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Sob ameaça de racionamento, Brasil precisa de gás para não ficar no escuro

País enfrenta sua pior crise hídrica desde 1931 e precisa aumentar a oferta gás natural para geração térmica

Gás natural responde por apenas 9,3% da matriz energética brasileira (Noah Friedman-Rudovsky/Getty Images)

Gás natural responde por apenas 9,3% da matriz energética brasileira (Noah Friedman-Rudovsky/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 21 de maio de 2021 às 17h13.

Por Bússola

Vinte anos depois do racionamento de energia, a ameaça voltou a entrar na agenda. Vivendo sua situação hidrológica mais crítica em 90 anos, o Brasil tem intensificado o uso das termelétricas para evitar um colapso.

“Essa é a maior crise desde 1931. E só não é pior porque não se media antes. E agrava-se o fato de que também estamos tendo a menor afluência em Itaipu desde a sua construção”, disse o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, em recente entrevista ao portal Poder360.

Albuquerque confirmou que as usinas termelétricas têm sido acionadas justamente para manter a segurança energética do país. “Para que não ocorra nenhum racionamento, apagão, ou qualquer coisa nesse sentido”, disse ao portal.

Na avaliação do consultor Jorge Celestino Ramos, ex-diretor de Refino e Gás Natural da Petrobras, o cenário abre oportunidade para uma maior contribuição do gás natural na matriz elétrica brasileira – hoje limitada a 9,3%, enquanto as fontes hidráulicas têm 64,9% de participação, de acordo com dados do Balanço Energético Nacional de 2020.

Para o país não ficar no escuro, ampliar a oferta de gás é um dos desafios. Além do insumo boliviano, o Brasil projeta uma expansão da produção nacional do energético até 2030. A maioria das reservas, no entanto, vem da exploração em campos offshore (alto mar), e o país precisa ampliar a infraestrutura para escoar todo esse potencial que está no subsolo marinho. Isso leva tempo.

Importação

Para Ramos, a alternativa a curto prazo para diversificar as fontes de suprimento está na importação de gás natural em forma líquida (GNL). Hoje, o Brasil conta com cinco terminais para transformar o GNL de volta à forma gasosa. Três são da Petrobras – no Ceará, na Bahia e no Rio de Janeiro. Outros dois são projetos da iniciativa privada – em Sergipe e no Rio de Janeiro. E há mais um projeto privado em andamento no litoral de São Paulo. “São empreendimentos de infraestrutura de mais rápida implantação”, diz o consultor.

Outro fator é a garantia de fornecimento diante das incertezas de outras fontes. “A matriz elétrica brasileira tem relevante participação de fontes renováveis (hídrica, solar e eólica), que possuem relativa intermitência e sazonalidade. Assim, a flexibilidade do suprimento por GNL permite a implantação de plantas de geração termelétrica, garantindo o suprimento de energia no país e contribuindo para que tenhamos uma matriz limpa com segurança energética”, afirma Ramos.

Interiorização

O Brasil conta com cerca de 9.500 quilômetros de gasodutos de transporte. A maior parte está concentrada nas faixas litorâneas do país. Segundo o ex-diretor da Petrobras, a interiorização do gás natural poderá ser acelerada com os terminais de GNL. Hoje, cidades como Brasília, Uberlândia e Teresina não contam com acesso a gasodutos.

As térmicas a gás podem representar uma âncora de consumo para a chegada do gás ao interior. E não falta demanda no interior, segundo uma das maiores autoridades acadêmicas do país no setor, o professor do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (IEE/USP) Edmilson Moutinho dos Santos.

“O agrobusiness precisa de energia de boa qualidade, e o gás pode ser esse vetor”, diz o professor em entrevista à Bússola.  “O GNL é uma alternativa. Mesmo partindo da planta de liquefação conseguiríamos antecipar bastante a chegada do gás a alguns municípios do interior”, ressalta ele.

Cenário internacional

No mundo, o mercado de GNL está agitado. Em 2019, o segmento acumulou seis anos seguidos de crescimento, segundo os dados mais recentes da International Gas Union. A alta foi de 8,2% entre os anos de 2018 e 2019.

O crescimento foi motivado pelo aumento das exportações dos EUA e de países como Rússia, Austrália, Argélia e Egito. Entre os principais importadores estão países da Europa, como Reino Unido, França, Espanha, Holanda, Itália e Bélgica.

“Mesmo nos mercados mais desenvolvidos, a acessibilidade e a confiabilidade da energia limpa é uma questão fundamental, e a mudança para o gás natural oferece uma oportunidade enorme”, explica o presidente da IGU, Joe Kang, em relatório da entidade sediada em Barcelona.

Em 2019 circularam 354,7 megatoneladas de GNL pelos cerca de 200 terminais existentes no mundo. A frota mundial passa de 500 navios metaneiros. “No geral, o setor de GNL é um dos mais seguros do setor de energia, com um excelente histórico”, diz o consultor canadense Veldanda Rao, que conta com mais de 30 anos de experiência em GNL, em conversa por e-mail com a reportagem da Bússola.

“Historicamente, o GNL tem desempenhado um papel fundamental de segurança política, econômica e energética”, diz Rao, que é pós-graduado pela Universidade de Calgary. Como exemplos, o canadense cita três países: Japão, Coreia do Sul e Taiwan. “Foram os primeiros a adotar o GNL, nos anos 60. Eram regiões de alto crescimento que exigiam eletricidade para alimentar suas economias.”

Rao destaca que, além de resolver questões de segurança energética, o GNL é considerado uma plataforma de combustível confiável, capaz de ter preços transparentes e de proporcionar uma solução de baixo carbono.

Em uma economia de transição, de fontes mais poluentes para fontes mais limpas, as perspectivas são de crescimento do GNL. “A maioria dos especialistas especula que o crescimento do GNL ficará entre 4 e 6% nos próximos 20 anos”, afirma.

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