Bússola

Um conteúdo Bússola

Sentir para vender: a emoção como moeda-chave de consumo

Pesquisa revela que sensibilidade humana é, cada vez mais, a bússola que guiará a dinâmica entre marcas e consumidores

Estamos dispostos a sentir o mercado com a mesma intensidade que esperamos que o consumidor pode sentir nossos produtos?  (Milan Markovic/Getty Images)

Estamos dispostos a sentir o mercado com a mesma intensidade que esperamos que o consumidor pode sentir nossos produtos?  (Milan Markovic/Getty Images)

Bússola
Bússola

Plataforma de conteúdo

Publicado em 10 de junho de 2025 às 15h00.

Por Claudia Elisa Soares*

No último artigo que escrevi aqui para a Bússola-Exame, refleti sobre a dança entre bytes e humanos no controle das corporações. Agora, mudo a conversa para uma outra vertente, mas não menos atual e relevante: as emoções e o consumo. E a pesquisa "Consumidor do Futuro 2027: Emoções", da WGSN, nos oferece um mapa fascinante para entender essa nova paisagem.

A WGSN (Worth Global Style Network) é uma empresa líder mundial em previsão de tendências de consumo e desenvolvimento de produtos. Ela fornece insights, dados e previsões de consumo para marcas globais, auxiliando-as a identificar oportunidades de mercado e tomar decisões estratégicas. Por isso, seus estudos são valiosas fontes de informação.

Como você quer se sentir?

De acordo com a pesquisa, a pandemia catapultou as emoções para o centro das decisões de consumo. Por isso, elas são o caminho para entender o consumidor e impulsionar a inovação de produtos, o crescimento da empresa e o engajamento dos clientes. 

Nossas escolhas e as marcas que preferimos estão, mais do que nunca, ligadas ao que sentimos e não necessariamente ao ganho objetivo oferecido pela marca. Para as empresas, o sucesso futuro dependerá da capacidade de ressoar com esses impulsos emocionais. É uma virada de chave: do "o que você precisa" para o "como você quer se sentir".

É um recurso valioso para influenciar como os clientes reagem à história, aos produtos e às experiências da marca, moldando suas decisões de compra e fidelizando-os.

As 3 bússolas emocionais

A WGSN destaca três emoções-chave que moldarão 2027, ou seja, um futuro bem próximo. 

A primeira é a Alegria Estratégica. Em um mundo exausto por estresse e tédio, o consumidor buscará ativamente o brincar, a leveza e a efervescência coletiva. Cultivar a alegria não é apenas fundamental para  a saúde pessoal – é também para os negócios. 

Em uma pesquisa com mais de 2 mil australianos e neozelandeses, seis em cada dez disseram que marcas divertidas os faziam se sentir melhor. Nos EUA, por sua vez, trabalhadores infelizes custaram às empresas US$ 1,9 trilhão em perda de produtividade em 2023.

Essa emoção inspira as pessoas a adotarem hábitos e mentalidades positivas. Marcas que souberem injetar propósito e diversão em seus produtos e experiências, promovendo bem-estar e serenidade, terão um diferencial enorme. A alegria é, sim, um bom negócio.

Em seguida, temos a Desvontade – um conceito cunhado por John Koenig, autor de “O Dicionário de Tristezas Obscuras”, que surge como um antídoto ao estresse do trabalho e do ambiente digital, incentivando as pessoas a buscarem uma vida mais tranquila, com menos exigências, menos tarefas, laços mais significativos e menos solidão.

A "desvontade" se manifesta no "minimalismo de notificações" via celulares e na busca por desconexão digital, vista como autocuidado. Marcas que oferecem soluções para simplificar a vida e promover a "desabituação" (quebra de hábitos prejudiciais) estarão alinhadas com essa busca por leveza.

Por fim, o Otimismo Cético. No cenário de grandes transformações tecnológicas, especialmente com a IA, há um misto de encanto e apreensão. O consumidor de 2027 será otimista, mas com um pé atrás, questionando a polarização e a desinformação. 

Neste sentido, as empresas e os criadores de conteúdo  terão um papel vital na construção dessas realidades, seja para mitigar ou inflamar as dúvidas sobre o futuro. A responsabilidade de ajudar os consumidores a interpretarem um mundo em fluxo será fundamental para que eles alcancem a sabedoria, o equilíbrio e a confiança.

Sentir para liderar

Para as marcas, o desafio é construir confiança, oferecer equilíbrio e sabedoria em suas interações tecnológicas. Transparência e ética serão moedas de ouro para quem deseja navegar nesse cenário complexo.

Em suma, o futuro do consumo não é sobre o que as empresas vendem, mas sobre o que elas fazem os consumidores sentirem. Lideranças que investirem em compreender e responder a essas bússolas emocionais estarão não apenas à frente, mas construindo um legado de conexão e valor duradouro. 

A grande questão é: estamos nós, como líderes e organizações, dispostos a sentir o mercado com a mesma intensidade que esperamos que o consumidor sinta nossos produtos? 

Porque, no fim das contas, a verdadeira inteligência do futuro não estará apenas nos bytes, mas na nossa capacidade de decifrar e nutrir o coração humano.

*Claudia Elisa Soares é especialista em ESG e transformação de negócios e líderes e conselheira em companhias abertas e familiares.

Siga a Bússola nas redes: Instagram | Linkedin | Twitter | Facebook | Youtube 

 

Acompanhe tudo sobre:ConsumoComportamentoVendas

Mais de Bússola

Como a inteligência artificial está transformando treinamentos corporativos

Varejista investe em formação dos colaboradores com plataforma de conteúdo diversificado

Setor de energia elétrica avança na redução de passivo histórico

Rede social ESG aposta no Rio Innovation Week para ampliar sua presença