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Quais são as cinco previsões resultantes do novo ensino médio

Mudanças importantes foram aprovadas por parte do Estado e, neste ano, começou a implementação do novo modelo

Dos adolescentes, 73% afirmam que as escolas não os preparam para a vida adulta e um em cada 20 abandona o ensino médio, segundo dados do Inep (NELSON ALMEIDA/AFP/Getty Images)

Dos adolescentes, 73% afirmam que as escolas não os preparam para a vida adulta e um em cada 20 abandona o ensino médio, segundo dados do Inep (NELSON ALMEIDA/AFP/Getty Images)

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Publicado em 29 de abril de 2022 às 12h23.

Última atualização em 29 de abril de 2022 às 12h41.

Por Gabriel Gonçalves*

A educação básica brasileira tem um calcanhar de aquiles: o ensino médio. Hoje, 73% dos adolescentes afirmam que as escolas não os preparam para a vida adulta e um em cada 20 abandona o ensino médio, segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), de 2020. Em busca de resolver esse problema, mudanças importantes foram aprovadas por parte do Estado e, neste ano, começou a implementação do novo modelo. Veremos cinco prováveis mudanças na educação básica brasileira.

As escolas terão especialidades técnicas

As novas regras do ensino médio aumentam em 600 horas a carga horária dos alunos e criam um currículo flexível chamado de itinerários formativos que irá ocupar 40% da nova carga horária. Isso aumentará em aproximadamente 57% os custos com professores para as escolas, sendo que este já é o setor mais oneroso para as instituições.

São cursos e disciplinas de segmentos diversos que possibilitam ao estudante explorar qual é a sua verdadeira vocação. No entanto, prover opções de escolha para os alunos é caro. Como os recursos são limitados, as escolas nem sempre possuem a infraestrutura, o capital e os professores preparados para oferecer várias opções de itinerários.

Por este motivo, veremos elas se especializando ao longo da próxima década. Algumas escolas vão focar mais na área de exatas e criar itinerários de matemática e ciências da natureza. Outras vão direcionar seus esforços nas ciências sociais e na comunicação, por exemplo. Deste modo, os alunos poderão escolher, tanto na rede pública quanto na privada, quais escolas possuem os roteiros que mais atendem a seus desejos vocacionais.

Ensino à distância já no ensino médio

Outra mudança importante: agora é permitido que até 20% da carga horária do novo ensino médio seja oferecida na modalidade online. Enquanto isso, ele acaba por gerar um aumento de, no mínimo, 25% de custos com professores para as instituições. É natural, portanto, que elas busquem maneiras de reduzir tais despesas e o ensino a distância é um dos principais recursos para isso. Sendo assim, aposto na popularização do EAD nas escolas de ensino médio. A empresa que fundei em agosto do ano passado, a Ice Play, está crescendo exatamente por essa oportunidade.

O ensino técnico volta com força

A chamada educação vocacional e técnica (VTE, na sigla em inglês) será fortalecida com o novo modelo principalmente porque, nos últimos anos, houve o enfraquecimento do diploma superior no Brasil. Os índices de empregabilidade de cursos superiores caíram e, como resposta, surgiram diversas empresas focadas em formações voltadas para a empregabilidade. Alguns exemplos são a Trybe, que ensina programação e a Galena, que busca empregabilidade para jovens formados no ensino médio.

Além disso, o nosso país tem grande margem para tal crescimento, pois está muito atrás quando se trata do ensino técnico aplicado juntamente com o médio. Hoje, apenas 11% dos alunos brasileiros vivenciam essa oportunidade. Nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) esse número é de 42%, em média. Também estamos atrás dos nossos vizinhos latinos: 27% dos estudantes colombianos e 35% dos mexicanos passam pelo ensino médio concomitante com um curso técnico.

Por fim, o novo Enem bonificará estudantes que tenham cursado o ensino técnico. O que só reforça a previsão, uma vez que tal bonificação será um grande diferencial para estudantes que desejam ingressar em uma universidade pública por meio do Sisu. Aposto que o curso técnico concomitante com o médio será fortalecido e triplicará ao longo da próxima década.

Inteligência artificial no Enem

É provável que muito em breve a etapa de correções das provas do Enem precisará de auxílio tecnológico. Isso porque, o novo Enem tem como proposta trazer questões discursivas para a prova. Ainda não se sabe ao certo quantas serão introduzidas neste formato, mas sabemos que será preciso garantir a agilidade no processo. Por isso, me alinho com outros especialistas e prevejo que uma inteligência artificial pode ser utilizada para a apuração das questões discursivas. Sendo assim, a previsão é que, não só as questões discursivas, mas também a redação serão corrigidas por inteligência artificial nos próximos dez anos.

Expansão das escolas low cost

Espero uma expansão das escolas de ensino médio de baixo custo (low cost, ou low fee) que poderão ocupar os espaços ociosos das faculdades particulares. Isso porque, a pandemia de covid-19 acelerou a transição do ensino superior presencial para o EAD. Tanto que, em 2021, as faculdades particulares registraram uma queda de 8,9% nas inscrições para a modalidade presencial e um aumento de 9,8% entre os estudantes matriculados em cursos realizados por meio da educação à distância, segundo dados do Semesp (2021).

Tal movimento gerou grande número de espaços ociosos nos campi das faculdades particulares. São unidades que possuem excelente infraestrutura como laboratórios completos, equipamentos audiovisuais e salas de informática. E já existem escolas que estão começando a ocupar estes espaços com aulas do ensino médio.

Veremos a ampliação das escolas low cost também em termos de matrículas. Atualmente, cerca de 83% dos estudantes de ensino médio são da rede pública e apenas 17% da rede privada. Embora muitas famílias não consigam investir R$ 1,2 mil por mês para ter seu filho em uma escola de ensino médio, elas poderiam pagar entre R$ 500 e R$ 600 por mês no caso de uma instituição low cost.

*Gabriel Gonçalves é professor e CEO da edtech ICE Play

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