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Segurança jurídica e clareza regulatória são base para Brasil liderar cadeia global de baterias

CEO da Sigma Lithium, Ana Cabral, disse em audiência no Senado que país tem oportunidade de “ouro” para ocupar espaço estratégico

Ana Cabral criticou a desinformação promovida por setores internacionais que tentam minar a imagem do lítio brasileiro. (Sigma Lithium/Divulgação)

Ana Cabral criticou a desinformação promovida por setores internacionais que tentam minar a imagem do lítio brasileiro. (Sigma Lithium/Divulgação)

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Publicado em 7 de julho de 2025 às 10h05.

Durante audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, a CEO da Sigma Lithium, Ana Cabral, reforçou o papel estratégico do Brasil na cadeia global de minerais críticos e destacou os efeitos sociais e econômicos já visíveis no Vale do Jequitinhonha (MG), região historicamente marcada por pobreza e que hoje é considerada referência em desenvolvimento sustentável.

“Em 2021, quando estive aqui, o Vale era conhecido como o vale da miséria. Hoje, é modelo global das Nações Unidas. O IDH da região já se iguala ao do Brasil. Cresce 20% ao ano. Isso são números de tigre asiático, quando crescia deste jeito”, disse ao defender a importância da previsibilidade regulatória como motores de transformação econômica.

Brasil e o boom global dos elétricos

Para Ana Cabral, o crescimento da mobilidade elétrica representa uma oportunidade inédita para a economia verde brasileira. “O crescimento dessa indústria de carros elétricos na Europa é uma oportunidade para o Brasil. Existem partes do mundo que se preocupam com a origem dos ingredientes da bateria – e nós podemos liderar com rastreabilidade, sustentabilidade e energia limpa.”

Ela apontou que o maior mercado do mundo, a China, cresce 43% ao ano nas vendas de veículos elétricos. “Imagine se as vendas de carro no Brasil crescessem no mesmo patamar ao ano”, comparou.

Nesse cenário, o lítio é insumo crítico por ser difícil de substituir – mas não é escasso. “Ele é abundante e barato. Está em todo lugar. A exportação não ameaça a segurança nacional, pelo contrário: ela é vital para a viabilidade econômica das pesquisas minerais”, afirmou. 

Mais de 50% da população ligada ao lítio

Segundo Ana Cabral, o projeto da Sigma no Jequitinhonha já gera 1.700 empregos diretos e 18 mil indiretos. Outros 21 mil postos de trabalho foram criados a partir de programas de sustentabilidade iniciados em 2021. “Mais da metade da população economicamente ativa da região está conectada à Sigma. Isso é desenvolvimento na veia”, disse, citando que arrecadação de impostos aumentou em 150% em Itinga e com 50% em Araçuaí, graças à chegada da indústria do lítio na região. 

Ela apresentou ainda os resultados do programa Fome Zero da empresa, que distribui 3 milhões de refeições por ano a famílias em situação de extrema pobreza. Destacou o programa de Volta ao Lar que permitiu o retorno de 1.700 trabalhadores migrantes à região. 

“As chamadas viúvas da Vale hoje são microempreendedoras. Criamos um programa com 10 mil mulheres, treinamos 2 mil, e já impactamos 11 mil pessoas diretamente”, detalhou.

Sustentabilidade, infraestrutura e escala global

A executiva da Sigma listou os investimentos sociais e estruturais realizados no território: construção de quatro escolas, implantação de 8,4 mil sistemas de irrigação, e infraestrutura para permitir que crianças deixassem de carregar água para estudar. 

“Hoje, as mães estão na mina, com capacete e EPI. E a arrecadação em municípios como Itinga já subiu 150%.”

Segundo ela, a BR-362, entregue pelo governo federal, foi decisiva para viabilizar o escoamento da produção e abrir a região para o mundo. “Dá para ter dez Sigmas no sertão. Lítio existe em lugares onde chove pouco – o semiárido nordestino tem enorme potencial”.

Oportunidade de liderar o meio da cadeia

Ana Cabral defendeu que o Brasil pode ocupar um espaço estratégico na cadeia de baterias, principalmente no “meio da cadeia”, que envolve o processamento de materiais e tem alto valor agregado. “Temos matriz elétrica limpa, baixa emissão e padrões ambientais rígidos. Dá para fazer sustentável. É aí que está a oportunidade de ouro”.

Ela também alertou que a concorrência internacional avança com previsibilidade regulatória. “Você não está falando de nenhum país de que a gente não consegue ganhar no futebol. E dá pra ganhar no lítio. O que eles têm? Segurança jurídica e previsibilidade. Quando alguém coloca  dinheiro num país desses - Argentina, Indonésia, Malásia e Marrocos - sabe que não vai ter nenhuma surpresa desagradável”

O mundo não gosta de ver o Brasil ganhando o jogo de forma limpa

Citou o exemplo da intervenção estatal do Chile em sua indústria de mineração que afastou investimentos no país. “Segurança jurídica é o que atrai. Não pode haver mudança de regras no meio do jogo.”

Ana Cabral também comentou investimentos em novos projetos que a região vem recebendo do segmento de lítio. Ela elogiou a chegada da australiana PLS ao Brasil que adquiriu o projeto Colina, em Salinas da Latin Resources, transação avaliada em aproximadamente US$ 370 milhões. “Dos US$ 5 bilhões investidos no Brasil, a maior parte é resultado da atuação da Sigma e do recente anúncio de investimento da PLS”

Ana Cabral criticou a desinformação promovida por setores internacionais que tentam minar a imagem do lítio brasileiro.

Combate à desinformação e ao garimpo ilegal

Ana Cabral criticou a desinformação promovida por setores internacionais que tentam minar a imagem do lítio brasileiro. “O mundo não gosta de ver o Brasil ganhando o jogo de forma limpa. Mas é aqui que está o único lítio zero do mundo: zero barragem, zero químico, zero rejeito, zero água potável, zero carbono. É uma indústria de alta tecnologia, digitalizada, com algoritmo próprio e trabalhadores locais.”

Ela contrastou a operação da Sigma com o cenário de exploração predatória em países africanos. “Se for para ser uma nova Serra Pelada, é melhor ficar com petróleo. Mas o Brasil pode provar que dá para fazer direito.”

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