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Rafael Kenji: como a inteligência artificial tem ajudado a medicina a ir mais longe

Tecnologia é um dos principais motores da chamada Saúde 4.0, próxima fase de inovações no setor

AI robot using a microscope in the scientific laboratory: artificial intelligence and research concept (demaerre/Getty Images)

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Publicado em 7 de agosto de 2024 às 07h00.

*Por Rafael Kenji Hamada, médico, empreendedor e especialista em inovação 

A evolução tecnológica está transformando diversos setores da sociedade. Também chamada de Saúde 4.0, o uso e o desenvolvimento de soluções tecnológicas no setor da saúde se tornaram cada vez mais frequentes no centro de discussões, com debates voltados às suas aplicações e desafios. Essas ferramentas são capazes de otimizar processos, ampliando o acesso e melhorando o atendimento à população, evitando também desperdícios. Dentro do conceito, existem os 4 Ps da Saúde 4.0: Prevenção, Predição, Participação e Personalização. Esse conceito aproxima o paciente da saúde, tornando o seu cuidado mais humanizado e coordenado.

Entre os recursos tecnológicos em desenvolvimento e aperfeiçoamento estão a inteligência artificial (IA), big data, robótica e a internet das coisas (IoT). A IA, em particular, está revolucionando a maneira como os profissionais de saúde trabalham e os pacientes são atendidos. Desde o primeiro contato, até o acompanhamento pós-consulta, a tecnologia está presente, tornando os processos mais eficientes e personalizados durante toda a jornada do cuidado.

Prevenção, predição e apoio à tomada de decisões

A inteligência artificial, com o auxílio de big data, é capaz de identificar padrões de adoecimento e comportamento da população, permitindo ações preventivas e preditivas. Isso é crucial para evitar doenças crônicas, como o câncer de pulmão associado ao cigarro e problemas cardiovasculares relacionados à má alimentação e sedentarismo. Com uma abordagem participativa e personalizada, que coloca o usuário no centro do cuidado, a IA já está presente no dia a dia da população. Isso não só melhora a adesão dos pacientes aos tratamentos, como também os ajuda a entender melhor suas condições e evitar o surgimento de novas doenças.

A tecnologia também já é empregada para apoiar os profissionais em diversas frentes, como na complementação de leitura e síntese de conteúdos científicos, para orientar melhores condutas terapêuticas, e apoio à validação de estudos clínicos. Além disso, empresas têm utilizado IA para transcrever e documentar consultas médicas, embora essa aplicação ainda exija a revisão e validação dos profissionais, reduzindo de forma expressiva o tempo demandado para burocracias.

Estudos da Universidade de Harvard, no Massachussets General Hospital, apontaram que os médicos passam, em média, 8h por dia preenchendo documentos e informações dos atendimentos.  Com a inteligência artificial, 90% dos documentos elaborados foram aceitos pelos médicos, com apenas 10% de ajustes realizados. Ou seja, em 24 horas, o hospital tem uma economia de 7,5 horas por médico, que pode atender mais pacientes nesse tempo, ou até mesmo resultar em uma redução do número de profissionais para atender a mesma quantidade de pacientes. Dessa forma, a aplicação da IA gera maior efetividade e economia para o hospital, sem resultar em uma queda da qualidade do serviço, já que o tempo economizado está relacionado ao preenchimento de burocracia e informações dos atendimentos e procedimentos.

Esse recurso tecnológico também tem sido utilizado para tarefas de triagem e análise de exames, como na detecção precoce de câncer em imagens radiológicas. Porém, é importante ressaltar que a tecnologia deve ser vista como uma ferramenta de apoio e não como substituta do profissional, que mantém a responsabilidade final pelas decisões e condutas.

Os riscos e desafios do uso da IA na saúde

Ainda em fase de expansão e implementação em grande parte dos hospitais brasileiros que saíram na frente no uso da tecnologia, o grande desafio, além da adaptação e curva de aprendizado, é a garantia da segurança dos dados, pois informações sensíveis e pessoais são analisadas. O vazamento de dados em saúde pode ter consequências graves, especialmente para pacientes com doenças estigmatizantes, condições sensíveis ou politicamente expostos. Portanto, é essencial que as instituições implementem tecnologias de criptografia e tokenização, além de protocolos rigorosos para garantir a segurança das informações dos usuários.

Além da segurança, a maturidade do segmento em relação ao uso da IA varia significativamente. No Brasil, por exemplo, embora mais de 80% dos lares tenham acesso à internet, há disparidades significativas entre as grandes capitais e as cidades mais remotas. Existe dificuldade até mesmo na implantação de novas tecnologias, como o 5G, devido à extensão do Brasil e as divergências socioeconômicas em cada região. A regulamentação da telemedicina, que só foi devidamente estabelecida em dezembro de 2022, ilustra a lenta adaptação das legislações às novas tecnologias. A falta de infraestrutura adequada e de processos padronizados também são obstáculos.

Recentemente, no dia 29 de julho, o Governo Brasileiro aprovou o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial, abrindo espaço para o incentivo ao uso da IA, com estímulo a investimentos e discussões a nível nacional e internacional. Assim como temas envolvendo a regulação de determinados usos de tecnologias e ferramentas da internet, a IA precisará passar por um rigoroso ciclo de debates, para que a tecnologia seja adequadamente aplicada em todos os setores, de forma segura e coordenada. O uso inadequado da tecnologia, como os chamados deep fake, colocam em risco a integridade das informações, facilitando fraudes, como já visto em algumas situações, com o uso inadequado da inteligência artificial para a criação de vídeos com a imagem e voz de personalidades.

No setor da saúde, menos de 50% dos hospitais brasileiros estão preparados para tratar dados de maneira segura. Para que a saúde 4.0 e a inteligência artificial alcancem todo o seu potencial, é necessário não apenas adotar tecnologias avançadas, mas garantir a segurança e a privacidade das informações, além de adaptar as regulamentações e processos institucionais para suportar essa nova realidade. Desta forma, é possível utilizar a inteligência artificial para ampliar e facilitar processos, apoiar a tomada de decisões, melhorar a assertividade de exames de imagem e melhorar a jornada do usuário em toda sua cadeia de cuidado.

*Rafael Kenji Hamada é médico, fundador da Academy Abroad e CEO da FHE Ventures e da HealthAngels Venture Builder, fundos de investimento no formato de venture builder, com tese em saúde e educação.

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