Gestão-de-pessoas (Klaus Vedfelt/Getty Images)
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Publicado em 20 de outubro de 2023 às 07h00.
Por Marcelo de Sá *
Quando você está na direção de um automóvel e decide mudar de faixa, pegar um retorno ou acessar uma nova rodovia é preciso, basicamente, que se saiba para onde está indo. Mas se estamos no volante de uma empresa é necessário mais do que saber a rota seguir; é essencial ter força de vontade, coragem e alguma dose de humildade para atacar vulnerabilidades.
Na vida pessoal, um exemplo clássico vem com aquela olhada no espelho. A forma física não é a ideal? Entre a constatação e aumentar sua frequência de exercícios e reduzir a ingestão de alimentos calóricos muitos enfrentam uma queda de braço consigo mesmo.
No ambiente empresarial, o senso comum reza que em time vencedor não se mexe. Até que surge uma necessidade latente, impulsionada por uma novidade de algum concorrente ou até mesmo uma disrupção. Não raro, essa consciência chega em um momento tal que mudar fica traumático.
Se você precisar pegar outra estrada e deixar para mudar de faixa de rolamento na última hora, terá de frear e até fazer uma manobra arriscada que, em termos empresariais, pode significar prejuízo, perda de mercado, até demissões. Então, mudar é preciso, mas como? Quando?
No mundo dos negócios, quem consegue lidar bem com mudanças costuma ter na organização um ingrediente decisivo: resiliência.
Isso costuma florescer em organizações com cultura coesa, mentalidade que facilita a agilidade, em que líderes possuem a própria e incentivam a segurança psicológica no comando de times colaborativos e flexíveis. Elas não apenas estão bem preparadas para encarar a necessidade de mudar, como também costumam dar um salto qualitativo quando a transformação ocorre.
Pesquisa da McKinsey mostra que líderes que conseguem absorver os choques da mudança e trabalham com suas equipes para transformar desafios em oportunidades alcançam mais rapidamente um crescimento sustentável e inclusivo. Ao contrário do fenômeno da física, não volta à forma anterior, mas a coesão persiste.
Cultivar a resiliência organizacional e trabalhar o gerenciamento da mudança não é corriqueiro, sobretudo quando a mudança se impõe por circunstâncias externas, fora do controle de um planejamento tradicional. São interferências como uma retração econômica até a dificuldade em encontrar talentos numa época em que termos como saúde mental e burnout foram incorporados ao vocabulário corporativo.
O mundo atual exige reengenharias rápidas e contínuas. O capitão de um navio adoraria ter os melhores instrumentos para enfrentar a tempestade. Trabalhar a resiliência emerge como condição indispensável para assegurar uma navegação o mais segura possível dentro das circunstâncias.
E quem presta atenção nas "previsões meteorológicas" sabe que as incertezas que impactam o mundo do trabalho devem aumentar nos próximos anos, pressionando as equipes. Como líderes, a nossa missão é, de posse desse mapa, pensar no longo prazo, evitando soluções apressadas, mas sempre realistas.
Estudos recentes mostram que empresas que cultivam a resiliência poderão obter uma vantagem importante e duradoura sobre os concorrentes.
Pela minha experiência com gestão ao longo das últimas décadas, para que as empresas estejam prontas para os novos tempos, a liderança deve atuar junto ao time para:
Decisões precisam ser tomadas rápido, mas sempre baseadas em dados, visando resultados “suficientemente bons” porque o “ótimo” costuma ser lento e caro. Operações mais fáceis podem ser testadas como aprendizado e ajustadas à complexidade do desafio, mas com a roda girando.
Equipes acostumadas a assumir responsabilidade pelos resultados, a se sentirem capacitadas a executar planos estratégicos, mantendo-se próximas dos desafios do negócio. Quando multidisciplinares, trabalham bem juntas e, por meio de reuniões de análise ou ciclos de feedback, dispõem das informações requeridas para mudarem de rumo, sempre que indicado.
O conceito da flexibilidade no trabalho é relativamente novo, mas veio para ficar. Por isso, precisa ser trabalhado para que os profissionais reajam bem quando confrontados com movimentos externos que afetam suas atividades ou a dinâmica da equipe. Líderes precisam dedicar tempo para treinar o time e catalisar novos comportamentos.
Empresas dedicadas a atrair e reter pessoas resilientes tendem a obter melhores resultados, pois ambientes adaptáveis facilitam o crescimento sustentável.
Fazer com que, mesmo diante de demandas atravessadas, informações insuficientes e situações imperfeitas a equipe esteja confiante em agir é um trabalho que demanda habilidade e envolvimento do líder.
É preciso criar sistemas de suporte aos liderados, permitindo que se adaptem aos desafios da organização reduzindo a burocracia e promovendo a participação. Um bom exemplo são os parques da Disney. Os funcionários são “membros do elenco”, com a clara missão de criar “experiências maravilhosas para os visitantes” segundo um conjunto de parâmetros que inclui garantir a segurança e promover um ambiente familiar.
E se mesmo com capacitação, regras bem definidas, planejamento, processos conscientes, equipe madura e líderes presentes houver falhas? Faz parte! Erros são aprendizados para melhoria contínua do projeto.
Gerenciar mudanças é mais que reagir bem diante de crises ou pressão. Implica assimilar as lições como grupo e individualmente e encarar as disrupções como oportunidades para realizar mudanças duradouras e substanciais.
Olhando para os times que gerencio e observando toda a evolução que tivemos nos últimos tempos, fico animado ao ver os resultados de uma gestão resiliente, estruturada e estratégica.
Marcelo de Sá é CFO do Grupo Petrópolis, fabricante das marcas de cerveja Itaipava, Petra, Black Princess, Cacildis, Crystal, Lokal e Weltenburger Kloster, do refrigerante it!, do energético TNT e da água mineral Petra.
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