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Tecnologia e escalabilidade: a educação chinesa e o modelo não elitista

A educação não pode ser pensada considerando apenas computadores de última geração e impressoras 3D

A China se tornou um dos maiores mercados de edtechs do mundo (Costfoto/Barcroft Media/Getty Images)

A China se tornou um dos maiores mercados de edtechs do mundo (Costfoto/Barcroft Media/Getty Images)

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Publicado em 25 de junho de 2021 às 12h50.

Última atualização em 25 de junho de 2021 às 13h53.

Como mencionei em meu artigo anterior, em 2019 visitei a China com alunos e professores da Universidade de Stanford. Além de conhecer diferentes escolas, também tive a oportunidade de visitar a edtech Liulishuo, com mais de 3.000 funcionários e listada na bolsa de tecnologia Nasdaq, em Nova York. Ela promove o ensino de inglês baseado em gravações e atende mais de 175 países. Na China, está presente em 384 cidades.

Como o ensino de inglês é uma das maiores dores do país no caminho para se tornar uma potência mundial, soluções como essa têm se tornado cada vez mais comuns para aumentar a produtividade do país. Mas não ficam restritas apenas ao ensino de idiomas. A China entendeu a importância da tecnologia educacional para adaptar a educação ao século 21 e se tornou um dos maiores mercados de edtechs do mundo.

Durante essa visita, percebi como não apenas as startups de educação, mas também as escolas e o governo veem a tecnologia como item essencial para o futuro da educação e, consequentemente, do país. Um dos fatores para isso é o quanto a tecnologia permite a escalabilidade, fundamental para uma nação tão grande como a China.

Essa escalabilidade é expandida, entre outros recursos, por inteligência artificial e machine learning, altamente explorados, por exemplo, pela Liulishuo. A empresa se esforça em trazer os maiores especialistas no assunto para seu conselho, como professores de ciência da computação de universidades como Princeton e até mesmo o reitor da Faculdade de Educação de Stanford para seu conselho executivo.

Outro fator de extrema relevância ao pensar em escalabilidade é considerar o contexto do país. A edtech que visitei explora isso muito bem ao reconhecer que nem todos os chineses têm acesso a internet de alta velocidade ou a computadores e aparelhos de alta tecnologia. Por isso, adota um formato de ensino de inglês por gravação, que pode ser ouvida offline, em aparelhos celulares simples. Ou seja, infraestrutura deixa de ser uma barreira ao passo que o produto se adapta à realidade da sociedade

Essa forma de encarar a tecnologia como uma ferramenta de expansão e escalabilidade precisa ser trazida para o Brasil — e, em alguns casos, já vem sendo. Algumas das maiores edtechs em atuação no país não requerem alta tecnologia da parte do usuário. É o caso da Passei Direto, que permite o download de materiais para acesso posterior de maneira offline. A simplicidade de uso da plataforma também é muito importante, o que a permitiu atingir 24 milhões de usuários até agora.

Dessa forma, é essencial que, ao falarmos de tecnologia, não pensemos em computadores de última geração ou laboratórios com impressoras 3D, que apenas escolas de elite poderiam ter, e sim em recursos que permitam um acesso mais fácil à informação.

Adotando essa visão, a China aumentou de forma significativa seus investimentos no setor. Estima-se que o mercado chinês de educação alcance US$ 715 bilhões em 2025, de acordo com dados da Deloitte. Em 2018, a China superou os Estados Unidos em termos de inovação em educação e investimento em tecnologia, em uma proporção de três para um. Avaliada em mais de US$ 30 bilhões, a chinesa TAL Education Group, maior edtech do mundo, liderou nos últimos anos uma série de aquisições.

Essa aceleração de investimentos se reflete também no aporte em capital de risco no país: a China recebeu US$ 10,1 bilhões em 2020 (Holon IQ), contra aproximadamente US$ 25,4 milhões do Brasil (de acordo com relatório do Distrito). Esses investimentos são combinados com parcerias feitas com governos e com o esforço de edtechs de buscarem se afiliar às melhores instituições de ensino do mundo, o que expande muito o seu potencial de causar impacto real no cenário de tecnologia educacional do país.

Sendo assim, considero essencial para o Brasil que olhemos para a tecnologia não como um recurso caro e inacessível, mas como um caminho para escalar a educação do futuro. Investir em soluções que façam sentido no nosso contexto é impactar de forma direta a formação de nossa força de trabalho, aumentando a produtividade do país como um todo. A tecnologia será uma aliada também na escalabilidade de oportunidades em nossa sociedade.

 

*Iona Szkurnik é fundadora da Education Journey, plataforma focada em desenvolver o ecossistema de inovação na educação, e presidente do Conselho da Brazil at Silicon Valley.

 

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