São Paulo — Encarar uma entrevista de emprego é, de longe, uma das situações mais estressantes da vida profissional. Ainda mais se você é um dos muitos prejudicados pela crise econômica e tem pressa para conseguir uma oportunidade.
As perguntas do recrutador, por mais difíceis que sejam, não são a parte mais desafiadora do encontro. O grande obstáculo são as próprias inseguranças e ansiedades do candidato colocado em teste.
Uma saída comum, mas raramente eficiente, é construir um personagem. Segundo Jorge Martins, gerente da consultoria Robert Half, muitas pessoas trazem frases prontas, memorizadas — que soam robóticas e minam a confiança de qualquer entrevistador.
Outra resposta frequente é a automedicação, diz a neurocientista Carla Tieppo, professora da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Não é uma boa ideia: tomar calmantes ou remédios para dormir “melhor” na noite anterior à entrevista produz um comportamento artificial ou mesmo sem brilho diante do avaliador.
Em vez de lançar mão de artifícios que funcionam de fora para dentro, a melhor solução é provocar mecanismos que operam de dentro para fora.
Conceitos emprestados da neurociência podem ajudar a produzir esse tipo de efeito "orgânico" sobre o seu corpo e a sua mente, e otimizar o seu desempenho em entrevistas. Veja a seguir 5 conselhos nesse sentido:
1. Regule seus próprios hormônios com “posturas de poder”
A maioria das pessoas sabe muito pouco do próprio corpo e seus mistérios. Em palestra no TED, a psicóloga Amy Cuddy, professora na Harvard Business School, propõe um exercício inusitado para se sentir mais autoconfiante antes de uma entrevista: permanecer por cerca de dois minutos no que ela chama de “poses de poder”, que aparecem frequentemente no mundo animal.
O mecanismo vale igualmente para macacos, aves ou seres humanos. Quando enchemos o peito de ar e abrimos pernas e braços, por exemplo, nossos corpos parecem maiores e mais fortes. Sem perceber, enviamos o recado de que somos poderosos e confiantes para quem está ao redor. Mais do que isso: inconscientemente, nós mesmos nos sentimos assim por dentro. Veja abaixo algumas poses recomendadas por Cuddy:
De acordo com a professora Carla Tieppo, da Santa Casa, essas posturas aumentam os níveis de testosterona e reduzem os de cortisol, uma combinação que favorece o ataque — e não a defesa — diante de uma ameaça real ou simbólica. “Antes de entrar na sala de entrevista, pratique essas posturas por cinco minutos”, orienta ela. “Os seus hormônios entrarão em ação e você estará mais preparado para o enfrentamento”.
2. Faça exercícios de respiração na sala de espera
Seguir o exemplo do mundo animal e praticar posturas de poder não significa que você deva assumir uma postura agressiva diante da entrevista. Muito pelo contrário: é importante que você aja de forma amigável e tranquila com o recrutador. Mas como fazer isso quando você está trêmulo e agitado?
O conselho de Tieppo é exercitar a sua respiração — um “calmante” natural e surpreendentemente eficiente. Uma técnica bastante simples é expirar no dobro do tempo em que você inspira. Se puxar o ar para dentro por 3 segundos, por exemplo, solte-o em 6.
“Respirar dessa forma ajuda a reduzir a ansiedade, porque sinaliza para o seu corpo que está tudo bem”, explica a professora. Se você faz o exercício pouco antes da entrevista, no banheiro ou na sala de espera, há boas chances de chegar mais calmo e relaxado para a conversa.
3. Simule a entrevista em casa
É interessante visualizar mentalmente a cena do encontro alguns dias antes de ela se materializar. “Feche os olhos e se imagine entrando na sala, cumprimentando o entrevistador, puxando a cadeira para sentar”, diz Carla. “Identifique quais são as suas respostas emocionais a essa situação, e pare para refletir por que elas se manifestam”.
O autoconhecimento e a inteligência emocional são instrumentos poderosos para esse exercício. Quando você entende o que perturba a sua tranquilidade — e por quê —, fica mais fácil evitar esses gatilhos ou aprender a lidar com eles.
“As emoções são a base estrutural do funcionamento cerebral”, afirma a neurocientista. “É preciso conhecê-las a fundo e aprender a não ter medo das suas próprias fragilidades”. A autoanálise deve ser complementada pelo olhar para fora: quanto mais você investiga a percepção que os demais têm do seu jeito de ser, mais fácil fica moldar suas reações a cada situação social.
4. Escreva um “roteiro” e use técnicas para se lembrar dos detalhes mais difíceis
A tensão despertada por uma entrevista de emprego frequentemente atrapalha a memória. Por puro nervosismo, você pode se esquecer de mencionar para o recrutador algum dado importante sobre a sua trajetória profissional.
Para evitar esses brancos, é interessante escrever o discurso que você pretende apresentar na conversa. Depois de ler algumas vezes o texto, tente reproduzi-lo sem a ajuda do papel. Retorne então às partes que você esqueceu ou confundiu, e aplique técnicas de memorização para gravá-las.
Esses mecanismos mneumônicos podem ser associações sonoras. Você pode se lembrar de contar que fez intercâmbio em Portugal depois de mencionar que trabalhou com serviços portuários, por exemplo, pela proximidade entre “Portugal” e “portuários”. O objetivo é criar ganchos entre as informações, diz a professora Carla, e assim garantir a memorização daqueles detalhes que insistem em escapar da sua mente.
5. Evite alterar suas rotinas no "dia D"
A situação da entrevista de emprego já representa, em si, uma grande ruptura no seu cotidiano. Para não deixar o seu dia ainda mais atípico — e, por essa mesma razão, estressante para o seu cérebro —, é melhor ater-se às suas atividades de sempre. Faça tudo como sempre fez: se você nunca sai de casa pela manhã sem tomar uma xícara de chá, garanta que isso aconteça no dia da entrevista.
Para evitar a sobrecarga de estresse sobre o seu organismo, também é obrigatório ter uma boa noite de sono antes da entrevista — o que depende de um cuidado contínuo com a saúde.
“Caprichar na alimentação, dormir horas suficientes e praticar exercícios físicos regularmente são condições essenciais para ter um bom desempenho na entrevista”, diz Carla. “Não dá para construir uma carreira de qualidade sem investir em qualidade de vida”.
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1. Recados inconscientes
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São Paulo - As variáveis para o sucesso numa
entrevista de emprego são muitas. Mas há um componente crítico que permanece inconsciente para a maioria dos candidatos: a imagem transmitida pela
linguagem corporal. Como você se senta na cadeira? Onde concentra o seu olhar? Qual é a sua expressão facial enquanto fala? De acordo com Paulo Sérgio Camargo, especialista no assunto, muitos
recrutadores são treinados para interpretar os sinais transmitidos pela postura física dos candidatos. No entanto, a influência dos sinais do corpo é garantida mesmo que o seu avaliador não conheça tão bem o assunto. "Ele sempre será impactado pela linguagem corporal do entrevistado, seja num nível consciente ou inconsciente", explica. A boa notícia é que é possível evitar alguns recados indesejáveis. E você nem precisa sacrificar a sua espontaneidade - basta saber o que alguns gestos e posições normalmente representam e evitá-los na próxima vez que for entrevistado. Nesta galeria, você conhecerá 12 detalhes que podem mudar radicalmente as mensagens que você passa com o corpo num processo seletivo. As informações são do especialista Paulo Sérgio Camargo e do livro "A linguagem corporal no trabalho", de Allan e Barbara Pease (Editora Sextante). Navegue pelos slides para vê-las.
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2. Cumprimente todos com um leve sorriso
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Ao entrar na sala, o primeiro recado que você passa está no seu rosto. Sorrir suavemente para todos os presentes denota segurança e simpatia. "Pode parecer um detalhe irrelevante, mas o sorriso é uma arma poderosíssima para criar um vínculo interpessoal imediato", afirma Camargo.
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3. Evite apertos de mão por cima da mesa
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A forma de trocar um aperto de mão contém muito mais mensagens do que você imagina. Segundo Allan e Barbara Pease, autores do livro "A linguagem corporal no trabalho" (Sextante), é importante evitar o cumprimento por cima da mesa do entrevistador. Tudo porque a posição fará com que você receba um aperto de mão com as palmas viradas para baixo - o que o colocará simbolicamente numa posição inferior em relação ao entrevistador. Para escapar desse "papel", o ideal é se aproximar da mesa, dar um passo à esquerda e cumprimentar o outro com a sua mão por cima.
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4. Mantenha a coluna reta
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Enquanto você está sentado, o ideal é manter as costas eretas ou ligeiramente inclinadas na direção do outro. Essa postura denota equilíbrio e interesse na situação, segundo Camargo. É perigoso se recostar para trás ao ouvir uma pergunta. "Mostra defensividade, como se você não gostasse do que está sendo dito", explica o especialista. Agarrar os braços da cadeira é outra postura a evitar, porque pode transmitir ansiedade, tensão e insegurança.
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5. Faça contato visual nas horas certas
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Ao fazer ou responder perguntas, não desvie o olhar do interlocutor nem abaixe a cabeça. De acordo com Camargo, o ideal é olhar para o rosto do entrevistador durante cerca de 70% do tempo, com foco no triângulo entre os olhos e a boca. Embora o cuidado seja essencial para transmitir confiança, é preciso tomar cuidado com a dose. Se você fixar exageradamente o olhar na outra pessoa, diz o especialista, ela pode se sentir desconfortável e constrangida.
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6. Tenha uma expressão facial neutra
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Você costuma fazer todo o tipo de caretas quando fala sobre algo desagradável? É bom frear essa tendência enquanto você estiver diante de um entrevistador. Não que você deva ficar com um rosto inexpressivo. "O ideal é manter uma expressão serena, confiável e neutra, a famosa 'poker face' que vemos nos filmes", afirma Camargo.
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7. Elimine hábitos que denotem nervosismo
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Na hora da entrevista, evite mexer no celular, roer unhas, morder a ponta de uma caneta ou brincar com colares, relógios e pulseiras. Segundo Barbara e Allan Pease, candidatos que não conseguem manter as mãos em repouso durante a conversa são frequentemente percebidos como inseguros e ansiosos.
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8. Gesticule enquanto fala (sem exagerar)
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As suas mãos não precisam ficar completamente paradas durante a entrevista. Gestos são permitidos - e até aconselháveis - caso acrescentem expressividade à sua fala. Mas é bom ser econômico. "Gesticular demais pode tirar a atenção do recrutador sobre a sua fala e transmitir uma ideia de que você é uma pessoa pouco equilibrada, muito teatral", diz Camargo.
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9. Não cruze os braços
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Além de denotar impaciência, cruzar os braços na frente do corpo pode causar a impressão de que você está querendo se defender do outro. De acordo com Camargo, a posição é especialmente desaconselhável quando você é o foco, ou seja, quando é a sua vez de falar ou perguntar algo.
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10. Faça movimentos discretos de concordância com a cabeça
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De acordo com Camargo, é importante fazer pequenos sinais de concordância com a cabeça enquanto ele fala. "Isso demonstra interesse e facilita a conexão pessoal com o entrevistador", explica. Também vale tomar cuidado com o queixo: o ideal é que ele fica na posição horizontal, paralelo ao chão. Se você ficar com a cabeça inclinada para baixo, pode transmitir cansaço ou desânimo.
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11. Não use a bolsa como escudo
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Vai levar uma bolsa ou pasta para a entrevista? Carregue-a sempre ao lado do corpo. Segundo Allan e Barbara Pease, o ideal é deixá-la à esquerda, para deixar a mão direita livre para apertos de mão. Ao se sentar, é uma péssima ideia colocar o objeto na frente do corpo, como uma barreira entre você e o recrutador. "Isso transmite uma impressão de insegurança e ansiedade, pois deixa claro que está tentando se proteger e disfarçar o nervosismo", escrevem os autores.
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12. Incline-se para frente ao ouvir perguntas
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Manter a coluna reta é importante para transmitir vivacidade e interesse na conversa. No entanto, vale reclinar o corpo ligeiramente para a frente enquanto o entrevistador pergunta algo. De acordo com Camargo, essa é uma forma simples de transmitir humildade, disposição e abertura para as demandas do outro.
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13. Saia da sala de forma confiante
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A conversa terminou? A dica de Allan e Barbara Pease é arrumar os seus pertences com calma: se você agir com pressa, pode dar a impressão de que quer "fugir" logo da situação. Em seguida, basta apenas dar um aperto de mão no entrevistador, virar-se e sair. Se a porta estava fechada quando você entrou, é importante fechá-la ao abandonar o recinto - de preferência, olhando para o entrevistador e fechando o encontro com um último sorriso.
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14. Veja agora 8 dicas de linguagem corporal para dominar uma negociação
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