A decisão de pedir demissão sem cumprir aviso prévio é possível, mas tem consequências financeiras importantes que precisam ser consideradas. (pcess609/Getty Images)
Colaboradora
Publicado em 2 de setembro de 2025 às 18h11.
O mercado de trabalho brasileiro vive um momento de transformações. Uma pesquisa do LinkedIn mostrou que mais de 60% dos profissionais brasileiros consideram mudar de emprego em 2025, movimento impulsionado pela busca por melhores salários, qualidade de vida e propósito profissional. Diante disso, saber como pedir demissão da forma adequada se tornou uma habilidade crucial para quem deseja passar por mudanças de carreira.
Antes de tomar qualquer decisão, é fundamental entender que existem diferentes modalidades de desligamento, cada uma com suas particularidades e consequências para o trabalhador:
Ao pedir demissão, o trabalhador mantém alguns direitos fundamentais, mas também assume obrigações específicas. Entre os valores a receber estão o saldo de salário proporcional aos dias trabalhados no mês, o décimo terceiro proporcional, as férias vencidas acrescidas de um terço e as férias proporcionais também com o adicional constitucional.
A principal obrigação do funcionário que decide sair é o cumprimento do aviso prévio, período de 30 dias estabelecido por lei para que a empresa possa se reorganizar e buscar um substituto. Durante esse período, diferentemente do que ocorre na demissão sem justa causa, o trabalhador deve manter a jornada integral, sem direito à redução de duas horas diárias ou aos sete dias corridos de dispensa.
Vale destacar que a empresa pode, a seu critério, dispensar o cumprimento do aviso prévio. Quando isso acontece, o funcionário é liberado imediatamente sem qualquer desconto em suas verbas rescisórias. Caso contrário, se o trabalhador decidir não cumprir o período, terá o valor correspondente descontado de sua rescisão.
Uma das dúvidas mais frequentes entre trabalhadores envolve o acesso ao Fundo de Garantia e ao seguro-desemprego após o pedido de demissão. A resposta requer atenção aos detalhes.
Sobre o FGTS, quem pede demissão não tem direito ao saque imediato do fundo, que permanece retido na conta vinculada. O valor só poderá ser sacado em situações específicas previstas em lei, como aposentadoria, compra da casa própria, doenças graves ou após três anos sem carteira assinada. Além disso, o trabalhador também perde a multa de 40% sobre o saldo do FGTS, benefício exclusivo de quem é demitido sem justa causa.
Em relação ao seguro-desemprego, a situação é ainda mais restritiva. Esse benefício foi criado especificamente para amparar trabalhadores que perderam o emprego involuntariamente e não possuem renda própria. Portanto, quem pede demissão não tem direito.
A decisão de pedir demissão sem cumprir aviso prévio é possível, mas tem consequências financeiras importantes que precisam ser consideradas. Quando o trabalhador opta por sair imediatamente, sem trabalhar os 30 dias previstos, o valor correspondente ao período será descontado de suas verbas rescisórias.
Esse desconto pode representar um impacto importante no valor final a receber, especialmente para quem não tem uma reserva financeira ou outro emprego garantido. Por isso, sempre que possível, vale a pena negociar com a empresa. Muitas organizações, ao perceberem que o funcionário já está desmotivado ou tem urgência em assumir nova posição, preferem liberar o cumprimento do aviso.
Antes de tomar qualquer atitude definitiva, faça uma análise criteriosa das suas motivações. Questione-se sobre os reais motivos da insatisfação. São problemas estruturais da empresa ou situações pontuais que podem ser resolvidas? A remuneração é o único fator ou existem questões de ambiente, crescimento e propósito envolvidas?
Liste prós e contras de forma objetiva, considerando não apenas o presente, mas também as perspectivas de médio e longo prazo. Conflitos com colegas ou frustrações momentâneas não devem ser os únicos motivadores. Às vezes, uma conversa franca com a liderança pode resolver questões que pareciam insuperáveis.
Planejamento financeiro é essencial antes de sair do emprego. Calcule quanto tempo você consegue se manter sem salário, considerando todas as despesas fixas e variáveis. Especialistas recomendam ter uma reserva de emergência equivalente a pelo menos seis meses de custos de vida.
Paralelamente, atualize seu currículo, perfil no LinkedIn e portfólio profissional. Comece a sondar o mercado, participando de processos seletivos e entendendo como está a demanda para o seu perfil. Essa preparação prévia reduz a ansiedade e aumenta suas chances de uma transição tranquila.
A comunicação da decisão deve seguir a hierarquia organizacional. Agende uma reunião privada com seu superior imediato antes de comentar com colegas. Prepare-se para uma conversa objetiva e profissional, sem rodeios ou desabafos emocionais.
Explique suas razões de forma clara, focando em aspectos profissionais e evitando críticas à empresa ou pessoas. Mantenha o tom respeitoso e agradeça pelas oportunidades. Esse momento define o tom de todo o processo de saída.
Empresas frequentemente fazem contrapropostas para reter talentos. Podem oferecer aumento salarial, promoção, mudança de área ou benefícios adicionais. Ouça com atenção e peça tempo para avaliar, mesmo que sua decisão já esteja tomada.
Contudo, aceitar uma contraproposta raramente resolve problemas estruturais, e muitos acabam optando por deixar a empresa pouco tempo depois. Se decidir recusar, seja delicado e reforce que sua decisão não é apenas financeira, mas parte de um plano de carreira.
Demonstre comprometimento até o último dia organizando suas pendências. Elabore um documento detalhado com status de projetos, senhas necessárias, contatos importantes e procedimentos críticos. Essa atitude profissional fortalece sua reputação.
Mesmo após sua saída oficial, coloque-se à disposição para esclarecer dúvidas pontuais por e-mail ou telefone. Esse cuidado com a transição é valorizado e mantém portas abertas.
Se já tem uma nova oportunidade, seja transparente sobre seus prazos. Explique que precisa cumprir o período de transição na empresa atual e negocie uma data de início que respeite esse compromisso.
Empregadores valorizam profissionais que demonstram responsabilidade e ética. Sua postura durante a transição será um indicativo de como você agirá na nova empresa, então, use isso a seu favor.
Após alinhar com sua liderança, formalize o pedido junto ao departamento de Recursos Humanos. Será necessário redigir uma carta de demissão, documento que oficializa sua intenção de deixar a empresa.
O texto deve ser conciso e objetivo, contendo seu nome completo, cargo, data de admissão e a informação sobre cumprimento ou dispensa do aviso prévio. Evite justificativas detalhadas ou críticas e mantenha o tom profissional e cordial.
Muitas empresas realizam entrevistas de desligamento para entender os motivos da saída e identificar oportunidades de melhoria. Seja honesto, mas diplomático. Foque em fatos e evite ataques pessoais ou desabafos.
Compartilhe um feedback construtivo sobre processos, estrutura e oportunidades de desenvolvimento. Lembre-se de que suas palavras podem impactar pessoas que continuarão na empresa.
O mercado de trabalho brasileiro é menor do que parece. Profissionais mudam de empresa, mas continuam no mesmo setor, encontrando-se em eventos, projetos e até em futuras oportunidades de trabalho.
Agradeça formalmente através de e-mail ou carta aos gestores e colegas próximos, mantenha conexões no LinkedIn e cultive relacionamentos profissionais. Você nunca sabe quando caminhos podem se cruzar novamente.
Nem sempre a notícia será bem recebida. Alguns gestores podem reagir com hostilidade, tentativas de persuasão agressiva ou mesmo retaliações veladas. Mantenha a calma e o profissionalismo em qualquer cenário.
Se enfrentar situações constrangedoras ou abusivas, documente tudo e procure o RH. Em casos extremos, consulte um advogado trabalhista, e tenha em mente que sua integridade e bem-estar devem ser preservados durante todo o processo.
O modelo de carta de demissão deve ser simples e objetivo, evitando justificativas longas ou críticas. Um exemplo adequado seria:
"À [Nome da Empresa]
Venho, através desta, comunicar a decisão de me desligar do cargo de [cargo] que ocupo nesta empresa desde [data de admissão].
Cumprirei o aviso prévio de 30 dias conforme legislação vigente, permanecendo à disposição para garantir uma transição tranquila das minhas atividades.
Agradeço pelas oportunidades de aprendizado e crescimento profissional proporcionadas durante este período.
[Cidade], [data]
[Assinatura]
[Nome completo]"
Sair do emprego preservando relacionamentos e reputação exige maturidade e planejamento. Cada etapa, desde a reflexão inicial até a entrevista de desligamento, impacta diretamente as oportunidades futuras. Por isso, mesmo diante de ambientes tóxicos ou propostas irrecusáveis, o profissionalismo deve prevalecer. Afinal, o mercado tem memória, e uma saída elegante hoje pode significar uma porta aberta amanhã.