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VOZES: Quem tem medo do Black Money?

Afroempreendedorismo promove desenvolvimento econômico e social para a população negra

População negra movimenta mais de R$1,7 trilhão ao ano (EXAME/Exame)

População negra movimenta mais de R$1,7 trilhão ao ano (EXAME/Exame)

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Publicado em 3 de outubro de 2021 às 08h38.

Última atualização em 3 de outubro de 2021 às 08h40.

Por Dina Prates*

Em setembro de 2021, o empreendedor negro gaúcho, Alex Ferreira, inaugurou em São Leopoldo (RS) o minimercado Ferreira. A abertura do estabelecimento de Alex, ainda que não reconhecida no mercado de negócios ou noticiada em grandes jornais e revistas, promoverá um impacto na comunidade em que está localizada. O minimercado, que vende alimentos perecíveis em uma pequena comunidade da cidade, ainda não gera grandes lucros, mas já promove a geração de renda e potencializa a circulação de recursos nesse território.

Alex sempre acreditou que ter o seu próprio negócio era uma das vias para um futuro diferente. Com poucos recursos e uma estrutura mínima, juntou dinheiro durante um tempo, guardando debaixo do colchão. Como milhares de empreendedores(as) negros(as), Alex inicia o seu negócio com poucas informações e ferramentas.

Segundo os dados da pesquisa realizada pelo Instituto Locomotiva, a população negra movimenta mais de R$1,7 trilhão ao ano, mesmo em condições de desigualdade econômica, social e racial. Para contrapor essa realidade desleal, nos últimos anos há uma grande movimentação no Brasil que incentiva o consumo de produtos e serviços produzidos por empreendedores negros: o Black Money — ou dinheiro negro.

Segundo Marcus Mosiah Garvey, “se você tem a ambição de ser maior do que já é, mas ainda não tem condições para isso, então economize bastante nesse presente momento, guardando o máximo que puder até certo período, e então você poderá alcançar seus objetivos e mudar sua posição”.

O termo “Black Money” surgiu nos Estados Unidos com diversos incentivadores. Aqui destaco Marcus Mosiah Garvey, um dos maiores líderes da comunidade negra norte-americana, que defendia a importância da autonomia econômica das pessoas negras através do gerenciamento e da articulação dos seus próprios recursos, ferramentas e negócios.

Marcus Garvey anuncia que para além da movimentação de dinheiro, o black money é um agente de transformação social comunitária, enquanto promove mudanças estruturais na própria comunidade. Atualmente, existem milhares de negócios, como o minimercado Ferreira, que desconhecem o movimento, mas transformam realidades, como Garvey defendia.

As pesquisas do Sebrae, apontam que mais de 51% dos microempreendedores registrados no Brasil são autodeclarados negros e negras. Contudo, permanecem com menores lucros e faturamentos quando comparados com empreendedores não-negros. É importante entendermos e reconhecermos que vivemos um contexto de mercado, que historicamente, não investe em estrutura para pequenos empreendedores.

Por isso, o fortalecimento comunitário é uma das grandes estratégias de desenvolvimento econômico, além de criar oportunidades e novas perspectivas de trabalho. Porém, ainda persiste um pensamento ignorante, que compreende o incentivo dessas práticas como uma segregação de outras populações. No entanto, questiono: quão segregada a comunidade negra vive no Brasil?

A experiência do black money construiu redes de negócios, mobilizou organizações e grandes empresas que compreenderam a importância desse ecossistema na economia. Durante a pandemia, a articulação dessas entidades promoveu o sustento de milhares de famílias que tiveram sua renda afetada pelo desemprego e os reflexos da crise econômica. O fomento de pequenos negócios, como o minimercado Ferreira, promovem os primeiros passos para a construção da autonomia comunitária. Quem tem medo do black money talvez compreenda a potência financeira das comunidades e entende que os benefícios desse movimento serão direcionados a toda sociedade.

“É preciso levar em conta que ideologia não é um organismo de ideias paralisadas. Não. É móvel o tempo todo, pois precisa rearticular-se”, trecho do artigo “Quem tem medo da palavra negro?”, Cuti.

*Dina Prates é consultora e educadora Financeira, mestra em sociologia e sócia-fundadora do Instituto Estrela Preta

 

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