Processo de recrutamento precisa de um olhar especializado para ser assertivo (divulgação/Divulgação)
Bússola
Publicado em 7 de junho de 2022 às 17h30.
Última atualização em 7 de junho de 2022 às 18h10.
Sou mulher, negra, morando fora do país onde nasci e, agora, grávida. Se estivesse no mercado de trabalho, buscando novas oportunidades para me recolocar, provavelmente todas essas condições diminuiriam muito minhas chances de receber o tão desejado “sim” (ou “yes”, “oui”, “sí”, “ja”). Felizmente, a maioria das empresas já está se movimentando para que essa realidade seja transformada. No entanto, se movimentar não significa entregar a melhor coreografia dentro da dança das cadeiras que é a área de recrutamento.
O desemprego caiu cerca de 4% em março de 2022, mas é necessário olhar esse índice mais de perto: as empresas estão contratando mais, mas será que estão contratando melhor? Há décadas, pesquisas indicam que é muito mais vantajoso para as empresas, em termos de tempo e recurso, fazer uma boa contratação e reter colaboradores do que investir em várias contratações para a mesma posição, aumentando a rotatividade da área e a insegurança do time como um todo.
Como líder de recrutamento nas empresas das quais fiz parte, aprendi a olhar a contratação de novos colaboradores como um fluxo contínuo, que é capaz de gerar engajamento, trazer vitalidade para o time já existente e, claro, mudar a vida das pessoas. Ao buscar novos colaboradores para determinada empresa, as habilidades técnicas são apenas a primeira parte do funil de recrutamento no novo mercado de trabalho que se apresenta hoje. Entendi que é possível um ótimo jornalista se tornar programador: as habilidades técnicas estão aí para serem aprendidas, com tempo e dedicação.
As partes seguintes do tal funil eu considero as mais sutis, na mesma proporção em que são mais relevantes: fit cultural com a empresa, momento de carreira, motivações e desafios, habilidades intra e interpessoais e até mesmo expectativas dentro da empresa. Ainda que o cenário esteja mudando, o fantasma do desemprego atormenta os trabalhadores e trabalhadoras e muitas vezes os colocam em posições que não são capazes de desenvolver todo seu potencial e fazê-los crescer.
É importante que a empresa e o colaborador estejam cientes que o acordo de trabalho, quando uma contratação é fechada, vale para os dois lados: existem expectativas para ambos que precisam ser balizadas e minimamente cumpridas ao longo do relacionamento.
Trago toda essa reflexão para voltar ao ponto inicial: o processo de recrutamento é contínuo e precisa de um olhar especializado para ser o mais assertivo possível. Não adianta ter uma dúzia de etapas desafiadoras e cansativas se nenhuma delas aborda o que de fato gera o match entre candidato e empresa. Não funciona usar das ferramentas mais tecnológicas ou dos melhores softwares e técnicas de seleção se, durante o processo de recrutamento, a empresa não gera a motivação e o brilho nos olhos que tanto se espera dos novos colaboradores. A contratação provavelmente irá falhar se o tempo para fechar a vaga for mais importante do que de fato buscar pessoas diversas, que contribuam para o crescimento criativo e sólido da empresa.
A própria área de talent acquisition precisa ser valorizada. Se as redes sociais, principalmente o LinkedIn, são a porta de entrada da lista VIP das empresas, as pessoas que trabalham na área de recrutamento e seleção de talentos são os hosts que vão acompanhar os candidatos até o camarote e oferecer ali o melhor que as marcas têm para entregar aos talentos. Por isso, para que a contratação seja eficaz, é necessário que a área de talent acquisition esteja preparada, empoderada e, acima de tudo, bem orientada à cultura e ao propósito da empresa. O ciclo de vida da contratação de um novo talento não se encerra na assinatura do contrato de trabalho; pelo contrário, é só o começo do processo que é o período entre o primeiro contato do candidato com a vaga e a saída do status de “novo da empresa” para embaixador do propósito da companhia.
Tudo começa no momento do recrutamento: as expectativas criadas, a esperança, a realização de sonhos profissionais e pessoais, o autoconhecimento, mas também o alinhamento de expectativas, as primeiras frustrações, a adaptabilidade e as condições para que a posição seja preenchida. Não podemos esquecer que a grande maioria das pessoas busca um emprego por causa da remuneração, mas o que mantém os talentos na empresa vai muito além disso: motivação, oportunidade de crescimento, liderança inspiradora e reconhecimento são tão importantes quanto promoções e aumentos de salário.
Se eu puder dar um conselho para quem está recrutando ou sendo recrutado, pense neste compromisso como um relacionamento amoroso: para dizer o “sim” que vai dar início ao casamento (seja no altar, seja na decisão de morar junto ou adotar um pet), é muito importante conhecer a família, conversar sobre sonhos, sobre relacionamentos passados, alinhar expectativas (inclusive financeiras), ser transparente, comunicar suas necessidades e desejos, estar motivado e topar embarcar em uma nova relação sabendo que haverá desafios, frustrações, aprendizados e fracassos. Mas, ao estabelecer uma relação de confiança, a parceria permanece na saúde e na doença, até que a próxima seleção os separe.
Nathalya Nascimento é cofundadora da Anywhere Recruiting
Siga a Bússola nas redes: Instagram | Linkedin | Twitter | Facebook | Youtube
Veja também CMIO? Quem é o novo profissional que vai liderar tecnologia nos hospitais
E se você pudesse alterar a sua idade? Um holandês tentou isso
Qual é o papel dos conselhos na implementação da diversidade?