Ser PJ pode ser muito vantajoso para profissionais qualificados e organizados, mas exige maturidade financeira e capacidade de negociação para realmente compensar a perda dos direitos trabalhistas. (Rafael Henrique/SOPA Images/LightRocket /Getty Images)
Colaboradora
Publicado em 23 de setembro de 2025 às 18h20.
Trabalhar sem carteira assinada virou realidade para milhões de brasileiros que hoje atuam como PJ, emitindo nota fiscal em vez de bater ponto. Essa forma de contratação, que antes era comum apenas entre médicos e advogados, agora atinge desde programadores até professores. O problema é que muito trabalhador aceita virar PJ sem saber direito o que perde e o que ganha com essa mudança.
A maioria descobre na prática que trabalhar como PJ significa ficar sem férias pagas, FGTS e outros direitos básicos, mas também pode significar receber mais e ter a liberdade para organizar a própria rotina. Nesse modelo, tudo depende de como o contrato é fechado e da habilidade de negociação do trabalhador.
Ser contratado como PJ significa que o trabalhador presta serviços através de uma empresa própria, geralmente um MEI (Microempreendedor Individual) ou uma empresa de pequeno porte. Em vez de receber salário, o profissional emite nota fiscal pelos serviços prestados e recebe o valor acordado sem os descontos tradicionais da folha de pagamento.
Nessa modalidade, a relação deixa de ser trabalhista e passa a ser comercial, ou seja, é como se duas empresas estivessem fazendo negócio. O profissional se torna responsável por pagar seus próprios impostos, contribuir para a previdência e gerenciar todas as obrigações que antes eram divididas com o empregador.
Embora pareça mais complicado, esse modelo oferece maior flexibilidade tanto para o profissional quanto para a empresa, permitindo negociações mais livres sobre valores, horários e condições de trabalho que seriam impossíveis dentro das regras rígidas da CLT.
Diferente do que muitos pensam, os direitos do PJ existem, mas são baseados no Código Civil e no contrato assinado entre as partes, não na legislação trabalhista.
O principal direito é receber o valor acordado pelos serviços prestados, podendo cobrar judicialmente caso a empresa não pague. Além disso, o PJ tem autonomia para organizar seu trabalho, escolher métodos e, em muitos casos, definir horários, desde que cumpra os prazos estabelecidos no contrato.
Outro direito importante é a liberdade contratual, que permite negociar todos os termos da prestação de serviço, desde o valor até as condições de trabalho. O PJ também está protegido contra cláusulas abusivas, podendo questionar na justiça contratos que desequilibrem demais a relação ou imponham condições impossíveis de cumprir.
Vale destacar que o profissional tem direito a exigir um contrato formal e detalhado, evitando acordos verbais que possam gerar problemas futuros. Esse documento deve especificar claramente as obrigações de cada parte, valores, prazos e condições de rescisão.
A diferença entre PJ e CLT fica mais evidente quando listado os direitos trabalhistas que o PJ não possui:
Sendo assim, fica evidente que o trabalhador PJ tem direitos trabalhistas muito limitados quando comparado ao regime CLT, exigindo planejamento financeiro para compensar essas ausências.
A pergunta "PJ tem direito a férias?" é uma das mais comuns, e a resposta legal é não. Porém, isso não significa que o profissional ficará anos sem descansar ou sem receber um valor extra no final do ano.
Muitas empresas que contratam PJs incluem no contrato períodos de recesso remunerado, funcionando como férias informais. Algumas até pagam um bônus anual que equivale ao 13º salário, embora não seja obrigatório. Tudo depende da negociação entre as partes no momento da contratação.
Quanto à rescisão do contrato PJ, não existe multa de 40% do FGTS nem aviso prévio obrigatório. No entanto, contratos bem elaborados podem prever multas para rescisão antecipada ou exigir comunicação com antecedência, protegendo ambas as partes de términos abruptos.
Embora não tenha direitos trabalhistas garantidos, o PJ pode negociar diversos benefícios no contrato, aproximando suas condições das de um trabalhador CLT.
É possível incluir cláusulas prevendo pausas remuneradas equivalentes a férias, pagamento de bônus anual similar ao 13º salário, reajustes periódicos baseados em índices de inflação e até participação nos lucros da empresa. Benefícios como plano de saúde, ajuda de custo para alimentação e transporte também podem ser negociados.
Outro ponto importante é estabelecer multas contratuais para rescisão antecipada, protegendo o PJ de ser dispensado repentinamente. Da mesma forma, pode-se negociar maior flexibilidade de horários, possibilidade de trabalho remoto ou até mesmo a não exclusividade, permitindo atender outros clientes.
Portanto, as vantagens e desvantagens de ser PJ dependem muito da capacidade de negociação do profissional e do valor que ele agrega à empresa contratante.
A questão sobre quantas horas um PJ trabalha não tem resposta única na lei, já que não existe jornada máxima estabelecida como as 44 horas semanais da CLT.
Teoricamente, o PJ tem autonomia para organizar seu tempo, trabalhando quantas horas forem necessárias para entregar o serviço contratado. Alguns profissionais trabalham menos que 8 horas diárias, outros ultrapassam as 10 horas, dependendo da demanda e dos prazos.
Contudo, se a empresa exigir horário fixo, presença obrigatória no escritório e subordinação direta como se fosse um funcionário CLT, isso pode caracterizar fraude trabalhista. A Justiça do Trabalho pode reconhecer vínculo empregatício e obrigar a empresa a pagar todos os direitos trabalhistas retroativos.
Por isso, contratos PJ devem preservar a autonomia do profissional, focando em entregas e resultados, não em controle de horário e presença.
A decisão entre PJ x CLT depende de diversos fatores pessoais e profissionais que vão além do valor recebido mensalmente.
Vale a pena ser PJ quando o valor dos serviços é pelo menos 40% maior que um salário CLT equivalente, compensando a ausência de benefícios e os custos com impostos. Profissionais de áreas como tecnologia, consultoria e saúde frequentemente encontram esse caminho favorável.
Também compensa para quem valoriza autonomia e flexibilidade, podendo escolher projetos, definir horários e trabalhar para múltiplos clientes.
Por outro lado, não vale a pena aceitar propostas PJ com valores próximos ao salário CLT, especialmente se houver exigência de exclusividade e horário fixo. Profissionais sem disciplina financeira para guardar dinheiro para férias, emergências e aposentadoria também devem pensar duas vezes antes de abrir mão da segurança da carteira assinada.
De modo geral, ser PJ pode ser muito vantajoso para profissionais qualificados e organizados, mas exige maturidade financeira e capacidade de negociação para realmente compensar a perda dos direitos trabalhistas tradicionais.