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PLAY: O grande Lebowski e a aula sobre o nada

Personagem icônico de Jeff Bridges, ator que completa 72 anos neste sábado, 4 de dezembro, é adorado ao redor do mundo

Personagem icônico de Jeff Bridges, ator que completa 72 anos neste sábado, 4 de dezembro, é adorado ao redor do mundo (Reprodução/Reprodução)

Personagem icônico de Jeff Bridges, ator que completa 72 anos neste sábado, 4 de dezembro, é adorado ao redor do mundo (Reprodução/Reprodução)

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Publicado em 4 de dezembro de 2021 às 13h57.

Por Danilo Vicente*

The Dude, ou O Cara em português, é um ex-ativista político que não trabalha, e se diverte diariamente com boliche e um par de amigos, em meio a doses do drink White Russian. Vinte e três anos atrás, Jeff Bridges, que neste sábado, 4 de dezembro completa 72 anos, dava vida a seu icônico personagem de O Grande Lebowski.

Bridges venceu o Oscar de melhor ator por Coração Louco, em 2010. Mas foi seu personagem Jeffrey Lebowski, que gosta de ser chamado de The Dude, o responsável por angariar milhões de fãs pelo planeta. Mesmo tendo uma bilheteria fraca e recebido basicamente críticas frias, o filme dos irmãos Ethan e Joel Cohen se transformou em um fenômeno, virou cult.

Há uma seita sobre Lebowski — o Dudaísmo — que reúne cerca de 600 mil adeptos no mundo. “Uma filosofia antiga que prega a não pregação, pratica o menos possível e, acima de tudo, uh ... perdi minha linha de pensamento aí”, resume a introdução no site da “religião”.

É essa a chave do sucesso de O Grande Lebowski.

O personagem é um adulto relutante em crescer, em ter responsabilidades. Ele odeia falar de dinheiro, pagar contas ou tratar de burocracia. Precisa de dólares, mas nem por isso pensa em trabalhar.

Ser como Lebowski é o sonho de consumo para muitos que, ajuizados, não concretizam. Entretanto, sonham com a possibilidade. É “coisa de cinema” se dar bem com o jeito vagabundo do personagem — pelo menos, na maioria dos casos. Porém, é isso que cativa.

Além do Dudaísmo, há festas ao redor do planeta que reúnem anualmente milhares de fãs. Nos Estados Unidos, em Portugal... e por aí vai. Em São Paulo chegou a existir o bar temático Lebowski. Na Islândia, ainda existe.

Essa legião de fãs se reúne para vangloriar o fazer nada, a zero responsabilidade, o aproveitar o momento. E anseiam por uma continuação no cinema.

“Se os irmãos me chamarem, eu vou”, afirmou Bridges em outubro de 2017, próximo ao aniversário de 20 anos do filme. Não chamaram. Os Cohen não querem uma segunda etapa.

Já foi aventado um spin off com o personagem Jesús Quintana, interpretado por John Turturro, o mestre do boliche adversário de Lebowski. Mas a ideia parou.

Lebowski é como Seinfeld, o seriado que se intitulava “o show sobre o nada” (estou revendo todas as temporadas, agora disponíveis na Netflix). Porém, aborda um nada consciente.

Se Seinfeld não definia um tema a ser explorado, trazendo à tela uma sequência sem objetivo maior, Lebowski é produtor de nada (se isso existir).

Tanto Lebowski quanto Seinfeld são uma aula sobre o nada. E isso é um elogio.

Obs.: Jeff Bridges anunciou em setembro a remissão de seu câncer, um linfoma, após se dedicar a tratamento. Está firme na campanha de sua ONG No Kid Hungry, que incentiva projetos de alimentação para crianças sem o que comer nos Estados Unidos (especialmente no verão, quando as escolas estão fechadas). E se prepara para retomar as filmagens da série “The Old Man”. É o tudo, a mão na massa, o agir. Completamente o oposto de Lebowski. É a vida real.

*Danilo Vicente é sócio-diretor da Loures Comunicação

Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.

 

 

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