Compreensão da cultura local é essencial para fidelizar a audiência (iStock/Thinkstock)
Bússola
Publicado em 26 de outubro de 2021 às 13h43.
Por Rogério Nery*
A televisão aberta está em um momento de inflexão. E esse movimento é uma questão de sobrevivência. Com o avanço da internet 4G e a crescente popularização das SmartTVs, o on demand virou uma febre no Brasil. É o que aponta uma pesquisa realizada em agosto pela Finder, uma consultoria australiana que mediu o interesse pelos serviços de streaming em 18 países. No total, 64,58% dos brasileiros entrevistados afirmaram que usam pelo menos um serviço, atrás apenas da Nova Zelândia (65,26%) e acima de países como Estados Unidos (58.90%), Alemanha (52,70%) e França (45,21%).
Diante de tamanha concorrência, que envolve bigtechs e gigantes de mídia e entretenimento, as redes de televisão regionais têm o desafio de reinventar-se ou perder relevância. E a estratégia de reinvenção passa por dois pilares: jornalismo e entretenimento.
Do ponto de vista de programação, a pandemia deixou claro que o jornalismo de qualidade funcionou como um bastião contra as fake news, multiplicadas via redes sociais e aplicativos de mensagens. Nesse combate à desinformação, os telejornais locais foram fundamentais para proporcionar informação correta, originada em fontes respeitadas devidamente apuradas e checadas, em questões tão prementes como a prevenção e tratamento à covid-19 ou o chamado auxílio emergencial.
O que o telespectador mais quer é informação ágil, ao vivo, que trate das grandes questões, sim, mas que fundamentalmente preste serviço e o ajude a resolver seus problemas.
Sob o aspecto de entretenimento, a valorização da realidade local, com novos formatos de produção, ainda é um fator atrativo para gerar uma conexão que tem acesso ao smartphone, mas ainda gosta de ver seus artistas e seus apresentadores favoritos embalando música e diversão com a sua linguagem. A compreensão da cultura local é essencial para fidelizar a audiência. Mas não se pode perder de vista o que é assunto no mundo e em todo o Brasil.
Em paralelo, as emissoras regionais precisam investir de forma maciça em tecnologia, sob pena de ficarem obsoletas. Depois de ingressar na era digital, no já distante ano de 2007, o Brasil aproxima-se da chamada TV 3.0. Essa nova etapa deverá melhorar a experiência do telespectador, proporcionando mais qualidade de som e imagem que a TV digital atual. Mas o mais importante é a possibilidade de gerar um conteúdo segmentado geograficamente e de acordo com o perfil do telespectador, o que será ouro em pó para as TVs regionais.
Outro avanço significativo será uma integração mais evidente com a internet. Algumas dessas facilidades já vêm sendo vistas, como o QRCode, que permite o acesso a conteúdo em sites com o simples direcionamento da câmera do celular. Mas a TV 3.0 permitirá ir bem além.
No Brasil, a maior emissora do país, a Rede Globo, vem dando passos largos para se consolidar como uma media tech, em linha com a tendência da indústria global de entretenimento. Sua programação vem andando de mãos dadas com o Globoplay, serviço de streaming cujo conteúdo muitas vezes é complementar ao exibido na rede aberta.
Em Minas Gerais, a Rede Integração também vem trabalhando nessa direção, tendo sido a primeira afiliada da Rede Globo a operar com um CentralCast. Presente em 234 municípios mineiros, atingindo uma população de mais 5,5 milhões de pessoas, a Integração adotou em outubro um novo sistema de capaz de controlar a exibição de todo a programação das geradoras de Araxá, Uberlândia e Ituiutaba. Cada uma dessas cidades seguirá vendo suas respectivas programações, mas com os benefícios tecnológicos do novo sistema — um passo importante para a TV 3.0.
Do ponto de vista comercial, esse avanço significa a chance de venda de anúncios customizados para perfis específicos de telespectador, aumentando a competitividade do negócio.
É fato que, principalmente no interior, as famílias ainda encontram na TV aberta um refúgio para momentos de convívio, no almoço, no jantar, nas tardes dos finais de semana. Mas isso só seguirá sendo uma realidade com investimento. As TVs regionais só seguirão relevantes se cativarem suas audiências com conteúdo inspirado, formatos inovadores de entretenimento e informação de qualidade, gerando valor para as comunidades locais e para os anunciantes.
*Rogério Nery é CEO do Grupo Integração (afiliada da TV Globo em Minas Gerais)
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