Educação e conscientização devem ser pilares centrais desse movimento para melhora da segurança viária (nirat/Getty Images)
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Publicado em 18 de dezembro de 2024 às 07h00.
Por Fátima Lima*
Nos últimos 20 anos, o Brasil passou por um crescimento vertiginoso em sua frota de motocicletas. Entre os anos 2000 e 2021, o país viu o número desse tipo de veículo crescer de 4 milhões para 30 milhões – um aumento de 650% que consolida as motos como um dos principais meios de transporte no país. Segundo pesquisa realizada em 2023 pela Fundação Getúlio Vargas, os trajetos realizados por motos e intermediados por aplicativos movimentaram mais de R$ 5 bilhões na economia – um impacto igual ou maior que o PIB de 95% dos municípios brasileiros.
Essa popularização, entretanto, ocasionou um aumento alarmante na sinistralidade. Enquanto entre os anos 2000 e 2004 foram registradas 18 mil mortes de motociclistas, entre 2015 e 2019, esse número triplicou, alcançando quase 60 mil mortes. Atualmente, os motociclistas representam 52% das mortes no trânsito e 85% das vítimas incapacitadas em acidentes viários.
Diante deste cenário, é cada vez mais essencial a integração entre as esferas pública e privada para a adoção de medidas efetivas em relação à segurança viária desse público. O mais recente estudo realizado pela Fundación MAPFRE, com desenvolvimento técnico do Instituto de Segurança no Trânsito (IST), buscou compreender o perfil, os hábitos, as dificuldades e as percepções dos motociclistas brasileiros e diagnosticou um cenário crítico sobre a mobilidade urbana no país.
Com mais de 1,2 mil entrevistados, que passaram por etapas quantitativas e qualitativas, os resultados do material revelam uma convivência preocupante entre a popularização desse meio de transporte e as lacunas ainda presentes na educação e na segurança viária desses condutores.
Dentre os resultados, o levantamento diagnosticou que 21,6% dos motociclistas começaram a pilotar antes de completarem 18 anos, sem a documentação necessária e desrespeitando a legislação vigente. O estudo também buscou compreender quais seriam as principais barreiras na obtenção da CNH-A: para 72,4% dos entrevistados, o custo elevado é a principal dificuldade.
Além disso, a maioria dos entrevistados (78,3% dos homens e 80,5% das mulheres) afirma não considerar as ruas e estradas seguras para motocicletas. Isso evidencia que, além do comportamento individual, as condições estruturais das vias são um fator crítico para a segurança, o que demanda ações concretas relacionadas à criação de espaços mais adequados para os motociclistas.
Para reverter esse quadro, é essencial fomentar uma cultura de responsabilidade no trânsito. O estudo, com o apoio dos próprios motociclistas entrevistados, também aponta caminhos claros: cursos de direção defensiva, simulações de situações de risco e treinamentos práticos em autoescolas foram as medidas mais mencionadas e que, sem dúvida, podem ajudar a salvar vidas. Porém, isso exige não apenas ações isoladas, mas um esforço coordenado entre os setores público e privado e a sociedade civil.
Educação e conscientização devem ser pilares centrais desse movimento. Campanhas educativas, como sugerido pelos próprios motociclistas no estudo, podem fazer a diferença ao informar sobre os perigos de práticas inadequadas e reforçar a importância de seguir as regras de trânsito. Mais do que números e análises, o que está em jogo são vidas. Investir na segurança viária dos motociclistas é um tema urgente que o Brasil não pode mais adiar. Afinal, em um país onde a motocicleta é uma ferramenta de trabalho, transporte e inclusão, proteger seus condutores é proteger o futuro da nossa mobilidade.
*Fátima Lima é representante da Fundación MAPFRE no Brasil
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