Apenas 23% dos brasileiros possuem “muita confiança” ou “alguma confiança” no Congresso Nacional, aponta pesquisa. (Ueslei Marcelino/Reuters)
Bússola
Publicado em 18 de janeiro de 2022 às 09h00.
Por Letícia Medeiros*
O Congresso Nacional tem um papel importantíssimo nos rumos do país. É lá que a agenda política de quem ocupa a presidência da república é debatida e priorizada. Alguns projetos propostos passam para a sanção, outros não. Portanto, independentemente de quem for assumir a presidência, é fundamental escolher muito bem em quem vamos votar para colocar no Senado e Câmara dos Deputados.
Segundo os dados do Latinobarômetro de 2020, apenas 23% dos brasileiros possuem “muita confiança” ou “alguma confiança” no Congresso Nacional. É a segunda instituição que os brasileiros menos confiam, ficando atrás apenas dos partidos políticos — onde somente 13% possuem “muita ou alguma confiança”.
Esse sentimento é bastante compreensível. Afinal, conhecer o papel e as dinâmicas do Congresso Nacional não é fácil. Nós temos um sistema político difícil de entender, com regras eleitorais e regras de produção legislativa complexas.
Além disso, o Congresso Nacional é formado por um grupo enorme de parlamentares que os eleitores já nem lembram mais quem são. Um estudo de 2018 do Idea Big Data apontou que 79% dos brasileiros não lembravam em quem tinham votado para o Congresso Nacional nas eleições anteriores.
Por que a gente esquece em quem votamos para esses cargos? Para além das dificuldades já mencionadas, faço uma provocação: quanto tempo você gasta para decidir em quem vai votar para Câmara e Senado? Outra reflexão: você escolhe quem você se identifica de fato ou escolhe uma candidatura entre as mais conhecidas ou com “maiores chances de vitória”?
A complexidade do sistema eleitoral, aliada à pouca educação política que recebemos, nos atrapalha a votar de forma mais estratégica. Da mesma forma que não existe solução simples para problemas sociais difíceis, precisamos entender que não é em apenas uma eleição que vamos eleger todos os parlamentares que gostaríamos. Ainda mais se essas candidaturas são de pessoas pouco conhecidas ou de perfis historicamente sub-representados na política.
O voto para as Casas Legislativas não pode ser visto como um voto de impacto ou resultado imediato. Precisamos depositar o voto da Câmara e do Senado naquelas candidaturas que queremos ver no futuro. Se queremos, no futuro, um Congresso Nacional diverso — com mulheres, pessoas negras, indígenas, LGBTQIA+, com deficiência etc — precisamos votar agora, em 2022, nessas pessoas.
Ainda que, hoje, elas não sejam tão conhecidas ou a gente não veja tantas chances de vitória.
Isso significaria “desperdiçar” o voto deste ano? Não! A carreira pública é algo que se constrói ao longo do tempo. Em novembro de 2021, a ONU Mulheres do Brasil e a Gênero e Número produziram uma análise sobre o financiamento público de campanhas onde apontaram o círculo vicioso que se encontram as candidaturas dos grupos sociais historicamente sub-representados, especialmente das mulheres negras.
Essas candidaturas, por terem menos capital social e político, acabam sendo vistas pelos próprios partidos como candidaturas menos competitivas. Consequentemente, recebem menos apoio, menos financiamento, possuem mais dificuldades de angariar votos e boa parte delas acaba não se elegendo. Sem vitórias nas urnas ou com votações pouco expressivas, elas continuam descredibilizadas pelos partidos. E assim o círculo se retroalimenta a cada eleição, sem grandes avanços entre uma e outra.
Para quebrar essa dinâmica, precisamos da ação conjunta de partidos, leis, governos, mas também precisamos fazer a nossa parte e apostar agora nessas candidaturas por meio do nosso voto. O Congresso Nacional que queremos ver no futuro precisa começar hoje.
*Letícia Medeiros é cofundadora da ONG Elas No Poder
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