógios mais caros do que podem pagar estão comprando por investimento. Em outras palavras, eles estão dizendo que “esta pessoa não pode ser um entusiasta de verdade”. Por que? Porque ele (a) podem comprar um relógio mais caro que você?

Assim como colegas que possuem relógios exclusivamente militares migram para Rolexes de mostrador fosco, depois mostradores dourados e Pateks vintages – contanto que eles possam pagar por algo similar, então o relógio vai para um verdadeiro entusiasta. Mas isso não funciona desta forma. O número de pessoas que compra relógios apenas para investimento é minúsculo e qualquer pessoa que entenda minimamente sobre retorno de investimento perceberá rapidamente que venda de relógios oferece retornos reais. Aqueles Patek Philippe de aço que você vê em leilões terminam nos pulsos de verdadeiros apaixonados. Pessoas que ocupam seu tempo em aprender, estudar e adquirir relógios em um leilão são entusiastas de verdade, não interessa o que estão gastando, e dizer que todas essas peças incríveis terminarão no fundo de um cofre de alguém muito rico diz muito mais sobre quem faz a observação do que sobre “o rico que fez a compra”.

Você já faz parte de uma comunidade de nicho, não tente criar uma outra ao querer dividi-los do resto do universo colecionador. Todos estamos juntos nessa e quando você está mais perto de adquirir algo mais caro do que o que você já tem, você não gostaria de ser levado como alguém que “traiu o movimento”, gostaria?

7. Chamar qualquer Rolex vintage com bisel preto de “Bakelite”

Sim, o modelo Daytona de referência 6263 não tem um bisel Bakelite. Nem mesmo nenhum modelo Submariner, ou qualquer outra peça que não seja o GMT-Master de referência 6542. Bakelite foi usado pela Rolex apenas nesta referência e por um curtíssimo período de tempo. Então fique com isso em mente e não se engane: Bakelite apenas no modelo de referência 6542.

8. Citar uma publicação em um fórum ou no Instagram como um fato

Sabe quem pode fazer uma publicação em um fórum e se auto-intitular Expert? Ninguém. Você sabe quem checa as informações? Ninguém. Então citar um único post ou uma única linha que seja originária de um fórum como verdade não faz muito sentido, falando realisticamente. Você tem que se lembrar que o mundo é cheio de pessoas que tentam tirar vantagem de você e o cara que você conhece apenas por seu avatar pode ser um revendedor, ou um vendedor pouco honesto. Já vi pessoas que tomaram decisões de seis dígitos baseado na opinião de uma única pessoa, a qual não se tem conhecimento do verdadeiro nome. Confie em experts que você sabe o nome e que estarão lá para te ajudar se algo der errado – não o cara aleatório do Fórum. Estes lugares estão lotados de informações erradas e desinformações. Enquanto fóruns podem ser fontes fantásticas de conhecimento para amantes dos ponteiros, eu recomendaria que você considerasse quem está do outro lado dos comentários que te levam a tomar decisões que podem te custar muito dinheiro. O mesmo vale para outras redes sociais: algumas dezenas de milhares de seguidores não os fazem especialistas.

9. Chamar um fecho Deployant de “Deployment”

Este é comum, então não seja duro consigo mesmo. Chama-se Deployant e não Deployment. Se tornará natural para um novato em breve, eu prometo. O nome é este pois ele vem do termo francês “boucle déployante” (fecho dobrável) introduzido inicialmente pela Cartier.

10. Proclamar-se (ou alguém que você conhece) como o “maior colecionador do mundo”

De maneira realística, ninguém que você conhece é “o maior colecionador do mundo”. Primeiro: o que isto significa? E segundo: apenas não. Existem milhares de mega colecionadores ao redor do mundo e os mais sérios jamais reivindicariam serem os maiores ou melhores. Isto é uma comunidade e títulos assim não costumam ter lugar por aqui.

11. Presumir que um alto valor de arremate em um leilão aconteceu porque a própria marca era a compradora

Isto é algo que ouvimos muito quando conversamos com jovens fãs de relojoaria. E, para sermos justos, não é que estas afirmações não tenham fundamento. Sabemos que muitas marcas dão lances em leilões para conseguir peças importantes de volta para seus acervos – muitas marcas têm museus incríveis e coleções privativas que elas se esforçam em aumentar. Mas a verdade é que marcas arrematam poucos relógios por ano. Seus lances são estratégicos e voltados para modelos específicos que elas desejam em seus acervos. Muitos citam uma matéria publicada no Wall Street Journal sobre como Patek e Omega inflacionaram o valor final de arremates como uma validação de que as marcas frequentemente conspiram com casas de leilões. O que não é mencionado é que o próprio jornal teve sua matéria amplamente contestada por diversos outros veículos logo após ser publicada. Além disso, o artigo foi escrito há quase 10 anos, quando os preços de algumas peças eram atraentes, chegando a uma pequena fração do que são hoje. Então, assim, muitas relojoarias participam de leilões para adquirir seus próprios relógios – mas apenas aqueles historicamente importantes para elas. Afinal, dinheiro é dinheiro. Além disso, lembre-se que é sempre necessário ter dois interessados para que um relógio seja vendido a um preço tão alto: um comprador institucional não pode fazer isso sozinho.

12. Esquecer que se trata apenas de um relógio – e que você não precisa de um

Amamos relógios. E se você chegou até aqui, é porque você ama também. Clymer afirma que dedicou sua carreira inteira a eles, senão sua própria vida. Mas, no final das contas, ele sabe que o que realmente vale na vida são os amigos, a família, a saúde e a felicidade. “Já vi amigos terem longas discussões sobre relógios. Já vi amigos amaldiçoarem pessoas que conhecem há anos porque insinuaram que seu relógio recebeu uma nova camada de material luminescente, foi polido demais ou mesmo completamente polido. É muito fácil cair no jogo de ego de colecionadores enquanto eu sou tão culpado quanto qualquer pessoa que queira apenas algo especial. Lembre-se que são apenas relógios e nenhum comentário sobre sua peça deve mudar a maneira como você se sente com relação a seus amigos e pessoas queridas. A vida é mais que relógios e isso vem de mim, então leve apenas o que vai valer a pena.”

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