Como ajudar um jovem a fazer escolhas se ele nunca pôde fazê-las? (Max Mumby/Indigo / Colaborador/Getty Images)
Bússola
Publicado em 22 de setembro de 2022 às 11h00.
Por Silvia Adrião*
Os primeiros anos de vida são determinantes para a formação e o desenvolvimento das pessoas. O ciclo de violência, a fome, o desamparo e a falta de acesso a um ensino de qualidade são alguns dos fatores que ressoam para além da infância. O primeiro convite que fazemos é para que todos ajudem a propagar esta informação: a primeira infância tem um impacto muito importante no desenvolvimento humano e, pensando em termos populacionais, na formação da nação. Como afirma o importante pensador italiano, Francesco Tonucci: “ao longo da vida, todo o cimento sobre o qual se constroem nossa formação e nossa cultura foi adquirido nos primeiros anos de vida”.
Considerando essa informação, fazemos um segundo convite: pesquisem o que seus candidatos propõem para as políticas de primeira infância. É fundamental que coloquemos na gestão pessoas comprometidas com a saúde, a qualidade e o acesso a creches e escolas de Educação Infantil, alimentação digna, saneamento básico e tudo mais que seja necessário para garantir que as crianças possam ter seus direitos atendidos e, futuramente, se tornem cidadãos plenos e ativos na sociedade.
No site “Primeira Infância Primeiro”, organizado pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal para candidatos e gestores públicos, encontramos informações e recomendações para que as crianças sejam priorizadas. Vale lembrar mais uma vez Tonucci: o pensador italiano tem um largo trabalho dedicado a políticas públicas para que as cidades acolham as necessidades das crianças. Pensar o funcionamento da cidade pela ótica dos menores é uma forma de não esquecer ninguém, de tornar as cidades mais amigáveis com todos e de desenvolver espaços que favoreçam o brincar e a circulação segura para as crianças, os adultos e os idosos, a fim de concretizar um ambiente social mais equilibrado e feliz. Essa é uma pauta pela qual os candidatos a gestores públicos deveriam se interessar.
Por último, voltamos ao título deste texto: “política é papo de criança”. As crianças já nascem cidadãs de direitos e estão em processo de formação para o exercício da cidadania. Em casa e na escola, devem ter a oportunidade de aprender como é estar em sociedade. Devem aprender a ouvir e serem ouvidas, aprender a cuidar dos espaços compartilhados, reconhecer seus sentimentos e ter apoio na busca de estratégias para lidar respeitosamente consigo e com o outro. Devem participar de projetos coletivos que favoreçam a constituição de sua personalidade, em diálogo com o seu contexto, e se sentir parte integrante de um todo. É preciso promover oportunidades para que as crianças possam reconhecer e incentivar valores humanos com base no respeito, na tolerância e na empatia. Essas, e muitas outras, são ações que podemos e devemos desenvolver com as crianças para que, aos poucos, elas possam compreender as conexões que existem entre nossas escolhas e as consequências, e caminhem para a cidadania plena.
Como ajudar um jovem a fazer escolhas se ele nunca pôde fazê-las quando era pequeno? Como ajudar uma pessoa a ter atitudes sustentáveis, por exemplo, se na infância ela nunca teve a oportunidade aprender sobre o meio ambiente o seu valor para o equilíbrio da vida? Tudo isso é política. É o aprender para a cidadania. Uma prática importante é envolver as crianças na construção dos acordos e regras, seja em casa ou na escola. Participar desses processos é um exercício democrático. Então, sim! Política também é papo de criança.
*Silvia Adrião é diretora pedagógica da Escola AB Sabin
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