(Mensent Photography/Getty Images)
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Publicado em 11 de agosto de 2025 às 07h00.
A cadeira de CEO nunca esteve tão instável. Em 2024, 373 CEOs de empresas de capital aberto saíram de suas companhias — 24% a mais do que em 2023, segundo a Challenger, Gray & Christmas. Já entre os negócios americanos com pelo menos 25 funcionários, 2221 executivos-chefes se despediram: um recorde histórico.
Para Milena Fonseca, sócia e CEO da ACE Cortex, consultoria de inovação para corporações, a alta rotatividade está diretamente ligada às profundas transformações do mercado nos últimos anos.
“Houve um movimento significativo de empresas entrando em novos setores que não necessariamente eram seu core business. Isso gera uma movimentação que chamamos de ‘entropia de mercado’, uma desordem em que não sabemos mais de onde vai vir a próxima mudança”, diz a executiva.
72% dos CEOs acreditam que suas empresas não serão viáveis em dez anos se não se reinventarem. “Este é um movimento de multidestria, onde as organizações precisam continuamente se reestruturar e se posicionar em novos mercados. Isso traz uma complexidade de gestão que o executivo tradicional, que cresceu numa trilha de carreira dentro da própria corporação, muitas vezes não está acostumado”, aponta Milena.
Essa mesma lógica se aplica, com nuances próprias, ao universo das startups. Nesse ambiente, a velocidade das transformações exige que os fundadores migrem rapidamente do papel de executores para o de líderes estratégicos.
Para Cristina Mieko, head de Startups do Sebrae, o maior desafio está justamente nessa transição. “É difícil deixar a mentalidade de executor individual, o que se traduz em microgestão, baixa delegação e foco excessivo no produto. Muitas vezes os fundadores evitam conversas difíceis porque se sentem inseguros sobre sua capacidade, enfraquecendo a cultura e atrasando decisões complicadas sobre a equipe”, diz.
A IA vem ocupando um papel cada vez mais central nas decisões estratégicas, mas também gerando inseguranças. Uma pesquisa da Cisco com mais de 2500 CEOs, 501 deles da América do Sul, mostrou que para 58% dos entrevistados, o próprio nível de entendimento sobre IA pode comprometer o crescimento do negócio.
Essas preocupações, somadas à sensação generalizada de desconhecimento sobre o real impacto da IA nos empregos, se refletem nas experiências de quem está na linha de frente.
Cristina reforça que o domínio da IA é uma das competências mais exigidas para os líderes de startups.
“Eles precisam dominar três frentes: fluência nos modelos e tecnologias de IA (mesmo sem saber programar), transformar a responsabilidade sobre dados e segurança em competitividade e ser ágil para navegar na incerteza. É necessário combinar pensamento crítico, decisão baseada em dados e disposição para redesenhar todo o plano, comunicando cada mudança à equipe e alinhando os cofundadores”, resume.
“A conexão com o ecossistema é essencial para qualquer líder que deseje inovar, antecipar tendências e fortalecer sua visão estratégica. Estar inserido em uma rede de trocas com empreendedores, indústrias, investidores, universidades e instituições de fomento amplia repertório, gera parcerias e estimula soluções mais conectadas com as necessidades reais do mercado”, explica Moacir Marafon, vice-presidente de Talentos da ACATE (Associação Catarinense de Tecnologia), que tem mais de 1800 empresas associadas.
Para Milena esse contato com o "fora" é essencial não só para trazer novas ideias, mas para transformar a forma como os líderes percebem suas próprias empresas.
“Em empresas tradicionais, é comum que os profissionais sejam guiados para fazer aquilo que foram contratados, com uma visão única da organização. É quase como se você olhasse um objeto 3D, cada pessoa que olhar o objeto de um ângulo vai ver um objeto diferente, certo? Mas a gente precisa ensinar esses líderes a enxergarem o objeto inteiro, ensinar sobre negócio, tecnologia, como identificar competidores, como liderar a transformação”, destaca.
Preparar a próxima geração de líderes exige mais do que visão estratégica e sucessão estruturada: requer também um compromisso real com a diversidade. Talita Matos acumulava reconhecimento de mercado sobre temas de diversidade após mais de 15 anos de atuação no terceiro setor.
Com o aumento da demanda por estratégias de inclusão no ambiente corporativo, passou a ser procurada por empresas interessadas em desenvolver programas mais consistentes. Para atender a esses chamados, fundou a Singuê — consultoria de diversidade, equidade e inclusão — ao lado do sócio Eliezer Leal.
“Existe uma demanda por formação de líderes que não se aprende nas faculdades de administração ou escolas de negócios: é um aprofundamento das realidades históricas e sociais do país que se aprende em cursos como ciências sociais e psicologia, mas que podem e devem ser aplicados às realidades das empresas e demais organizações para que tenham como crescer considerando o contexto do Brasil real, e não o estereótipo convencional”, explica Matos.
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