Home office ganhou muita força com a pandemia (Xavier Lorenzo/Getty Images)
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Publicado em 17 de março de 2023 às 17h34.
Última atualização em 17 de março de 2023 às 17h45.
Estamos acostumados a entender o trabalho remoto como um benefício para as pessoas. Mas será que a empresa do futuro será capaz de sobreviver com uma parte de seus profissionais atuando 100% à distância, ou em formato híbrido?
Um dos primeiros pontos a destacar a respeito do home office não é o que se passa dentro de casa, e sim fora dela. O transporte nas cidades brasileiras é caótico. Conheço profissionais que antes da disseminação acelerada do modelo perdiam, todos os dias, 5 horas no trânsito para ir e voltar do trabalho. Não é possível que, dessa maneira, entregassem o seu máximo potencial na empresa.
Gente que poderia usar melhor o intervalo para prática de esportes, para um jantar com os filhos ou ainda, para evitar o estresse de deslocamentos monumentais. Simplesmente viver mais feliz, dedicado à carreira e ao que acredita e deseja para sua vida.
Mergulhar na ineficiência logística não combina com uma sociedade em que organizações e pessoas alinham seus propósitos, pensam juntas na transformação, em valores, crenças e sustentabilidade. Em uma realidade na qual pregamos o uso inteligente de dados e recursos, não dá para continuar a tratar assim o nosso tempo.
A inovação hoje é muito rápida para perdermos instantes valiosos em uma longa fila de automóveis. Uma pesquisa do Instituto Ipsos indica que o brasileiro espera 32 dias por ano no trânsito. Será, então, que as empresas estão cumprindo seu papel sustentável quando desconsideram os inúmeros formatos disponíveis para o trabalho à distância?
A pandemia nos trouxe inúmeras marcas e tristezas, mas também provou que o trabalho remoto pode ser uma solução para que saúde mental, qualidade de vida e resultado andem juntos. Tanto um benefício para os profissionais, que ganham condições distintas de escalar sua carreira, quanto para as empresas, capazes de reunir times com mais autonomia para organizar seus horários, produzir e trabalhar mais satisfeitos.
Em 2021, segundo estudo do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), 22% das organizações que autorizaram o home office de seus times identificaram aumento da produtividade, enquanto 19% observaram redução. No ano seguinte, o percentual de empresas que perceberam o aumento de produtividade dos profissionais subiu para 30%, enquanto o que notou redução caiu para 10%.
O trabalho remoto é como estudar um idioma diferente. De início, da mesma maneira que é necessário reaprender uma lógica nova das palavras, uma nova forma de dizer o que se estava acostumado a falar, no home office é preciso entender maneiras diferentes de fazer reuniões, ser mais próximo dos colegas, produtivo e obter melhor desempenho. No início pode ser desconfortável. Com o tempo, ganha-se fluência.
O home office prepara as empresas para as vulnerabilidades do mundo. Na medida em que são constituídas de pessoas espalhadas pelo globo, tornam-se menos suscetíveis a panes regionais, instabilidades políticas e climáticas. Uma equipe pulverizada facilita a exploração de novos mercados e a abertura de unidades no exterior, protegendo contra o risco de variações cambiais e crises econômicas.
A possibilidade de contratação de times compostos por profissionais de cidades ou até países diferentes contribui para uma diversidade irrestrita, o que estudos diversos têm demonstrado impactar positivamente na performance. Se nossos colaboradores não conseguem manter o compromisso à distância, é preciso avaliar se essa é uma questão dele ou da própria cultura da empresa, incapaz de engajá-lo.
Em um mundo na iminência de uma estrondosa reformulação que a inteligência artificial promete realizar na atividade humana, não é possível que a distância seja um obstáculo para trabalhar e superar metas.
*Tulio Portella é diretor comercial da B&T Câmbio
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