Segundo debatedores, o ser humano só aprende a se relacionar compartilhando momentos com outras pessoas (Carol Yepes/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 5 de maio de 2021 às 20h37.
Última atualização em 5 de maio de 2021 às 21h15.
A escola como a conhecemos, do ponto de vista físico, vai continuar existindo por mais 500 anos, porque o ser humano só aprende a se relacionar trocando experiências com outros seres humanos. Mas, a transformação digital, acelerada pela pandemia, antecipou a capacidade da escola de personalizar o aprendizado de cada aluno, tornou possível em meses, resultados que eram esperados para a próxima década e não voltaremos atrás.
Essa é a avaliação dos especialistas que participaram do webinar Ensino básico e edtechs: apostas do mercado de educação, realizada hoje, 5, na Bússola.
Participaram do evento André Aguiar, fundador e CEO da Inspira Rede de Educadores; Mario Ghio, diretor-presidente da Somos Educação; e Marco Fisbhen, fundador e CEO do Descomplica. A moderação foi do jornalista Rafael Lisbôa, diretor da Bússola.
Em debate, a transformação que atinge a educação básica brasileira, setor que movimenta R$ 80 bilhões e que passa por um momento de fusões e aquisições lideradas por grandes grupos de ensino que prometem gestão personalizada, adoção de plataformas tecnológicas, atualização permanente de processos e altos investimentos em inovações técnicas e operacionais.
Aliado a esse cenário revolucionário há uma transformação social que atinge em cheio a educação privada e a família. Pais e familiares desejam oferecer aos filhos produtos mais sofisticados como cursos para alcançar a fluência no inglês, para aprender robótica ou programação, e a escola sozinha, sem apoio de grandes grupos, raramente consegue atender essa demanda.
“A educação básica tem atraído interesse de investidores mundo afora. É um setor enorme e muito resiliente. Mesmo com uma crise aguda, as escolas continuam de pé. É um setor de longo prazo, que atrai o aluno por 15, 16 anos. Além de tudo, é uma prioridade da família", diz André Aguiar, fundador e CEO da Inspira Rede de Educadores.
Aguiar afirma ainda, que, por se tratar de um segmento muito pulverizado, em que educadores e empreendedores atuam praticamente sozinhos, há espaço e necessidade de consolidar investimentos contínuos em tecnologia, infraestrutura, formação de pessoas, o que considera saudável para as escolas e para as famílias.
Para o executivo, o que vem atraindo escolas para a rede Inspira é o fato de conservar a tradição, mas, acima de tudo, de manter seu DNA. “Preservamos o legado porque acreditamos que o grande ativo de uma escola é a reputação.”
Presente em 13 estados brasileiros, a meta da Rede de Educadores é atuar em todo o Brasil. Em 2018, criou a Plataforma A+, unidade de negócios para desenvolver ferramentas para unir tecnologia e conteúdo, com o objetivo de aumentar o engajamento. A ferramenta possibilita conhecer melhor o aluno e gerar relatórios para que o corpo técnico atue.
A proposta da Plataforma A+ vai ao encontro do que oferece o Descomplica, edtech que recebeu aporte de R$ 450 milhões do Softbank e do Invus Opportunities, maior valor já levantado por uma startup de educação na América Latina.
Mesmo sendo totalmente digital, cumpre um papel de tornar os estudantes mais próximos, afirma Marco Fisbhen, fundador e CEO do Descomplica. “Mais que a transmissão do conteúdo, procuramos oferecer apoio psicológico para garantir a saúde mental, atividades físicas, porque o que os estudantes mais precisam é estar juntos, mesmo em tempos de distanciamento social.”
Para Mario Ghio, diretor-presidente da Somos Educação, a pandemia também acelerou a necessidade de a escola ser mais eficiente na gestão de recursos. O executivo considera fundamental estar atento a iniciativas que tornem a escola mais organizada e lucrativa.
Ao mesmo tempo, reconhece que a revolução que atinge o ensino tem menos a ver com tecnologia e mais a ver com uma gestão de informações. “Por mais incrível que pareça, hoje eu sei se o aluno esteve ou não em aula, se assistiu um vídeo resolução, ou acionou seu tutor.”
Segundo Ghio, a ideia é que a informação personalizada permita que o professor possa gerir o processo de aprendizado de cada aluno.
“Cada aluno é único na escola, só que no mundo analógico, cumprir essa promessa é muito difícil. É fato que as escolas conhecem muito bem os alunos que vão muito mal, porque se mobilizam para ajudá-lo e aqueles que vão muito bem, porque são sempre elogiados. O aluno de desempenho intermediário pode se tornar um desconhecido. No mundo digital isso é absolutamente impossível. As ferramentas de aprendizagem adaptativas apoiam esse aluno.”
Ele diz ainda que a escola como conhecemos deve ser mantida, porque, "o ser humano só aprende a se relacionar compartilhando momentos com outras pessoas".
Na visão de Fisbhen, a receita para uma educação de qualidade na era digital é aliar tecnologia e visão pedagógica.
“Aí temos um casamento perfeito. Somos uma instituição de ensino 100% digital, que já nasceu 100% digital e, quando o assunto é educação, tudo começa com a pedagogia. Os desafios são gigantes: currículos flexíveis, atividades de contraturno, capacidade de ajudar os gestores na gestão e otimização escolar. Mais que isso: melhorar a taxa de penetração baixíssima no ensino superior,” afirma.
Para Fisbhen, é papel das instituições atuar para que essas realidades sejam transformadas engajando o aluno, alimentando ainda mais o papel do professor como protagonista das ações dentro e fora da sala de aula e empoderando o estudante, conhecendo profundamente quem ele é. “O futuro vai passar por diversidade, por respeito à diversidade, à pluralidade que temos no corpo estudantil. É preciso entender quem o aluno é por completo.”
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