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Ritmo da vacinação cresce 72% em duas semanas, mas caminho ainda é longo

Se o ritmo atual de vacinação se mantiver, a sonhada imunidade de rebanho levaria cerca de um ano para ser atingida

Vacinação contra covid-19 no Brasil. (Alexandre Schneider/Getty Images)

Vacinação contra covid-19 no Brasil. (Alexandre Schneider/Getty Images)

Mariana Martucci

Mariana Martucci

Publicado em 29 de março de 2021 às 17h11.

Última atualização em 29 de março de 2021 às 20h16.

A pandemia de coronavírus segue em forte aceleração no Brasil, que já acumula 312.206 óbitos por covid-19. Neste domingo, a média móvel de mortes atingiu recordes 2.595 óbitos diários, um crescimento de 42% nas duas últimas semanas, quando a média diária estava em 1.831 mortes.

Estamos há 67 dias consecutivos com mais de 1.000 mortes registradas em média por dia, e ainda com tendência de elevação.

Desde 20 de fevereiro, o número de casos e mortes registradas sobe em espiral. Naquele dia, estávamos em média com 1.064 mortes e 47.056 casos novos por dia. Agora, são 2.595 mortes (alta de 144%) e 76.636 casos por dia (crescimento de 63%). Os dois indicadores estão no pior patamar de toda a pandemia — conforme mostram os gráficos abaixo do Conass —, e muito acima do platô de três meses vivido na primeira onda, entre o final de maio e o final de agosto do ano passado.

(Bússola/Reprodução)

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O número de casos ainda em elevação mostra que o contágio segue acelerado no país, indicando que o número de mortes ainda tende a crescer nas próximas semanas. E, por enquanto, o efeito da vacina, já comprovado em países como Israel, Estados Unidos e Reino Unido, ainda não impactou significativamente na redução do contágio no Brasil.

O ritmo do processo de imunização no país segue muito aquém do esperado, mas começa a dar sinais de alguma aceleração. Dados compilados pelo Laboratório de Estudos Espaciais do Centro de Pesquisas Computacionais da Rice University (www.vacinabrasil.org), do Texas, nos Estados Unidos, mostram que a cada dia mais pessoas recebem doses das vacinas distribuídas pelo Butantan e pela Fiocruz.

Neste domingo, a média móvel de doses aplicadas por dia chegou a 582.626 (veja gráfico), um crescimento de 53% em uma semana e de 72% em duas semanas, quando a velocidade da vacinação finalmente começou a subir. Na sexta-feira da semana passada (último dia útil com dados disponíveis), foram aplicadas 922.481 doses, volume 72% superior às 535.747 doses registradas na sexta-feira anterior, 19 de março. Não deixa de ser um ótimo sinal, mas ainda é pouco.

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Como todas as vacinas aplicadas no Brasil requerem duas doses por pessoa, em uma conta hipotética podemos dividir por dois a média móvel (hoje em 582.600) para chegarmos à velocidade estimada de pessoas realmente imunizadas pela vacinação. Ou seja, hoje estaríamos imunizando por dia cerca de 291.300 brasileiros.

Como temos até aqui apenas 4,7 milhões de brasileiros que receberam as duas doses, significaria dizer que, no ritmo atual, levaríamos quase dois anos para imunizar toda a população. Para se chegar a 50% de imunizados, patamar mínimo para termos alguma imunidade de rebanho, seria necessário quase um ano na atual velocidade.

Caso o atual ritmo dobre para 1 milhão de doses aplicadas por dia, como prevê o Ministério da Saúde, ainda assim a vacinação de metade dos brasileiros levaria cerca de seis meses. Diante desse cenário, a projeção é que alguma imunização de rebanho não seja atingida no Brasil antes do final de 2021, talvez no início de 2022.

Curto prazo

Enquanto a tão sonhada imunidade de rebanho não é atingida, a situação segue caótica em todo o país, com falta de UTIs, medicamentos e profissionais especializados em tratamento intensivo. Dados compilados pela Rede Brasileira de Pesquisa em Medicina Intensiva e também pela Fiocruz, ambos divulgados pelo jornal O Globo, mostram que 40% das mortes por covid-19 hoje no Brasil se dão entre pacientes que não conseguem sequer chegar a uma UTI. E, para piorar, de cada dez pacientes que conseguem um leito, oito morrem.

Seguimos no momento mais letal da pandemia no Brasil. E no horizonte de curto prazo não há nada indicando um refluxo dessa intensa segunda onda por aqui. As próximas semanas ainda devem ser de piora nos números, com alguma melhora a partir de maio ou junho. Mas aí teremos a ameaça de uma terceira onda, já enfrentada por muitos países europeus. A torcida é que, quando isso acontecer no Brasil, a vacinação já tenha atingido parcela considerável da população.

*Marcelo Tokarski é sócio-diretor do Instituto FSB Pesquisa e da FSB Inteligência.

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