Wilson Figueiredo (Clarissa Barçante - ALMG/Divulgação)
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Publicado em 5 de agosto de 2024 às 13h04.
Por oito décadas, ele escreveu poesias, lançou livros, foi repórter, redator, colunista, editor, cronista e editorialista de grandes jornais brasileiros. Em sua longa e invejável trajetória profissional, fez carreira como um talentoso jornalista de olhar apurado, texto elegante e a capacidade de cultivar as melhores fontes, sem abrir mão da preocupação com a integridade e a correção dos textos que ganhariam espaço nas páginas do jornal. Não é à toa que, ao completar 100 anos de vida, Wilson Figueiredo seja apontado como um querido e admirado decano do jornalismo brasileiro.
Nascido em 29 de julho de 1924, em Castelo, no sul do Espírito Santo, Figueiredo é daqueles personagens raros que conquistam o sucesso profissional e, pelo caminho, vão encantando os que convivem com ele – sejam companheiros de profissão, leitores ou as incontáveis personalidades que ele ouviu para escrever suas reportagens. Poeta na juventude, o capixaba deixou a terra natal aos 20 anos e, pelas mãos do amigo e jornalista Carlos Castello Branco, o Castelinho, iniciou sua trajetória profissional em uma agência de notícias ligada ao jornal Estado de Minas. Nem ele sabia, mas ali, naquele distante 1944, Wilson Figueiredo começava a construir uma invejável história de contribuição ao jornalismo brasileiro e ao próprio país.
Se é fato que é possível conhecer uma pessoa pelos amigos que ela fez ao longo da vida, o que dizer de alguém que conviveu com personagens do naipe de Fernando Sabino, Otto Lara Resende, Paulo Mendes Campos, Odilo Costa, filho, Hélio Peregrino, Mário de Andrade, Nelson Rodrigues, Rubem Braga, entre muitos outros? Diz-se que este último, inclusive, foi quem apelidou Figueiredo como “mineiro do litoral” – aquele que não nasceu em Minas Gerais mas que, por toda a vida, levou Minas dentro ele. E segue levando...
“Figueiró” é outro apelido carinhoso que ele carrega pela vida. Vida que poderia ter seguido por caminhos muito diferentes. Pela medicina, por exemplo, que chegou a ser uma possibilidade pensada, mas jamais tentada. Foi mesmo o jornalismo que encantou aquele jovem que tinha o sonho de, escrevendo, ajudar a fazer do mundo um lugar melhor. Em Minas, Wilson Figueiredo viveu e trabalhou nos municípios de Raul Soares, Divinópolis, Montes Claros, Uberaba e Belo Horizonte. Quando se deu conta, “virou mineiro”.
A sua chegada ao Rio de Janeiro, onde vive até hoje, foi em 1957. Ele trabalhou no lendário jornal Última Hora, de Samuel Wainer, e em O Jornal, de Assis Chateaubriand. Mas foi no Jornal do Brasil que Wilson Figueiredo construiu e consolidou uma carreira invejável na profissão que escolheu. Personagem relevante de uma importante reforma gráfica do JB, então um dos jornais mais conceituados do país, ele começou a brilhar ao lado de estrelas do jornalismo como Odylo Costa, filho, Jânio de Freitas, Amílcar de Castro, entre outros que fizeram fama em grandes redações brasileiras. Fama que “Figueiró” também usufruiu ao longo de 45 anos de permanência no Jornal do Brasil, quando entrevistou e escreveu sobre as mais importantes personalidades da política brasileira – sem jamais perder a humildade, o bom humor e a capacidade de estar aberto a conhecer o novo e tudo aquilo que está por vir.
No Jornal do Brasil, Wilson Figueiredo exerceu os mais diferentes cargos. Foi repórter, redator, colunista, editor e editorialista. Era, ao mesmo tempo, aluno e professor. O reconhecimento profissional não impedia que ele estivesse sempre aberto a aprender com os mais velhos e também com os mais jovens, que o viam como um querido e talentoso mestre. Bom de conversa, espirituoso, com inteligência e bom humor acima da média, o capixaba que “virou mineiro” e escolheu o Rio para morar tem em seus textos bem construídos uma fonte preciosa e fidedigna para quem pretende conhecer e entender a história política brasileira principalmente após a década de 1950.
Wilson Figueiredo deixou o JB após 45 anos de muito trabalho e de muito sucesso. E quem esperava que o “velho jornalista” fosse para casa descansar viu um homem de 81 anos iniciar um novo desafio: convidado pelo empresário Francisco Soares Brandão – mais conhecido como Chiquinho Brandão, sócio-fundador da FSB Comunicação – ele passou a integrar os quadros da agência. De 2005 a 2020, “Figueiró” trabalhou diariamente no movimentado escritório de Ipanema, seja escrevendo artigos ou dando toques de refino em textos escritos por colegas décadas mais jovens. Passar por ali e ter alguns minutos de prosa com o “Seu Wilson” era motivo de satisfação e alegria para seus companheiros de trabalho.
Em 2011, Chiquinho Brandão planejava produzir um livro sobre os 30 anos da FSB. Em um almoço, falou sobre a ideia com o jornalista Ancelmo Gois, que sugeriu que ele patrocinasse a edição de um livro sobre a vida e a carreira de sucesso de “Figueiró”. E assim nasceu a deliciosa biografia “E a vida continua – A trajetória profissional de Wilson Figueiredo” (Editora Ouro sobre Azul), um brasileiro privilegiado que acompanhou o fim do Estado Novo, registrou a Constituinte de 1946, contou a tragédia de Getúlio Vargas, esmiuçou o Governo de Juscelino e as idiossincrasia de Jânio, e teve um olhar aguçado para os anos de ditadura e a reconstrução da democracia que ele tanto defendeu.
Com a pandemia da Covid, em 2020, Wilson Figueiredo teve que se privar do convívio diário na agência de comunicação. Desde então, segue no quadro de colaboradores da FSB, mas agora exclusivamente sob os cuidados da família e usufruindo dos bons amigos que conquistou ao longo de uma vida. Vida que merece ser manchete de capa no jornalismo brasileiro.
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