Ted Lasso é um poço de lições para a vida no trabalho (Apple TV+/Divulgação)
Bússola
Publicado em 30 de setembro de 2021 às 11h10.
Por Rodrigo Pinotti*
Aceitar um desafio é muito como andar a cavalo: se está muito confortável enquanto você está fazendo, você provavelmente está fazendo errado. Esta é uma das grandes tiradas de Ted Lasso, série da Apple TV+ sobre um treinador de futebol americano universitário que aceita treinar um fictício time de futebol (o de verdade) da primeira divisão da Inglaterra.
Se você ainda não viu, veja. Mais do que uma comédia tendo o esporte como pano de fundo, Ted Lasso é um poço de lições para a vida no trabalho quase sem igual, comparado a The Office, Succession e, vá lá, Os Sopranos (não mate ninguém no trabalho, por favor). Podemos ter muitas diferenças com o modelo de gestão que Ted aplica no Richmond FC, mas, como bem disse um jornalista na série, “se o jeito Lasso é errado, é difícil imaginar qual é o certo.”
Outro personagem disse que grandes ideias podem vir de qualquer lugar; portanto, aqui estão as nove principais lições da série que consegui depreender até agora:
1- Decisões irresponsáveis realmente acontecem por motivos alheios ao negócio
Ted é contratado porque a proprietária do time, Rebecca, acabou de se separar e queria punir o seu ex-marido, antigo dono e fã ardoroso, com os piores resultados possíveis para o Richmond FC. Uma decisão inconsequente deste tamanho pode parecer inverossímil, mas a verdade é que todo líder é também um ser humano, sujeito à influência de suas crenças, humores, emoções e experiências. Isso acontece o tempo todo – normalmente em decisões menores, mas que muitas vezes causam um efeito borboleta de proporções inimagináveis.
2- A Estratégia da Lagartixa é real e colocada em prática o tempo todo
Ouvi uma vez de um profissional de RH que, quando você precisa promover uma pessoa mas não sabe bem se ela vai funcionar como gestora, usa a Estratégia da Lagartixa: joga a pessoa na parede e, se grudar, ótimo. Se ela cair, vai para o próximo. Muitas empresas adotam isso todos os dias, na falta de programas eficientes de preparação de lideranças, e foi também o que aconteceu com Ted: do nada, se viu liderando um time em uma área na qual ele não tinha experiência, sem conhecimento técnico suficiente e sob olhares impiedosos da concorrência.
3- Não julgue: participe
É muito difícil não julgarmos — diria que quase impossível. Há profissões que se dedicam exclusivamente a isso: críticos de cinema e gastronomia, jurados de programas de auditórios, comentaristas de TV como Roy Kent, ex-jogador e ídolo do Richmond, que tem uma epifania ao vivo e decreta: “estamos só de fora, olhando pra dentro, julgando-os.”. Roy abandona o programa ao vivo e aceita o convite de Ted para ser parte da equipe de treinadores do time. Se você quiser realmente fazer a diferença, é preciso participar.
4- Jogar o jogo político é aceitável, se for pelos motivos certos
Para convencer Roy a se tornar técnico, Ted o leva para uma quadra na periferia da cidade para ver as crianças jogando e se divertindo. “Você está jogando comigo, né?”, pergunta Roy. É claro que sim, Roy. Muitas vezes, a maneira mais eficiente de provocar um resultado positivo é usando as regras do jogo corporativo a nosso favor. Se for pelos motivos certos, é aceitável (sobre quais são os motivos certos, é uma outra discussão...).
5- A melhor marca é ser você mesmo
A frase é dita por Leslie Higgins, director de Comunicação do Richmond FC. Não precisar interpretar um personagem corporativo é muito mais seguro, libertador e, no longo prazo, mais eficiente. Ted chega ao clube pelos motivos errados, mas continua por ser quem ele é. Ninguém consegue manter uma máscara o tempo todo.
6- Ego atrapalha. Muito
Jamie Tartt é o melhor jogador do Richmond, mas atrapalha o ambiente do time. É transferido para o Manchester City — de onde sai escorraçado. Já Ted é xingado pela torcida, mas não liga. É esnobado pela maior parte do time, mas trabalha para ganhar a confiança de todos. Leslie perde o escritório e começa a trabalhar de dentro do armário, e está feliz por poder continuar ajudando o time. Ted Lasso faz uma defesa da humildade e uma crítica feroz à egolatria, sem deixar de mostrar que ser humilde muitas vezes é o caminho mais difícil.
7- Toda desvantagem tem a sua vantagem
Os redatores roubaram a frase de Johan Cruijff e a colocaram na boca de Rebecca, a proprietária do time. Cruijff queria mostrar que toda coisa ruim pode ter algum lado bom — ou que todo problema pode apresentar uma oportunidade, se você preferir. Se o time está perdendo de três a zero na final de um campeonato, então pode se lançar todo ao ataque porque não há nada mais a perder (a não ser que seja o Brasil contra a Alemanha). Em momentos ruins, é preciso ter calma e discernimento para enxergar as possíveis saídas e, principalmente, conseguir chegar a elas.
8- Sucesso não é sobre vitórias ou derrotas
Uma das frases icônicas de Ted na série. Para ele, sucesso é sobre “ajudar esses rapazes a serem as melhores versões deles mesmos, em campo ou não.” É uma forte defesa do propósito, que cada um de nós temos que definir para nós mesmos.
9- Acredite
Ted pendura um cartaz com a palavra no vestiário, e repete que “eu acredito na esperança.” Não há toa, a sabedoria popular ensina que a esperança é a última que morre. Esperança é expectativa, e sem expectativa não temos razão de viver. Acreditar que as coisas serão melhores também tem a ver com o ciclo natural da vida, de altos e baixos. Afinal, as mesmas coisas que fazem você chorar sabendo que elas existem são aquelas que fazem você chorar quando são superadas.
*Rodrigo Pinotti é sócio-diretor da FSB Comunicação
Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.
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