Preto Zezé: nós, pretos, não sucumbiremos à lógica perversa que teima em nos reduzir a números trágicos (Preto Zezé/Divulgação)
Bússola
Publicado em 20 de novembro de 2021 às 11h48.
Última atualização em 22 de novembro de 2021 às 15h52.
Por Preto Zezé*
O Brasil é um país de muito risco para as pessoas pretas, que lutam diariamente para sobreviver e buscar dias melhores. Isso é fato, e todos os dados comprovam em qualquer busca rápida na internet.
É fato também que as pautas e agendas históricas por inclusão e justiça social avançaram e transbordaram para outros setores, e isso é o novo para além do que a régua do racismo tenta nos impor: que somos apenas dados trágicos e desiguais.
Do ponto de vista econômico, a população preta possui um poder de consumo de R$ 1,7 trilhão, e isso não é pouca coisa num país de dimensões continentais como o nosso.
Do ponto de vista político, a agenda de ocupação de espaços estratégicos e de inserção institucional tem se diversificado, apesar das limitações ainda existentes. Mas a Suprema Corte impôs aos partidos políticos a obrigação de divisão do fundo eleitoral de maneira equitativa para candidaturas pretas.
Do ponto de vista jurídico-legislativo, importante destacar duas frentes: uma capitaneada pelo Dr. André Luiz Costa, cearense, único conselheiro negro no Conselho Federal da OAB, que instituiu 30 de cotas para homens e mulheres negros nas instâncias da Ordem dos Advogados do país.
Isso nos insere de maneira significativa num mundo do direito. Que sejamos vigilantes e atentos, pois sabemos ser importante aprovar leis antirracistas, e, mais fundamental ainda, implementá-las – este último é o maior desafio na maioria das vezes.
Ainda do ponto de vista do direito e da legislação, está em andamento uma comissão qualificada, responsável por rever as leis e o marco jurídico, que tem como relator o Dr. Silvio Almeida, um dos maiores juristas e pensadores do Brasil atual.
No mundo corporativo, temos nos mais diversos ramos da produção, do mercado e das marcas, muitos se ajustando e pautando suas condutas para atender as demandas de inclusão, representatividade e ascensão de homens e mulheres pretas em seus ecossistemas.
Vale ressaltar que, durante a pandemia, as organizações de base, comandadas por lideranças negras, foram fundamentais para evitar que o país entrasse em colapso social, pois foram estas lideranças em parceria com o setor privado que tocaram uma campanha emergencial que atingiu milhões de pessoas que precisam de ajuda imediata.
É sintomático que a agenda e pautas étnico-raciais estão em outro patamar, onde as lutas travadas no passado, as batalhas de hoje, alcançam conquistas e vitórias que vão tornar o amanhã das gerações futuras menos doloroso, menos sofrido e mais potente.
O 20 de novembro de 2021, já aponta para o aumento de homens e mulheres pretas ocupando o parlamento, para o aumento do engajamento da sociedade para elaborar, cobrar e ser parte da mudança da cadeia de produção e para um mundo corporativo considerando as questões étnicas raciais.
É uma marcha que está acelerando a passos largos, provando que não sucumbiremos à lógica perversa que teima em nos reduzir a números trágicos e notícias tristes.
Existiremos, ocuparemos, mostraremos que um país mais preto é um país necessário, urgente e melhor.
Dia 20 de novembro é dia erguer o punho na rua, protestar pela liberdade completa e irrestrita e se preparar para sentar à mesa, para jogar o jogo, para dividir poder, pois somos a maioria.
Sem nós não existe Brasil.
*Preto Zezé é presidente nacional da CUFA, empresário, escritor e fundador da LIS - Laboratório de Inovação Social
Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.
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