Em uma empresa com 10 mil funcionários, a depressão ligada ao absenteísmo pode levar a perda de 15 mil dias de trabalho (Carol Yepes/Getty Images)
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Publicado em 11 de junho de 2024 às 07h00.
Por Dr. Wagner Farid Gattaz*
O binômio processos e cultura organizacional como elementos preponderantes na gestão da produtividade no trabalho pode ganhar importante ferramenta quando considera a saúde mental dos trabalhadores como fator basilar.
Uma pesquisa da Gattaz Health & Results com mais de 100 mil profissionais de grandes empresas apontou que 43% deles apresentam sintomas depressivos. Dentre eles, 13% foram diagnosticados com a doença. Um em cada cinco trabalhadores apresentará burnout. E ainda 9% apresentam uso abusivo ou dependência alcoólica.
Num primeiro momento, essas informações podem parecer uma demanda de assistência médica. Contudo, seus impactos no ambiente interno e resultados financeiros mostram que seus efeitos afetam diretamente as estratégias e resultados de negócios.
Em uma empresa com 10 mil funcionários, a depressão ligada ao absenteísmo pode levar a perda de 15 mil dias de trabalho ou ainda ser responsável pelo turnover de até 10% dos funcionários em um ano. Mais do que dados estatísticos, vivemos uma realidade de dor e sofrimento para funcionários e que ainda caminha em discussões nos espaços de gestão.
Apesar dos avanços, ainda há muito preconceito relacionado à saúde mental, sobretudo no trabalho. Precisamos derrubar esse estigma para ampliarmos os diagnósticos e a promoção de tratamento adequado. Isso resultará em menos sofrimento ao trabalhador e expansão da produtividade laboral.
Hoje, as doenças mentais levam para a economia mundial um custo anual de US$3,5 trilhões. Dois terços dele são custos indiretos, como a queda de produtividade, o presenteísmo e o de um acompanhante familiar que deixa de trabalhar para cuidar da pessoa que está doente.
Especificamente sobre o custo de oportunidade interno, profissionais com baixos níveis de bem-estar apresentam produtividade 33% menor quando comparados àqueles com escores elevados. E isso afeta o engajamento das equipes e o potencial de entregas.
O trabalho é o espaço em que as pessoas passam, pelo menos, um terço de suas vidas. É um ambiente estratégico para promoção de saúde mental, produção de riqueza e de bem-estar social. Para cada dólar investido em programas de saúde mental, há o retorno de quatro a cinco dólares.
Em escala global, até 2030, a OMS estima que o custo com doenças mentais quase dobrará, chegando a US$ 6 trilhões. A título de comparação, dados do Banco Mundial indicam que para acabar com a fome no mundo seria necessário US$ 4 trilhões. Com o investimento de US$ 260 bilhões por ano, durante quinze anos, acabamos com a fome no mundo. Isto é, com 1,2 anos dos custos com doenças mentais, poderíamos erradicar a fome no planeta inteiro.
Apesar de complexa e multifatorial, as pesquisas, literaturas e práticas mostram o potencial do ambiente de trabalho na manutenção da saúde mental de trabalhadores. Atentar para este fato, incluir o mapeamento de saúde mental nas práticas periódicas de gestão e contribuir para diagnósticos, pode se relacionar diretamente a aumento de produtividade, melhores índices de satisfação e maior poder de competitividade em estratégias de negócios. Olhar para os microcosmos das empresas é a oportunidade de olhar para toda a sociedade.
*Dr. Wagner Farid Gattaz é médico psiquiatra e CEO da consultoria Gattaz Health & Results.
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