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Todo estágio é remunerado? Entenda os tipos de estágio que existem e quanto ganha um estagiário

Entenda quais são os tipos de estágio, como funciona a bolsa-auxílio e quais impostos interferem no montante final

Saber que estágio obrigatório pode não ter remuneração, que bolsa-auxílio não é salário e que impostos incidem acima de R$ 2.259,20 evita surpresas desagradáveis. (FG Trade / Getty Images )

Saber que estágio obrigatório pode não ter remuneração, que bolsa-auxílio não é salário e que impostos incidem acima de R$ 2.259,20 evita surpresas desagradáveis. (FG Trade / Getty Images )

Luanda Moraes
Luanda Moraes

Colaboradora

Publicado em 16 de julho de 2025 às 17h40.

Última atualização em 17 de julho de 2025 às 16h20.

Enquanto um estagiário de Ciências Atuariais recebe quase R$ 2 mil por mês, estudantes de outras áreas podem trabalhar de graça – e ambas as situações estão dentro da lei. Essa diferença gera uma questão básica, mas importante: todo estágio precisa ser remunerado?

Com bolsas-auxílio que cresceram 20% entre 2019 e 2023, segundo dados do NUBE, conhecer as regras sobre remuneração é o primeiro passo para quem está começando a vida profissional.

Quais tipos de estágio existem?

Antes de entender a questão da remuneração, é fundamental conhecer as modalidades de estágio previstas na Lei nº 11.788/2008, conhecida como Lei do Estágio. Basicamente, existem duas categorias principais: o estágio obrigatório e o não obrigatório.

O estágio obrigatório, como o próprio nome sugere, está previsto no currículo do curso. Trata-se de um requisito indispensável para a formação – sem ele, o estudante simplesmente não se forma. Cursos como Medicina, Direito e várias licenciaturas incluem essa modalidade em suas grades curriculares.

Por outro lado, o estágio não obrigatório, também chamado de extracurricular, representa uma escolha do estudante. Não é exigido pelo curso, mas pode complementar significativamente a formação acadêmica. É a modalidade mais comum no mercado e, não por acaso, a que gera mais dúvidas sobre remuneração.

Vale destacar que existem ainda outras classificações menos conhecidas. O estágio interno, por exemplo, pode ocorrer dentro da própria universidade – em laboratórios, departamentos ou projetos de extensão – ou referir-se a áreas internas de empresas.

Há também o estágio de férias, modalidade temporária que dura entre 30 e 90 dias durante o recesso acadêmico, inspirada nos "summer jobs" americanos.

Todos os tipos de estágio são remunerados?

A resposta direta é não, nem todos os estágios são remunerados. A Lei do Estágio estabelece uma diferença clara entre as modalidades. Estágios não obrigatórios devem, necessariamente, oferecer bolsa-auxílio. Já os estágios obrigatórios têm remuneração opcional – fica a critério da empresa ou instituição concedente.

Essa distinção gera situações curiosas no mercado. Um estudante de Engenharia fazendo estágio extracurricular em uma multinacional tem direito garantido à bolsa-auxílio. Enquanto isso, seu colega de Medicina cumprindo estágio obrigatório no hospital universitário pode não receber nenhuma remuneração, e isso está perfeitamente dentro da lei.

Na prática, mesmo quando não são obrigadas, muitas empresas optam por remunerar estagiários de modalidades obrigatórias. A estratégia visa atrair os melhores talentos, ajudar com custos e criar um ambiente mais justo.

Qual é a diferença entre bolsa-auxílio e salário?

Aqui mora uma confusão comum. Estagiários não recebem salário, termo reservado para trabalhadores com vínculo empregatício regido pela CLT. O que o estudante recebe é chamado bolsa-auxílio, sendo que a nomenclatura faz total diferença em questões jurídicas.

A bolsa-auxílio representa um valor destinado a auxiliar o estudante em suas despesas acadêmicas: mensalidade (quando houver), material escolar, transporte e alimentação. Por não configurar vínculo empregatício, o estágio não gera os mesmos direitos trabalhistas de um emprego formal.

Essa diferença impacta diretamente em questões práticas. Enquanto um trabalhador CLT tem direito a FGTS, seguro-desemprego e outros benefícios, o estagiário conta apenas com o que está previsto no Termo de Compromisso de Estágio. Por isso, é fundamental ler com atenção esse documento antes de assinar.

Quanto ganha um estagiário?

Os valores da bolsa-auxílio variam significativamente pelo Brasil. Segundo levantamento do NUBE realizado com mais de 82 mil estagiários, a média nacional em 2023 chegou a R$ 1.210,66.

Para estudantes do ensino superior, a média sobe para R$ 1.376,86. Mas as diferenças entre cursos chamam atenção. Confira o ranking dos mais bem remunerados:

  • Ciências Atuariais lidera com R$ 1.934,51
  • Estatística vem logo atrás com R$ 1.917,18
  • Ciências e Tecnologia fecha o pódio com R$ 1.900,26
  • Agronomia oferece em média R$ 1.890,10
  • Ciências e Humanidades surpreende com R$ 1.866,30
  • Economia mantém tradição com R$ 1.751,55
  • Ciência da Computação paga cerca de R$ 1.630,46
  • Engenharias (todas) ficam em R$ 1.627,11
  • Sistemas de Informação oferece R$ 1.623,30
  • Relações Internacionais fecha o top 10 com R$ 1.575,10

Além disso, a região do país também influencia nos valores. O Sul lidera com média de R$ 1.322,63, seguido pelo Sudeste (R$ 1.248,26), Nordeste (R$ 1.171,14), Norte (R$ 1.160,74) e Centro-Oeste (R$ 1.160,69).

Estagiário recebe 13° salário?

A pergunta sobre o 13° salário para estagiários gera muitas dúvidas – e a resposta pode decepcionar alguns. Estagiários não têm direito ao 13° salário por lei. O benefício é exclusivo de trabalhadores com carteira assinada, regidos pela CLT.

Como o estágio é considerado uma atividade educativa e não um vínculo empregatício, a Lei do Estágio não prevê esse pagamento adicional. É mais uma consequência prática da diferença entre salário e bolsa-auxílio.

Apesar disso, nada impede que empresas concedam o 13° como benefício opcional. Algumas organizações, especialmente as que disputam talentos em áreas concorridas, oferecem essa gratificação como diferencial. Quando isso ocorre, o valor deve ser incluído na folha de pagamento mensal, não em uma folha específica de 13° como acontece com funcionários CLT.

Quais impostos incidem sobre a bolsa-auxílio?

Ao contrário do que muitos pensam, a bolsa-auxilio de estágio tem desconto – mas não de todos os impostos. A principal diferença está no INSS: estagiários não têm desconto automático dessa contribuição, conforme estabelece a Lei do Estágio.

Isso significa que o estudante não está contribuindo para a aposentadoria durante esse período. Caso deseje fazer essa contribuição, pode optar por se tornar segurado facultativo do INSS, mas será uma decisão pessoal e o pagamento sairá do próprio bolso.

Já outros descontos podem ocorrer dependendo do valor da bolsa e dos benefícios oferecidos. Vale-transporte, por exemplo, pode ter desconto de até 6% da bolsa-auxílio. Planos de saúde e outros benefícios opcionais também podem gerar descontos, desde que acordados previamente.

Estagiário tem que pagar imposto de renda?

A questão do imposto de renda surpreende muitos estudantes. Sim, a bolsa-auxílio é tributável e segue a tabela progressiva do imposto de renda. Mas calma, isso não significa que todo estagiário precise pagar.

O estagiário só será tributado caso seus rendimentos mensais tributáveis superem R$ 2.259,20 (valores de 2024). Como a média nacional de bolsa-auxílio é de R$ 1.210,66, a maioria dos estudantes fica isenta. Porém, estagiários de cursos como Ciências Atuariais ou Estatística, com bolsas próximas de R$ 2.000, precisam ficar atentos.

Mesmo isento do pagamento, o estagiário pode precisar declarar o imposto de renda, especialmente se tiver outros rendimentos ou se for dependente de alguém que declara. Nesse caso, a bolsa-auxílio deve ser informada na ficha "Rendimentos Tributáveis Recebidos de Pessoa Jurídica".

Portanto, entender as regras do jogo faz toda a diferença. Saber que estágio obrigatório pode não ter remuneração, que bolsa-auxílio não é salário e que impostos incidem acima de R$ 2.259,20 evita surpresas desagradáveis. Além disso, permite ao estudante tomar decisões mais conscientes sobre qual oportunidade realmente vale a pena, financeira e profissionalmente.

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