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Precisamos falar sobre fusões e aquisições no mercado de saúde mental

A visão da saúde como um mercado ainda é um tema espinhoso, mas todos sabemos que saúde é, sim, um mercado

Investidores já estão vendo as oportunidades para a criação de grupos fortes de psiquiatria, em busca da consolidação do segmento. (ThitareeSarmkasat/Getty Images)

Investidores já estão vendo as oportunidades para a criação de grupos fortes de psiquiatria, em busca da consolidação do segmento. (ThitareeSarmkasat/Getty Images)

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Publicado em 1 de dezembro de 2021 às 15h09.

Por Fernando Kunzel*

Saúde mental é um tema extremamente em alta na atualidade. Do ponto de vista cultural, há uma abertura maior para falar sobre o tema, de modo que ansiedade, depressão, burnout, entre tantos outros problemas, já são tratados de maneira muito mais transparente e lúcida pela sociedade no geral. A abertura se dá em diversos campos, inclusive no ambiente profissional, com empresas adotando uma série de medidas preventivas nesse sentido.

Por outro lado, a visão da saúde como um mercado ainda é um tema espinhoso, mas todos sabemos que saúde é, sim, um mercado: gera despesa, receita, precisa de profissionais, insumos, equipamentos. Movimenta dinheiro. E saúde mental faz parte disso, com o acréscimo de que essa especialidade carrega consigo traumas históricos provenientes do descaso e da negligência. Exatamente por isso é preciso falar de maneira direta e sem rodeios sobre a profissionalização do setor de saúde mental e isso envolve fusões e aquisições.

O setor de Saúde no Brasil é um dos mais resilientes em meio a crises e mais aquecido em M&A atualmente. Em contrapartida, o segmento de Saúde Mental, apesar de cada vez mais demandado, não acompanha esse crescimento. Esta área, voltada para o cuidado da mente, sofre com um tabu enraizado, que se estende também para o mercado.

O estigma é uma herança do próprio tratamento psiquiátrico, que há poucas décadas tendia a isolar o paciente da sociedade. Até a década de 1980, era comum encontrar hospitais que se assemelhavam a presídios, fazendo uso de solitárias e tratamentos de choque. Assim, ainda é frequente encontrar uma postura hostil em relação à especialidade e à própria condição do sofrimento mental, principalmente entre gerações mais velhas.

Enquanto isso, a medicina psiquiátrica evoluiu muito. Embora haja pouco investimento do governo no setor e hospitais privados que continuam recorrendo a tratamentos ultrapassados, hoje os hospitais psiquiátricos de referência têm um entendimento inclusivo, que busca aumentar as chances de reintegração do paciente. Estas instituições estão lutando para que o tratamento de qualidade, tanto de doenças mentais quanto de dependência química, seja reconhecido e enxergado de outra forma.

E não são poucos os ganhos dessa mudança de paradigma, já que o tratamento previne agravamento e somatização de outras doenças. Algumas operadoras de saúde também já entenderam a urgência do assunto. A Amil, uma das maiores do país, tem investido massivamente em campanhas de conscientização que reforçam a importância do cuidado com a mente. Desde 2018, a empresa oferece um programa exclusivo de saúde mental, que registrou um aumento de 50% nos atendimentos após a pandemia.

No Brasil e no mundo, o recente crescimento da demanda também é notório. Segundo uma recente pesquisa publicada no periódico científico The Lancet, foram registrados 53 milhões de novos casos de depressão e 76 milhões de ansiedade em 2020. Superar o tabu que ronda o assunto é imprescindível e representa um grande passo no tratamento e prevenção de doenças, até mesmo de suicídios. Investir na profissionalização deste mercado significa oferecer às pessoas um tratamento adequado e, em casos mais graves, a possibilidade de uma reintegração à sociedade muito mais rápida.

O tema, que tem ganhado visibilidade, é cada vez mais considerado como um caminho para a qualidade de vida. No mercado, investidores já estão vendo as oportunidades para a criação de grupos fortes de psiquiatria, em busca da consolidação do segmento. Nos Estados Unidos, onde isso já é uma realidade, existem hospitais psiquiátricos com capital em bolsa. No Brasil, é ainda um oceano azul, que certamente será explorado nos próximos anos rumo à consolidação e ao avanço dos benefícios da psiquiatria no país.

*Fernando Kunzel é economista e sócio-fundador na L6 Capital Partners, boutique de investimentos e consultoria independente focada em três áreas de serviço: assessoria em Fusões e Aquisições (M&A), Crédito/Produtos Estruturados e Gestão Empresarial

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