2022 viveu uma queda nos investimentos de venture capital (Nuthawut Somsuk/Getty Images)
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Publicado em 2 de março de 2023 às 17h00.
Montar um cenário para o segmento de tecnologia e startups neste ano não é tarefa simples. Especialmente no Brasil. Começamos 2023 com diversas tempestades inesperadas, como a confusão em Brasília e a crise nas Americanas, ao mesmo tempo em que já havia intempéries previstas, como a inflação e os juros nas nuvens.
O ano de 2022 registrou uma queda nos investimentos de venture capital de 55% em relação ao ano anterior, segundo a plataforma Distrito. A comparação é, no entanto, injusta, porque 2021 foi de recorde histórico, com US$ 9,8 bilhões. O ano passado, com US$ 4,46 bilhões, foi ainda o segundo melhor do país.
Agora o importante é olhar para frente. Grande parte dos investidores acredita que o freio de arrumação e os ajustes devem continuar neste ano. Como muitas empresas não conseguiram ou evitaram fazer rodadas em 2022, vão precisar captar agora.
Embora ainda exista muito capital em Dry Powder (a ser alocado), o venture capital será ainda mais seletivo diante do novo cenário. "Não deve haver mais as rodadas para financiar qualquer promessa ou sinal de novo unicórnio", como foi feito em anos anteriores, escreveu o CEO da Bossanova Investimentos, João Kepler.
Tanto unicórnios como startups em estágio mais inicial precisam, além de cortar custos, se reajustar a uma nova mentalidade de investidor, que passa cada vez mais a priorizar o potencial de uma empresa de obter lucro, e não somente sua capacidade de alcançar um crescimento rápido, como foi em um passado recente.
O corte de custos começou forte em 2022 e ainda deve se estender em 2023. Vimos gigantes da tecnologia, como Google e Microsoft, anunciando milhares de demissões. Só no ano passado, startups e unicórnios brasileiros anunciaram cortes de pelo menos 4 mil vagas.
Por outro lado, há notícias animadoras nesta virada de ano mostrando que, depois da tempestade, pode não vir aquela bonança desejada, mas o sol sempre volta a brilhar em algum lado.
Novos fundos e investidores voltaram a divulgar investimentos, sobretudo em startups de estágios mais iniciais, após um período de anúncios raros. Um dos exemplos é o do Gabriel Sidi Vieira e o Alberto Rossi, da EXT Capital, em uma aliança com Delano Macêdo, da Solis Investimentos, que anunciaram um fundo de R$ 250 milhões para realizar operações nas startups mais relevantes do portfolio da Domo Invest.
A gestora Headline, do @Romero Rodrigues, que tem quase R$ 1 bilhão para investir em startups, anunciou seu primeiro aporte na Smart Break ao apagar das luzes de 2022. E ele diz que já tem muito mais no pipeline. O CEO da Nuvini, Pierre Schurmann, deu o primeiro passo para abrir capital na Nasdaqlogo no início deste ano e anunciou a compra da sétima empresa do grupo, a SmartNX, plataforma de CX as a Service.
Na The Next Billion, investimos R$ 5 milhões em 2022 e esperamos multiplicar esse valor por 10 neste ano. Nossa empresa de investimento-anjo e venture capital, já conta com as startups MeEntrega, AppTite, NEOKYC, Talent´s Club, FintoWare (Argentina) e IsaPay em nosso portfólio, além das duas empresas próprias: a ScaleUP e a TNB Capital.
Em 2023, já começamos com três startups sendo avaliadas e R$ 10 milhões já reservados. A expectativa é chegar a R$ 50 milhões em aportes e levar três startups à série A. Esse seria um grande feito para nosso segundo ano de atuação.
Muitas gestoras avaliam que pode não ser uma hora boa para captar, mas que agora é um dos melhores momentos para investir. Segundo a CB Insights, houve uma queda no valor médio dos valuations das startups em 2022, principalmente naquelas que captaram investimentos a partir da série B.
Em 2021, o valor de mercado médio obtido de uma startup nesta rodada era de US$ 194,8 milhões. Um ano depois, o valor médio caiu para US$ 172,6 milhões. Nas rodadas posteriores, a diferença entre os valuations obtidos em 2021 e 2022 ficou ainda maior. Na série C, o valuation, que era de US$ 578,4 milhões, passou para US$ 457,4 milhões. Já na Série D, as empresas que antes eram avaliadas em US$ 1,6 bilhão agora obtêm avaliação média de US$ 1,1 bilhão.
A queda dos valuations atinge também os maiores unicórnios do planeta. Segundo um levantamento do PItchbook, os top 10% unicórnios mais valiosos dos Estados Unidos em 2021 perderam cerca de metade de seu valor de mercado até o terceiro trimestre de 2022.
Um exemplo de perda de valor entre os unicórnios que nasceram no Brasil e voaram para abrir capital nos Estados Unidos é o do Nubank. Desde que fez seu IPO no mercado americano, em dezembro de 2021, quando chegou a valer US$ 41,5 bilhões – elevando-a ao posto de maior instituição financeira da América Latina –, até o início de janeiro o "roxinho" perdeu US$ 22,4 bilhões em valor de mercado, o equivalente a mais que um Banco do Brasil (US$ 19 bilhões).
Mas além dos ajustes nos valuations e nos custos que muitas empresas já fizeram em 2022, há ainda outros fatores que podem ajudar as startups brasileiras neste 2023.
Existem algumas mudanças legislativas que podem ter impacto direto na retomada da participação de fundos estrangeiros nas rodadas de investimentos. O marco cambial, que entrou em vigor na virada do ano, poderá favorecer ainda mais os investimentos externos do país, como aponta Juliana Strohl, líder de jurídico e compliance da Kamino.
Outro ponto a ser observado são as fusões e aquisições. Com os juros em dois dígitos, o mercado acredita que é mais provável que 2023 seja de alta nas operações de M&As do que em uma retomada de estreias na bolsa, os IPOs. Essa passa a ser também uma saída para as startups conseguirem musculatura para continuar a crescer, mas, claro, mais do que nunca, sem perder o foco em gerar um fluxo de caixa positivo.
Com tudo isso, não acho que esse ano, que começou com tantas tormentas, vai decepcionar os empreendedores e investidores que estão mais preparados para qualquer tempo. Entre nuvens e trovoadas, o sol sempre há de brilhar mais uma vez!
Mas não esqueça o guarda-chuva.
*Fernando Dias é fundador e consultor executivo da TNB The Next Billion e diretor geral da Migo no Brasil
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