(Ricardo Beliel/Brazil Photos/LightRocket/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 10 de maio de 2021 às 17h22.
Por Bússola
A segurança energética do Brasil pode ter um reforço de peso com a cogeração a gás natural. Estimativas da Associação da Indústria de Cogeração de Energia (Cogen) indicam que o potencial de adição de energia pode chegar a 7,2 GW, o que equivale a meia Itaipu Binacional, segunda maior hidrelétrica do mundo, com 14 GW de capacidade instalada.
Segundo a Cogen, o uso do gás em aproximadamente 5.500 empreendimentos poderia triplicar o uso da fonte, que hoje está em 3,2 GW. Os projetos poderiam adicionar ainda uma capacidade térmica equivalente a 17,9 GW.
Um dos principais destinos dessa fonte pode ser o setor hospitalar. É o que aponta um estudo feito pela Cogen em parceria com a Promon Engenharia. “O setor é o que tem mais potencial de uso de gás natural em cogeração depois da indústria química”, diz o presidente executivo da Cogen, Newton Duarte.
“A cogeração em hospitais no Brasil possui uma capacidade de apenas 0,02 MW instalados, enquanto a capacidade instalada no Japão ultrapassa 350 MW."
Entre os exemplos mais bem-sucedidos estão o hospital de Piacenza, na Itália, com uma cogeração de 12 MW para o suprimento de 4.000 leitos; e o centro médico da Universidade de Massachusetts (EUA), com um suprimento de 7,5 MW para 2.500 leitos. "Além da autoprodução, eles ainda poderiam exportar o excedente para o grid, ou seja, poderiam ceder a energia excedente para o fornecedor de energia elétrica, obtendo um crédito, o que acelera o payback do investimento", afirma.
Exemplo
De acordo com o presidente da Cogen, a pandemia aguçou ainda mais a percepção sobre a importância da confiabilidade do atendimento de energia das utilidades básicas dos hospitais.
“As falhas no fornecimento de energia elétrica e de climatização em hospitais são inaceitáveis, sobretudo no centro cirúrgico e nas unidades de Terapia Intensiva. Em qualquer lugar do mundo, eletricidade, calor e ar-condicionado são fundamentais para seu correto funcionamento. A presença do gás natural, por ser uma fonte ininterrupta, pode dotar nosso sistema hospitalar de uma das formas mais eficientes e confiáveis de produção de energia”, diz Duarte.
Fortalecer o sistema foi um dos pontos relevantes que levaram o Hospital 9 de Julho, em São Paulo, a adotar um sistema de climatização a gás natural, segundo o gerente de projetos e obras do hospital, Alexandre Oliveira. Realizado em parceria com a Comgás, distribuidora em São Paulo, o projeto preencheu dois requisitos: a adoção de um sistema redundante (segunda opção de fornecimento de energia) e o atendimento às exigências de eficiência energética.
“Desta forma realizamos recuperação do calor dos equipamentos e utilizamos no sistema de aquecimento de água para banho. Atrelado a isso, a tarifa do gás para cogeração é melhor do que a tarifa de gás para uso comum”, diz. A redução de ruídos dos equipamentos, evitando as reclamações dos prédios vizinhos, foi outro ganho do Hospital 9 de Julho.
Abertura do mercado
De acordo com dados da Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás), a cogeração no país consumiu, em média, um total de 2,39 milhões de metros cúbicos/dia em 2020, com 113 clientes qualificados.
Para o presidente executivo da Abegás, Augusto Salomon, o aumento da concorrência na oferta da molécula de gás (preço do gás que sai dos poços, antes que sejam agregados os valores dos serviço de transporte e distribuição, além dos impostos, que constituem a tarifa) pode ser um fator de crescimento – o fornecimento ainda está praticamente concentrado em um único supridor.
"Com mais concorrência na oferta, a molécula poderá chegar ao mercado em bases mais competitivas, o que tornará a cogeração uma alternativa mais atrativa para hospitais, prédios corporativos e centros comerciais. Além disso, a cogeração também é uma solução que contribui para mitigar a atual crise hídrica, que pode se agravar nos próximos meses”, destaca Salomon.
Segundo o gerente de Geração Distribuída (GD) da Comgás, Ronaldo Andreos, o mercado tem sido receptivo. “Nossa expectativa é continuar expandindo as soluções de geração distribuída, nas partes de geração, refrigeração e cogeração”, declara.
A distribuidora, com mais de 2,1 milhões de clientes, tem ampliado os negócios nesse segmento. “Em 2019, fechamos 24 contratos. Em 2020, apesar da pandemia e da postergação de alguns projetos dos clientes, conseguimos fechar 28 projetos”, diz.
Entre os clientes de cogeração estão Albert Einstein, São Camilo (São Paulo) e o Complexo Hospitalar dos Estivadores (Santos).
Diversificação da matriz
Na análise do gerente, a diversificação da matriz energética e segurança de fornecimento são as principais razões que levam os clientes a buscar uma cogeração a gás natural. “A rede elétrica é bastante suscetível a quedas, e a distribuição de gás natural é subterrânea e, portanto, menos sujeita a intempéries. E a diversificação traz maior independência. Os clientes estão entendendo que, além do gás natural ser mais seguro, produzir sua própria energia os deixam mais independentes da concessionária de energia elétrica.”
Outro benefício é ambiental. “O gás é menos poluente que o diesel”, compara Andreos. A segurança operacional também conta pontos. “Com o gás natural, não precisa ter tanque de diesel no empreendimento – o que diminui o custo do seguro, de ações trabalhistas pelo nível de periculosidade – e não há necessidade de logística de abastecimento, já que o fornecimento é contínuo.”
As tecnologias de geração distribuída a gás já são amplamente disponíveis no país, com marcas conhecidas como GE e Carterpillar (geração) e LG e Panasonic (climatização), entre outras.
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