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Se não for abrasileirado, ESG não faz sentido nenhum

"Temos desafios históricos a superar que são só nossos, ao mesmo tempo que pululam oportunidades globais", afirma Renato Krausz na coluna Bússola ESG desta semana

Debatedores durante o evento “ESG à brasileira”, na FGV (Piti Reali/Divulgação)

Debatedores durante o evento “ESG à brasileira”, na FGV (Piti Reali/Divulgação)

Renato Krausz
Renato Krausz

Sócio-diretor da Loures Consultoria - Colunista Bússola

Publicado em 1 de novembro de 2023 às 13h00.

Última atualização em 1 de novembro de 2023 às 13h20.

O ESG é um fenômeno global que fica totalmente desprovido de sentido sem uma alma local. Até porque boa parte dos nossos riscos e oportunidades nada tem a ver com os riscos e as oportunidades da Noruega, para citar só um exemplo. Aí vão algumas informações que comprovam isso.

Anualmente, 43 milhões de pessoas faltam ao trabalho no Brasil por doenças causadas por questões hídricas. A maioria delas é de mães que precisam se ausentar para cuidar dos filhos adoentados. Mais de 30 milhões de brasileiros não possuem acesso à água potável, e 100 milhões não têm esgoto. E aqui se perde 42% de toda água produzida.

R$ 1 trilhão seria incorporado na economia brasileira se os negros obtivessem igualdade salarial com os brancos. 

E aí vai mais um motivo para abrasileirar a coisa toda: ao mesmo tempo que chafurdamos num saneamento medieval com uma desigualdade colonial, a nova conjuntura internacional tem criado vantagens comparativas absolutamente inéditas para o Brasil. Aqui estamos falando sobretudo de energia renovável, biodiversidade, minerais críticos e produção de alimentos. Mas não é só isso. Em meio à escalada bélica que lamentavelmente se abate sobre o planeta, temos uma situação geopolítica estável e, com exceções aqui e ali, uma atuação diplomática em favor da paz.

Esses e outros assuntos foram discutidos por uma bancada de feras no evento “ESG à brasileira”, organizado no último sábado (28/10) pelo Alumni da Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getulio Vargas, com presença dos professores da casa Gesner Oliveira e Annelise Vendramini, das executivas Karla Bertocco, presidente do conselho da Sabesp, e Natália Dias, diretora de Mercado de Capitais e Finanças Sustentáveis no BNDES, e o secretário-geral do Gife, Cassio França.

Como frisou a professora Annelise, a prosperidade é o que dá às pessoas a escolha de como querem viver, porém, nós não a obteremos sem crescimento econômico. Os países prósperos têm renda per capita em torno de US$ 40 mil por ano. A nossa está em US$ 9 mil, bem menor que a de outros países da América Latina, como o Chile – US$ 25 mil.

Como se dará esse crescimento é o X da questão. Precisamos atrair investimentos e trabalhar em conjunto, remando para o mesmo lado, com todos os entes envolvidos: setor público, empresas e terceiro setor. Tudo isso sob uma égide inquebrantável de segurança jurídica e previsibilidade regulatória, além, é claro, de objetivos muito bem definidos: universalizar o saneamento, diminuir as desigualdades, qualificar nossa mão de obra (tanto técnica quanto superior) e fazer do Brasil uma potência verde. Temos tudo para ser o primeiro país net zero do G-20. 

Então vamos lá. Todos devemos arregaçar as mangas e nos lançar a isso. E para o pessoal do Alumni FGV Eaesp, um pedido: promovam mais debates assim.

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