Visão aérea da Praça dos Correios, no centro de SP (Embratur/Divulgação)
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Publicado em 12 de março de 2024 às 14h58.
Por Rodrigo Gonzalez*
São Paulo, assim como outras metrópoles, sofre há anos com a degradação de suas áreas centrais, que padecem com o esvaziamento de moradores, perda de investimentos pela fuga de empresas e escritórios e, principalmente, pela falta de segurança.
A necessidade de revitalização do centro, palco de parcela significativa de nosso patrimônio artístico, histórico, cultural e arquitetônico, produziu raro consenso no debate político municipal, o qual não se estende, no entanto, às estratégias necessárias e viáveis para atingir tal objetivo.
Cenário de diversas operações de recuperação da região central desde a década de 80, a maioria com resultados decepcionantes, a cidade conta atualmente com inédita vontade política para solucionar o problema, expressa em iniciativas legais e administrativas de fôlego, que nos fazem acreditar que, finalmente, é dada ao centro a chance de reviver seus melhores momentos.
Dentre essas iniciativas destaca-se o Programa Requalifica Centro, instituído pela Lei Municipal 17.577/21, que visa fomentar a requalificação de edifícios na área central da cidade por meio de incentivos regulatórios e fiscais, tais como:
Podem participar do Programa Requalifica Centro edificações construídas até 23 de setembro de 1992 ou licenciadas com base na legislação edilícia vigente até aquela data e localizadas em um perímetro estimado em 6,4 km² da região central.
Merecem ainda menção a Lei 17.844/22, que instituiu e regulamentou a Área de Intervenção Urbana do Setor Central e estabelece isenção de cobrança de outorga onerosa durante o prazo de cinco anos, e a Lei 17.332/22, que cria o Triângulo São Paulo na região central como um polo incentivado de atividades sociais, culturais e turísticas.
Ciente de que a recuperação do centro não pode se dar exclusivamente pela reciclagem de seus edifícios, a prefeitura de São Paulo tem ainda levado a cabo, nos últimos anos, uma série de obras de recuperação do espaço público, tais como a reforma do Anhangabaú, a concessão de uso do terraço do Edifício Martinelli, a implantação do mirante Belvedere Roosevelt e a requalificação do cruzamento das avenidas Ipiranga e São João.
Os incentivos vêm dando resultado, e a Prefeitura informa ter aprovado nos últimos meses um projeto de retrofit a cada 18 dias, alguns deles muito emblemáticos, como a reforma do Edifício Renata, já concluído, e o projeto de revitalização do Edifício Virginia – o qual tivemos o privilégio de contribuir, na condição de advogados dos incorporadores, desde a negociação da compra do edifício até o protocolo do Memorial de Incorporação.
Face às centenas de edifícios da região central que demandam a revitalização de suas estruturas e a releitura de suas funcionalidades, ainda há muito por fazer. Cada edifício recuperado é um pólo propulsor da economia de seu entorno e, para acelerar esse processo, a Prefeitura de São Paulo resolveu ir além dos incentivos, custeando até 25% dos custos das obras de revitalização.
Foi destinado R$ 1 bilhão para a subvenção de projetos que atendam aos requisitos estabelecidos pelo Decreto nº 62.878, de 30 de outubro de 2023, e o primeiro edital para seleção de projetos de revitalização, no valor de R$ 100 milhões, foi publicado no último dia 16 de novembro.
As condições estão dadas. Agora está nas mãos das empresas do setor da construção civil a oportunidade de fazer bons negócios e contribuir para a revitalização do centro de São Paulo e, em última análise, para a preservação de nossa cultura e identidade. Tem tudo para dar certo, mas é preciso agir imediatamente.
*Rodrigo Gonzalez é advogado, especialista em Direito Tributário pelo Instituto Brasileiro de Direito Tributário, especialista em Administração de Empresas pela FGV e sócio da EGS Advogados.
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