Ser verdadeiro consigo mesmo é uma das tarefas mais difíceis para qualquer um (Gëzim Fazliu / EyeEm/Getty Images)
Bússola
Publicado em 1 de dezembro de 2021 às 17h34.
Última atualização em 3 de dezembro de 2021 às 14h41.
Por Rodrigo Pinotti*
Frank Sinatra imortalizou o I did it my way, em letra de Paul Anka da qual, segundo consta, o velho olhos azuis não gostava muito por considerar um tanto egoísta e autoindulgente. Ter (e manter) suas convicções e fazer aquilo em que você acredita talvez exija um pouco de individualismo. Caso contrário, você vai sempre ceder às expectativas dos outros e deixar de buscar o que você realmente quer.
De uma certa forma, esta é a lição de fundo de O que pode dar certo, livro de Francisco Soares Brandão que chega nesta semana às livrarias. Chico — ou Chiquinho, como muitos o chamam — criou há pouco mais de 40 anos o embrião do que viria a se tornar o grupo FSB, hoje a maior empresa de comunicação corporativa e relações públicas do Brasil, dono desta Bússola e da FSB Comunicação, onde trabalho. Em última análise, portanto, ele é meu chefe.
Disclosure feito, o livro vale mesmo como prova de que as coisas podem dar certo quando você busca algo fortemente motivado por princípios e sendo honesto consigo mesmo. Claro, Chico conhece a si mesmo a ponto de identificar as coisas nas quais ele é bom, mas principalmente aquilo em que ele é ruim. Ser verdadeiro consigo mesmo é uma das tarefas mais difíceis para qualquer um, porque significa admitir nossas próprias limitações; ao mesmo tempo, este é o único caminho para sermos autênticos, perdendo o medo de se expressar e agir de acordo com aquilo que acreditamos.
Admitindo uma dificuldade crônica para ler e escrever (fruto de uma dislexia tardiamente descoberta), Chico montou a maior empresa de comunicação do país. O quão improvável era isso? Sem ter se formado na faculdade (“nunca gostei de estudar, mas sempre gostei de trabalhar”, escreve ele a certa altura), ele criou um modelo de negócios inovador e ocupou um mercado que ninguém nem sequer sabia que existia. “Não sou uma pessoa fácil”, admite ele, mas mesmo assim conseguiu atrair e ganhar a confiança de gente competente que deu o suporte necessário para o crescimento do negócio e que, agora, vai perpetuá-lo após o fundador sair de cena.
Esta cortina final é simbólica. Seria bem mais fácil, cômodo e lucrativo para o fundador ter seguido o exemplo de outras empresas e vendido o negócio para alguém maior, ou para um grupo internacional. Opções não faltaram. A escolha, porém, foi pela perpetuação daquilo que ele construiu, e por isso a decisão de ir diminuindo aos poucos sua participação, legando-a àqueles sócios que carregam a cultura e que vão eternizar a companhia. É algo inédito neste mercado. É também o jeito Chico de fazer as coisas, com convicção.
Nem todos os personagens que estão no livro, porém, farão parte deste futuro. Chico faz questão de mencionar nomes relevantes em sua trajetória, mas que, por algum motivo, seguiram outro caminho. Esta é outra lição importante: as coisas mudam, e é preciso sabedoria para admitir o momento da mudança.
Curiosamente, este é o segundo livro publicado pelo mesmo autor com o mesmo nome. O primeiro O que pode dar certo, lançado em tiragem limitada e sem venda comercial, aborda o lado pessoal da trajetória do Chico — divertidíssimo, por sinal, contando uma parte relevante da cena carioca entre os anos 1960 e 1980. Mas faltava entender como foi possível um colosso do tamanho da FSB ter sido construído a partir de uma salinha minúscula do Copacabana Palace, com uma única linha de telefone como patrimônio. O novo livro poderia muito bem se chamar Eu fiz do meu jeito. Concorde-se ou não com ele, há muito que se aprender ali.
*Rodrigo Pinotti é sócio-diretor da FSB Comunicação
Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a EXAME. O texto não reflete necessariamente a opinião da EXAME.
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