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Um futuro sem herdeiros: como preparar uma empresa familiar sem sucessor

Com 90% das empresas brasileiras sendo familiares, especialistas apontam alternativas como a profissionalização da gestão e a venda para garantir a continuidade do negócio sem herdeiros diretos.

A verdade é que ser herdeiro não é o mesmo que ser sucessor (RgStudio/Getty Images)

A verdade é que ser herdeiro não é o mesmo que ser sucessor (RgStudio/Getty Images)

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Publicado em 20 de fevereiro de 2025 às 13h00.

Por Daniel Lasse*

Imagine dedicar uma vida inteira à construção de um negócio, e, com o avançar dos anos, se dar conta de que não há ninguém na família disposto – ou preparado – para assumir o comando em sua ausência. Esse é o dilema silencioso de milhares de empresários no Brasil. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 90% das empresas no país são familiares, mas a transição para a segunda geração acontece em apenas 30% dos casos. Para a terceira, este número é ainda menor, sendo somente 5%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC). E quando a existência de herdeiros diretos não garante a continuidade, é preciso considerar outros caminhos possíveis para manter o legado.

Isso porque o sonho de passar o bastão para os filhos têm esbarrado em uma nova realidade: mudanças de interesses, a busca por carreiras independentes, a ausência do desejo de lidar com os desafios do empreendedorismo e o imediatismo das novas gerações. A verdade é que ser herdeiro não é o mesmo que ser sucessor – e a sucessão é um processo que exige preparo, estratégia e, acima de tudo, vontade.

Neste contexto, a ausência de um plano B bem estruturado pode trazer risco para o negócio. Empresas familiares sem uma sucessão definida ficam vulneráveis a disputas internas, perda de valor e até encerramento das atividades. Indústrias e companhias do agronegócio, por exemplo, são particularmente afetadas por esse problema devido à complexidade e ao alto investimento que demandam. Mas há saída – e ela pode ser ainda mais promissora do que insistir em uma sucessão forçada.

A profissionalização da gestão como solução

Uma das opções mais eficazes é a profissionalização da gestão. Trazer executivos de mercado, com vasta experiência, para assumir o comando pode ser a diferença entre o declínio e crescimento. Criar um conselho administrativo, definir novas lideranças e estabelecer governança corporativa são passos que transformam a empresa em uma organização sólida, independente de laços sanguíneos.

A venda da empresa: alternativa para o futuro do negócio

Dependendo do perfil do fundador e momento do negócio, há uma outra alternativa, que é a venda integral, ou parcial, da companhia. O mercado de fusões e aquisições têm demonstrado grande interesse por empresas familiares bem estruturadas. Um modelo que vem crescendo é o de Search Fund, no qual executivos de alto nível buscam companhias maduras para adquirir e expandir. E os grandes fundos também têm olhado com interesse para este perfil de negócio. Ou seja, dessa forma o legado pode continuar crescendo – mesmo sem um herdeiro no comando.

Consultoria especializada na transição de negócios

Por mais que pareça desafiadora a escolha da estratégia ideal, uma vez que envolve a definição de profissionais ou companhias que tenham sinergia em seus interesses e visões de negócios, e que visem uma complementaridade de competências, contar com o suporte de consultores e especialistas em M&A pode ser decisivo para o sucesso da transição. Além de identificar compradores e avaliar o real potencial da empresa no mercado, esses profissionais ajudam a estruturar a negociação de forma que os interesses dos fundadores sejam preservados.

Outro ponto essencial é o papel de mediação: em muitas transações, o maior desafio não está no valor da venda, mas nos conflitos familiares que podem surgir ao longo do processo. Um assessor experiente em M&A sabe como conduzir essas discussões de forma objetiva, garantindo que a decisão final seja tomada com clareza e sem rupturas desnecessárias.

Planejamento estratégico: chave para a transição bem-sucedida

Mas atenção, em ambos os casos, seja optando pela profissionalização ou venda, o planejamento precisa começar cedo. O ideal é estruturar essa transição anos antes da saída do fundador, para que aconteça de forma natural e sem quebras na operação, o que poderia ocasionar perda de valor. Um plano estratégico bem feito, alinhado com a evolução da maturidade da governança corporativa, é o segredo para um ótimo movimento. Além disso, uma comunicação clara com a equipe e uma cultura organizacional bem definida são essenciais para preservar os valores que fizeram a empresa prosperar, e que devem ser mantidos como norteadores neste novo momento.

Vemos que o futuro dos negócios familiares está sendo reescrito. Enquanto a sucessão tradicional pode estar em xeque, há novas alternativas que têm surgido para garantir que o legado continue. Isso porque a verdadeira herança de um empreendedor não está no sangue de quem assume, mas na capacidade de manter viva a essência do negócio, independentemente de quem esteja no comando. Por isso, cabe aos empresários enxergarem a sucessão não como um evento isolado, mas sim como um processo contínuo de adaptação e evolução.

Daniel Lasse é CEO na Value Capital, consultoria boutique de M&A focada em middle market.

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