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Renato Krausz: Afinal, de quem você não aceitaria nenhum tostão?

Nova escola de sustentabilidade de Stanford nem começou a operar e já encara uma crise: deve receber ou não dinheiro do petróleo?

Pressão contra empresas intensivas em carbono tem aumentado muito (Lukas Schulze/Getty Images)

Pressão contra empresas intensivas em carbono tem aumentado muito (Lukas Schulze/Getty Images)

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Publicado em 26 de maio de 2022 às 11h27.

Por Renato Krausz*

Mal acabou de nascer e a escola de sustentabilidade da Universidade de Stanford já está envolta em polêmica. As aulas na Doerr School of Sustainability só começarão em setembro, mas alunos, ex-alunos e professores de Stanford, na Califórnia, se mobilizaram antes disso para enviar uma carta aberta pedindo que a nova faculdade recuse dinheiro de empresas petrolíferas.

O motivo foi uma entrevista que o reitor da Doerr School, Arun Majumdar, deu ao New York Times, dizendo que a escola receberia numa boa doações dessas companhias, pelo fato de estar disposta a trabalhar com empresas que desejem diversificar seus negócios e fazer parte da solução dos problemas ambientais que afligem o mundo.

A reação foi imediata. Quem relata o bafafá é o próprio Times, em artigo assinado por Manuela Andreoni. Os querelantes alegam que é um baita conflito de interesses aceitar dinheiro de quem tem “histórico comprovado de obscurecer ativamente o consenso científico sobre as mudanças climáticas”.

A pressão contra essas empresas tem aumentado mesmo. Segundo o Times, em discurso de formatura feito na última terça-feira (24) na Universidade de Seton Hall, em Nova Jersey, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, pediu aos estudantes que evitassem as empresas de combustíveis fósseis.

Em entrevista ao jornal, a estudante de doutorado de Stanford Celina Scott-Buechler traçou um paralelo entre isso que está acontecendo hoje com as petroleiras e o que já aconteceu com a indústria do tabaco, com a qual praticamente todo mundo, a não ser os fumantes, parou de se relacionar. Ambos os setores enfrentam processos judiciais pelos malefícios que causam.

Mas o próprio Times ressalva que, ao contrário dos cigarros, os combustíveis fósseis são fundamentais para a vida moderna — o jornal aceita atualmente anúncios da indústria de óleo e, desde 1999, rejeita os da de fumo.

O cerne da polêmica entre aceitar ou não dinheiro dessa ou daquela companhia é semelhante com o dilema que gestores de recursos têm se deparado na hora de colocar ou não uma grana nelas: devo desinvestir de empresas intensivas em carbono ou me envolver com elas para ajudá-las a fazer uma transição mais rápida e transparente?

No mundo do ESG, essas duas posturas redundam em duas diferentes estratégias de alocação de capitais: o filtro negativo e o engajamento acionário. A segunda tem se sobressaído nos últimos tempos, apesar de toda a pressão de diferentes ONGs e outros setores da sociedade pelo desinvestimento.

O argumento mais usado em prol do engajamento acionário tem lá sua lógica: se o investidor tira o dinheiro, a empresa pode fechar o capital e ficar livre de qualquer possibilidade de mudança ou de pressão de acionistas preocupados com as mudanças climáticas.

Faz sentido, mas creio que há dois motivos mais fortes: a necessidade e, bem, ele, o dinheiro. A guerra na Ucrânia mostrou ao mundo a faceta mais cristalina da necessidade ao escancarar a indispensabilidade de termos reservas estratégicas de óleo e gás.

Aí vem o dinheiro. No último dia 10, a BlackRock soltou um relatório dizendo que este ano apoiará um número menor de propostas climáticas apresentadas por acionistas, pelo fato de elas terem se tornado ativistas demais e descompromissadas com a criação de valor no longo prazo para os investidores.

Enquanto isso, no Brasil, mesmo com toda a efervescência política em torno da Petrobrás, analistas seguem recomendando a compra de ações da empresa, que deve pagar dividendos recordes no mês que vem.

Fato é que vivemos numa eterna sinuca de bico. Aceitar o dinheiro ou rejeitá-lo? Aportar ou desinvestir? No fim das contas, o que se impõe é o grande duelo entre a visão de curto e a de longo prazo.

Precisamos encontrar um novo equilíbrio entre elas. Até porque não se chega no longo prazo sem enfrentar a inclemência do curto. E, por outro lado, trabalhar somente no curto pode tornar todo e qualquer avanço sustentável uma pequena vitória de uma grande derrota.

* Renato Krausz é sócio-diretor da Loures Comunicação

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