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Vida corporativa: Você é o herói da sua própria jornada

Os mitos da antiguidade mostram o caminho, mas a escolha de embarcar na aventura é apenas sua

Monomito não é usado apenas na ficção, também serve à construção de heróis corporativos (Luis Alvarez/Getty Images)

Monomito não é usado apenas na ficção, também serve à construção de heróis corporativos (Luis Alvarez/Getty Images)

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Publicado em 23 de setembro de 2021 às 14h08.

Por Rodrigo Pinotti*

É provável que você já tenha ouvido falar em Jornada do Herói. Se não ouviu, com certeza já foi impactado por ela. Afinal, (quase) todo livro, filme, videogame, desenho animado, gibi, série de TV ou sessão de CPI a que assistimos segue o mesmo padrão: o protagonista aparece, reluta um pouco em partir para a aventura, acaba topando, encontra um mentor, amigos, inimigos, passa o pão que o diabo amassou e, ao final, atinge um objetivo.

Devemos o conceito ao pesquisador, professor e escritor inglês Joseph Campbell, que analisou os mitos da Antiguidade e identificou sua estrutura comum, que batizou de monomito. Ela é composta por três atos: a Partida (quando o Herói deixa o mundo comum), a Iniciação (quando ele entra no território da aventura) e o Retorno (quando ele retorna ao mundo original, alterando-o). Campbell descreve o conceito no livro O Herói de Mil Faces, de 1949. Mais tarde, o roteirista Christopher Vogler refinou o ciclo em 12 Passos do Herói, que são aqueles que qualquer storyteller de respeito hoje em dia sabe recitar de cor.

O monomito não é usado apenas na ficção: ele também serve à construção de heróis corporativos (embora seja verdade que aqui também, muitas vezes, acabamos entrando no campo da ficção). O CEO que começou como estagiário e o empresário self-made man que vendia bugigangas na rua e hoje é trilionário são exemplos recorrentes e sempre fazem muito sucesso no LinkedIn. Não que casos reais assim não existam, mas muitas vezes os passos da jornada são, digamos, melhorados, para que a história ganhe mais aderência.

A Jornada do Herói funciona porque nós nos enxergamos nela. Afinal, somos, cada um de nós, o herói de nossa própria jornada. Todos os dias você acorda meio relutante, mas acaba cedendo ao Chamado à Aventura (o nome do segundo dos 12 passos). Come algo, escova os dentes, despede-se da família, sai para o trabalho (ou começa o home-office). Se der sorte, tem alguma direção do seu mentor. Encontra aliados e enfrenta inimigos, passa por provações, tem recompensas, e ao final do dia, volta para o lar transformado, mais um pouquinho, pelo mundo lá fora. A história do estagiário que virou CEO cola porque a maioria das pessoas tem a expectativa de também chegar lá um dia, e cumpre a sua jornada de herói solitário para arcar com as contas esperando a sua vez.

Em O Poder do Mito (que, aliás, é uma leitura muito agradável), o próprio Campbell se aprofunda um pouco mais sobre as conexões do monomito com nossa própria realidade. Ele recupera um trecho de Babbitt, romance de Sinclair Lewis, no qual uma personagem diz que “nunca fiz aquilo que queria, em toda a minha vida”, no sentido de que muitas vezes a busca pelo sucesso obriga o indivíduo a nunca fazer nada do que quer, e sempre desempenhar atividades pela simples obrigação de ser bem-sucedido. Campbell conclui logicamente: “que tipo de sucesso é esse que o obrigou a nunca fazer nada do que quis, em toda a sua vida?”

Fazer aquilo que se quer é ir atrás de um sonho. Ainda na definição de Campbell, o sonho é o mito privado; por outro lado, o mito é o sonho público. Se o mito privado, seu sonho, coincide com o mito da sociedade, você está seguindo a expectativa do grupo: vai trilhar mais ou menos o mesmo caminho que todo mundo trilha, progredir, comprar uma casa, ter filhos, envelhecer etc. Porém, se o seu mito privado for contrário ao que todos esperam, prepare-se: há uma densa e escura floresta à sua frente e a aventura está prestes a começar, sem garantia nenhuma sobre onde ela vai te levar.

Aqueles a quem chamamos de heróis normalmente pertencem ao segundo grupo. A estrutura do monomito funciona porque nos mostra que não estamos sozinhos: o caminho da aventura já foi percorrido por incontáveis heróis, desde tempos imemoriais. É possível fazê-lo, portanto. Porém, o que nos fará heróis de nossas próprias jornadas é a coragem de enfrentar julgamentos e trilhar o caminho daquilo que realmente se quer, reunindo um conjunto de experiências inéditas e mostrando um novo caminho. Esta é a verdadeira façanha que alguém pode alcançar.

 

*Rodrigo Pinotti é sócio-diretor da FSB Comunicação

 Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.

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