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Thomas Gautier: Digitalizar não é mais opção

Na alta ou na baixa das commodities, digitalizar a logística é urgente para aumentar a competitividade do país

Colheita da cana-de-açúcar: Para dar certo e garantir competitividade ao setor de commodities, a transformação digital da logística precisa nos conduzir a uma revolução nas estradas (Rodolfo Buhrer/La Imagem/Reuters/Reuters)

Colheita da cana-de-açúcar: Para dar certo e garantir competitividade ao setor de commodities, a transformação digital da logística precisa nos conduzir a uma revolução nas estradas (Rodolfo Buhrer/La Imagem/Reuters/Reuters)

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Publicado em 29 de outubro de 2022 às 16h31.

As commodities se tornaram a grande estrela da economia nacional. Há 25 anos, respondiam por um quarto do total de exportações do país. Hoje representam mais da metade, e podemos alcançar ainda mais neste mercado. Apesar de o Banco Mundial ter previsto que o novo ciclo de valorização de energia e alimentos, por exemplo, dure pelo menos até o fim de 2024, o Brasil é apenas o 13º em um ranking de 19 nações latino-americanas em melhores condições de tirar proveito do ambiente global, segundo a The Economist Intelligence Unit (EIU).

A evolução do setor de commodities tem sido ampla no mundo. Impulsionado por fatores como a pandemia e a Guerra na Ucrânia, que envolve produtores relevantes de insumos, o Índice de Preços dos Alimentos da Organização das Nações Unidas (FAO) alcançou sua máxima histórica em março. Apesar de vir registrando queda há cinco meses consecutivos, ainda se mantém elevado. Para 2023, as chances de recessão global e desaceleração da China têm despertado uma boa dose de incerteza, diante da possibilidade de reduzir a demanda internacional e frear o desempenho das matérias-primas.

Ainda assim, seja em ciclos de alta ou baixa, há algumas lições de casa para acelerar o desempenho do Brasil. No campo agrícola, o nível produção não será problema. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento estima que o país produzirá entre 20% e 30% a mais na próxima década. Nossa competitividade, porém, não pode depender desse indicador sozinho, tampouco apenas de tecnologia para mitigar efeitos das mudanças climáticas. A nação que já foi chamada de “Arábia Saudita dos alimentos” precisa investir em logística para fortalecer o potencial das commodities.

Ao mesmo tempo em que se vem discutindo a importância de diversificar e integrar modais de transporte, como o marítimo e as ferrovias, é essencial cuidar da logística rodoviária. As estradas são responsáveis por cerca de 60% do transporte de cargas no país, equilíbrio que não deve ser alterado tão cedo. Altamente estratégico, o modal ainda conta com diversos processos analógicos e ineficientes, que geram uma série de prejuízos às cadeias produtivas. Tudo isso impacta no valor dos insumos que o Brasil envia para o mercado externo e nos alimentos à disposição dos brasileiros, nos supermercados.

Para dar certo e garantir competitividade ao setor de commodities, a transformação digital da logística precisa nos conduzir a uma revolução nas estradas. E a boa notícia é que isso já vem acontecendo, o que falta é intensificar os esforços. Por meio de inteligência de dados, tem-se conseguido aumentar o suporte à segurança dos caminhoneiros e das cargas, uma das principais reclamações desses profissionais. Tem-se otimizado rotas e realizado um melhor planejamento das entregas, evitando que os caminhões rodem vazios e desperdicem combustível. Dessa forma, os motoristas ganham tempo e se desgastam menos em sua rotina no trânsito.

Com o digital já é possível que as empresas controlem todas as etapas de sua própria logística, analisando onde dá para ser mais eficiente, em vez de entregar a tarefa a parceiros terceirizados e ficar distante boa parte dos processos. Um mercado diferente, que agrega valor e prioriza a qualidade do relacionamento. Saem de cena a simples tarefa de levar e trazer cargas, ganha destaque a excelência do serviço.

A tecnologia possibilita que as organizações conheçam melhor o perfil dos caminhoneiros contratados e esses motoristas tenham acesso mais amplo às informações sobre seus contratantes. O resultado é que conseguem construir relações de maior confiança e negociar os serviços de frete mais rapidamente.

Em uma era em que falamos tanto do propósito das organizações e da qualidade de vida no trabalho, esse debate precisa também chegar às rodovias. A partir da redução das ineficiências, a nova forma de fazer logística garante melhor margem de ganhos para todos os envolvidos na operação, mais bem-estar, satisfação e performance. A competitividade do Brasil passa tanto pela estratégia quanto pela criação de processos mais humanos, centrados nas pessoas e dedicados a demandas urgentes.

Embora não exista D de Digital na sigla ESG, a tecnologia impacta na construção de uma logística que mensura no detalhe ganhos e perdas das companhias, audita as operações com precisão, garantindo maior transparência e chances de se aperfeiçoar. Ajuda a medir impactos nas comunidades e no meio ambiente.

Chegamos a um ponto em que o país não tem escolha. Para impulsionar a competitividade em um mercado em que já é líder e incrementar seu próprio crescimento econômico, digitalizar a logística com um olhar humano e sustentável é o nosso próximo passo. E ele já está sendo dado.

*Thomas Gautier é CEO do Freto

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