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Vozes: Por que homens assediam mulheres na rua?

Mulheres não deveriam lidar com o fardo de serem assediadas e muito menos viver com esse medo

Um a cada três homens admite já ter assediado uma vez (Thinkstock/Thinkstock)

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Publicado em 24 de março de 2023 às 11h00.

Se você for mulher, já deve ter passado por isso. Você está andando na rua, vivendo sua vida, e do nada um cara passa de carro do seu lado, abre a janela e fala: “Fiu fiu, que gostosa”. Ou então você passa na frente de uma construção e os homens que trabalham lá começam a te assediar. Infelizmente essa é uma realidade muito presente na vida das mulheres e meninas. Começa cedo, quando ainda somos crianças, e dura quase a vida toda.

​Nas vezes em que isso aconteceu comigo, para além da raiva, sempre fico muito intrigada com esse comportamento. Fico me perguntando: mas o que esse cara acha que vai conseguir com isso? Será que ele espera que eu pule dentro do carro e peça pra ele me levar pra casa? Ou será que ele acha que vou olhar pra ele e me apaixonar perdidamente? O que passa pela cabeça dele nesse momento? Afinal, por que homens assediam mulheres na rua?

​Infelizmente ainda existem poucos estudos científicos sobre o tema do assédio nas ruas, especialmente pesquisas que buscam identificar as motivações que levam os homens a assediar. Em geral, o assédio na rua é entendido como um problema menor e não tão relevante, que não possui consequências sérias para quem sofre. Como consequência, além do pouco interesse científico no tema, governos também acabam negligenciando o desenvolvimento de políticas públicas voltadas para esse problema. No entanto, estudos já mostraram que mulheres que sofreram assédio na rua tiveram impactos negativos substanciais em suas vidas. Medo de sair de casa para ir ao trabalho ou escola, limitação do acesso à oportunidades e convivência social, diminuição da autoestima, são algumas das consequências já apontadas.

O primeiro passo necessário para lidar com o problema é entender as motivações por trás do assédio. Pensando nisso, a ONU Mulheres em parceria com a ONG Promundo, conduziu uma pesquisa com participantes de vários países no Oriente Médio e Norte da África para entender as atitudes de homens e mulheres em relação à igualdade de gênero. Os resultados da pesquisa trouxeram dados preocupantes sobre o assédio que as mulheres sofrem nas ruas. Um a cada três homens admitiram já ter cometido assédio com mulheres nas ruas. Quando os entrevistados foram perguntados sobre o por que cometeram o assédio, 90% disseram que o fizeram por “diversão”.

Os achados da pesquisa feita pela ONU Mulheres estão em consonância com outros estudos feitos em outras partes do mundo. Em um estudo feito por pesquisadores canadenses, 50% dos participantes disseram que cometem assédio quando precisam “melhorar o humor ou se animar”.

Além disso, o que as pesquisas mostram com bastante clareza é que os homens também enxergam o assédio como uma forma aceitável de demonstração de interesse. Em uma pesquisa feita pelo departamento de psicologia da Universidade Politécnica de Kwantlen sobre os motivos do assédio, o motivo mais popular para assobios foi "para mostrar que gosto da mulher" (85,4%) seguido por "para mostrar meu interesse sexual pela mulher” (82,9%), “porque essa é uma forma normal de flertar” (73,1%) e “para elogiar a mulher” (74,4%).

​Quando perguntados qual reação eles esperavam do assédio, 85% dos respondentes esperavam que “a mulher sorrisse em resposta”, 80% esperavam que ela “flertasse de volta” e 78% esperavam que ela “iniciasse uma conversa”. Ainda, 73% dos participantes indicaram que esperavam que a mulher se sentisse lisonjeada e 62% esperavam que a mulher admirasse sua confiança.

​Outro ponto de interesse das pesquisas é entender qual tipo de homem é mais propenso a assediar mulheres. Um achado consistente na literatura é que homens que possuem uma visão mais conservadora sobre o papel de homens e mulheres na sociedade tem maior inclinação a cometer assédio. Além disso, dados também mostram que esses homens, por terem visões inflexíveis em relação aos papéis de gênero, são bastante resistentes às campanhas educativas e intervenções mais “gentis” contra assédio. Evidências apontam para a necessidade de intervenções mais firmes feitas por um pequeno grupo que eles reconhecem como seus pares. Daí a necessidade de trazer mais homens aliados para esse debate.

*Karin Vervuurt é diretora presidente da ENP

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