Potência do relato de Anne Frank é marcante ainda hoje para a luta contra qualquer forma de totalitarismo no planeta (Bettmann/Getty Images)
Bússola
Publicado em 13 de novembro de 2021 às 09h00.
Por Danilo Vicente*
Esta semana revi Escritores da Liberdade, com Hilary Swank. Um bom filme, lançado há quase 15 anos. O melhor momento da obra é quando entra em cena Miep Gies. E não é uma personagem. A real Miep Gies visita a ficção, convidada pela professora interpretada por Hilary para conversar com seus alunos (os “escritores da liberdade”).
Para quem não está ligando o nome à pessoa: Miep foi uma das duas mulheres que mantiveram vivas a adolescente Anne Frank e sua família, além dos quatro outros escondidos no chamado “Anexo Secreto” (os três membros da família Van Pels e o dentista Fritz Pfeffer). Neste Anexo, nos fundos do prédio que abrigava a empresa de Otto Frank, pai de Anne, oito pessoas ficaram trancadas por dois anos.
Miep (que morreu aos cem anos em 2010) e Bep Voskuijl, ambas secretárias de Otto, por todo o período de horror levavam mantimentos aos oito. E foi Miep quem tomou a iniciativa, em novembro de 1942, de incluir o dentista Fritz no Anexo, em busca de salvar sua vida.
Em 4 de agosto de 1944, os moradores do esconderijo foram descobertos e, depois, levados para o campo de concentração de Auschwitz, na Polônia. É a memória deste dia que Miep aborda no filme.
Em Escritores da Liberdade, os estudantes evoluem, educacional e pessoalmente, quando escrevem um diário, em técnica usada pela professora. Aliás, o filme é baseado na experiência real da educadora Erin Gruwell. E fica evidente a importância do Diário de Anne Frank, o registro adolescente mais famoso dos nossos tempos, para os alunos.
Hoje em dia, não me parece comum haver diários, mesmo porque há formas mais modernas de registrar o cotidiano. Os diários viraram blogs, que se transformaram em vlogs, que foram suplantados pelas redes sociais, na maioria dos casos. E Facebook, Instagram, Twitter e companhia perderam aos poucos o caráter de relato pessoal sobre determinado momento.
Quem se lembra que o Twitter trazia até a pergunta “O que você está fazendo?”? Isso já é passado, assim como o hábito de escrever diários.
Estou longe de ser saudosista. Temos muitas outras formas de relatar algo, e quem quiser escrever um diário é só digitar no celular. Mas está aí uma boa oportunidade. Escrever faz bem, seja para estudantes, seja para quem busca uma escapatória do terror, seja para quem deseja homenagear Miep Gies.
E pode mudar o mundo.
A experiência com seus alunos fez a professora Erin Gruwell criar a ONG Freedom Writters (Escritores da Liberdade, em português), que auxilia educadores a empoderar estudantes. A potência do relato de Anne Frank é marcante ainda hoje para a luta contra qualquer forma de totalitarismo no planeta. E a lembrança da bondade de Miep Gies continua ecoando quase 80 anos depois.
*Danilo Vicente é sócio-diretor da Loures Comunicação
Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.
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