O expediente longo é produtivo? (Getty Images/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 5 de maio de 2021 às 17h01.
Este texto deveria estar pronto há dois dias. No entanto, cá estou eu, lutando para terminá-lo e fazer a entrega desta coluna de estreia aqui na Bússola com um mínimo de atraso possível. Mais uma vez, fui vítima da Falácia do Planejamento.
O conceito foi descrito pelos economistas e psicólogos Daniel Kahneman (ganhador do Prêmio Nobel e autor do best-seller Rápido e Devagar) e Amos Tversk para definir o impulso irresistível em sermos otimistas quando estimamos o tempo e os recursos necessários para desenvolver alguma tarefa – das grandes às minúsculas. Assim, obras atrasam e custam mais do que o inicialmente previsto; planos de negócio naufragam (recentemente foi-me dito que a cada 25 startups, 24 morrem no primeiro ano); e escritores levam muito mais tempo para entregar o que haviam prometido – os fãs de Game of Thrones (os livros, não a série de TV) que o digam.
Arrisco dizer que não há nenhum aprendizado maior que a pandemia nos tenha trazido do que a Falácia do Planejamento. Tudo o que estava planejado para 2020 foi por água abaixo. Tudo o que foi planejado em 2020 para 2021 também já foi. Ainda assim, já estamos pensando em como será em 2022, quando todos estivermos vacinados.
O próprio enfrentamento da pandemia foi nada mais do que uma série de planejamentos falhos, em maior ou menor grau a depender do tamanho e condições econômicas de cada país. Não é possível dizer que o governo indiano, por exemplo, não estava ciente do risco que o novo coronavírus representava após mais de um ano em circulação, mas ainda assim foi obrigado a orientar as pessoas a queimar seus mortos em casa, na semana passada. E nem falaremos aqui do caso brasileiro.
Mais uma vez, vimos que tudo que é sólido continua se desmanchando no ar. Os tempos são líquidos, fluídos, a vida virou fluxo. Planejar continua sendo importante, mas é preciso levar em conta que a velocidade das mudanças exige que nos desprendamos daquilo em que acreditamos.
Controlamos cada vez menos. Isso significa que, daqui para a frente, planejar será estarmos mais preparados para mudar nossas convicções se necessário, trabalhando sempre com dados concretos e fazendo uma leitura constante de cenário. O prazo de validade de qualquer plano diminuiu muito – é preciso colocar logo em prática, aplicar, testar e rapidamente entender se aquilo vai mesmo funcionar. Sair do grande e extenso e ser rápido, ágil e corrigível. A vida virou uma grande startup.
Dessa forma, talvez nossa chance de acertar, nem que seja naquilo que não vimos, seja um tanto maior.
*Rodrigo Pinotti é sócio-diretor da FSB Comunicação
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